Janeiro_2005 - page 88

Mesa-
Redonda
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REV I STA DA ESPM–
J A N E I RO
/
F E V E R E I RO
D E
2005
FERREIRINHA
–Háumquestiona-
mento; hoje, no segmento de luxo,
isso é real.Nas conferências interna-
cionais questiona-se, o tempo todo–
até onde vai e o quantomais é per-
mitido?Porqueamassificaçãoé real.
Quanto à pergunta do J. Roberto
sobreadiferençaentreaRollsRoyce
eumaVuitton, em termosdemarca,
nenhuma, porque a Vuitton é, de
fato, mais poderosa que a Rolls
Royce em termos demarca. Agora,
porqueela temprodutosdeUS$50?
Porque deixou de ser uma marca
inacessível;passoua serumamarca
intermediária, e gera acessibilidade
porque temativodemarca suficien-
te para isso.
JR
– A Ferrari, aqui em São Paulo,
vende um boné por R$ 40. Eviden-
temente que não é um bonémarca
Ferrari,maséumprodutocomercia-
lizado sob licença da Ferrari.
MAURO
– Mas quem dirige uma
Ferrari nãovai querer usar umboné
Ferrari.
JR
– Não. Quem usa são os torce-
dores que ficam na arquibancada,
durante o grande prêmio...
ISMAEL
–Mas essas pessoas com-
pram esses produtos exatamente
porque existe uma Ferrari que custa
US$ 400mil. Isso é que cria estilos.
Se a Louis Vuitton tem uma bolsa
de US$ 50 mil é porque há grupos
de consumidores de 50, 100, 200
dólares. Esses produtos são bandei-
ras, referências... É isso que gera
todoesseconsumoedá sustentação
para essas empresas.
JR
– Entãoos que estão lá em cima
– Rolls Royce, Ferrari, Patek Phi-
lippe etc. – poderiam ter produtos
aqui embaixo,mas vice-versa não.
MAURO
– Esse que é o risco. Não
sei se dá certo.
FERREIRINHA
–Concordo que é
um risco, mas necessário.
ISMAEL
–Casocontrárioessasem-
presas não sobrevivem. Elas estão
encontrandoaqui noBrasil ummer-
cado importante.
MAURO
– Acho que se deve bus-
car um direcionamento estratégico
mais inteligente do que fazer um
downgrade
da marca, fazendo
bonés... O caso da Armani. Acho
que ele foi ummaestro na constru-
ção da suamarca. Em vez de fazer
umGiorgioArmani mais acessível,
paraquemnãopodiacomprar,criou
duas marcas: Empório Armani e
Armani Exchange, que não são ne-
cessariamente degradações da
marcaArmani;mas trêsmarcas que
hoje convivem.
FERREIRINHA
–Sãooutrasmarcas
do próprio criador para atingir um
outro consumidor.
MAURO
– Esse éopulodo gato. E
édiferentede se fazer umboné, um
cintinhomais barato deArmani.
FERREIRINHA
–MasaFerrari não
faz cintinho; ela faz boné porque
vive disso, de torcida. O boné faz
parte do imaginário coletivo de
Ferrari, de Fórmula 1. O boné é um
exemplo realqueaFerrariprecisa ter.
Vamos falar deduasmarcas que são
o topo do consumo da chamada
“inacessibilidade”: Hermès e Cha-
nel. Chanel, o seu criador Karl La-
gerfeld, fezumacriaçãoparaaH&H
que vendeu em vinteminutos oque
a H&H não tinha vendido em seis
meses.
JR
–O que é H&H?
FERREIRINHA
– A concorrente
mundial da Zara – ela é duas vezes
maior do que a Zara. A Zara tem a
supremacia da marca e H&H, o
volume.
MAURO
–Mas isso não é omovi-
mento
special edition
?
FERREIRINHA
–OKarl Lagerfeld
– que estimula a inacessibilidade
da Chanel – para sobreviver, faz
uma coleção para a H&H dirigida
ao consumidor de menor poder
aquisitivo.
MAURO
– Mas não com a marca
Chanel.
FERREIRINHA
–Vamos chegar lá.
Essa é a pergunta de SuzyMenkes,
a papisa da moda mundial. Qual a
diferença da Chanel fazer bracelete
de US$ 60 para o Karl Lagerfeld?
Nenhuma.Háumnovoconsumidor,
querendo consumir bracelete.
Hermès–o topoda inacessibilidade,
que ninguém mexia – acabou de
contratar Jean Paul Gaultier, que é
um dos estilistasmais “vanguardas”
“SEUMADELASESTIVERUSANDOUM
VESTIDO IGUALAODEOUTRA,ESTOUPERDIDA.”
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