Julho_2006 - page 120

algo absoluto, ou pelomenos perma–
nente. Ohomemde100mil anosatrás
e o homem de hoje são o mesmo ser,
equipado da mesma forma..
VINÍCIUS
- Há um autor, que acho
interessante, Ben Singer: ele propõe
um conceito novo para a moderni–
dade, que, ao lado das idéias clás–
sicas, deveríamos pensar também
no que ele chama de modernidade
neurológica - um conjunto de novas
experiências sensoriais, provocado
pelas cidades modernas. Paris, Nova
York, essas grandes cidades, que
recebem fluxos enormes de popu–
lação, apito de trem, apito de bonde,
a confusão da cidade.. A moderni–
dade neurológica seria o conjunto
de hiperestímulos; não mais a mo–
dernização, mas a contemporização
dos sentidos. Quando olhamos para
certas experiências contemporâneas
e elas soam como fuga, talvez
seja apenas a nossa incapacidade
de contemporaneizar os nossos
sentidos. Já a propaganda e o seu
universo fazem isso rapidamente.
Vocês se lembram, no ano passado,
quando eu trouxe os resultados da
pesquisa sobre as narrativas fic–
cionais na internet. Eu falava ali do
uso que a publicidade começava a
fazer de certas estéticas do game
e, na época, mostrei a propaganda
da Coca-Cola se apropriando do
GTA. Só que o jogo GTA é um jogo
violento - se os pais o conhecessem
melhor, talvez encaminhassem car–
tas contra esse comercial da Coca-
Cola.. A essência do jogo GTA é
ganhar pontos cometendo infrações
morais, éticas -ou seja, você ganha
pontos atropelando, subornando,
matando.
PERCIVAL -
Mas a proposta é que a
marca, exatamente por ser a marca
heroína, vira e transforma o jogo vil
e letal em bondade.
VINÍCIUS
- É verdade, pois a cam–
panha americana chama-se G
ive a
little love.
Nos Estados Unidos, os
jogadores de GTA abandonaram o
jogo, pois se a Coca-Cola se apro–
priou dele e fez uma coisa boazinha,
eles preferiram abandonar o jogo..
Há umestudo, feitopor um casal,
na Universidade de Rochester,
que mostra que um adulto - não
precisa ser jovem - jogando
certos
games,
sua afetividade é
estimulada, ele desenvolve uma per–
cepção visual de campo de fundo, que
os não jogadores não desenvolvem.
Você pode perguntar: mas para queeu
quero essa percepção visual acurada,
que detecta, em frações de segundos,
novos estímulos? Não sei, de fato,
o que essa visualidade pode trazer,
talvez transformar aspectos da com–
petência do seu aparelho visual..
GRACIOSO
- O Vinícius disse que
tudo isso afetou a propaganda. Isso
certamente vai levá-la, cada vez
mais, a buscar o seu novo papel
num novo contexto de comuni–
cação. A cada dia surgem novas
formas de comunicar, através do
que chamamos de espetáculo, de
entretenimento ou de experiência.
O varejo pretende vender cada
vez mais, tornando-se um tipo de
game
lúdico. Isso mostra as pos–
sibilidades de surgimento de novas
arenas a cada momento. Acho essa
uma conclusão importante: não é
demérito dos publicitários, nem falta
de criatividade, mas simplesmente o
fato de que a propaganda temmuito»
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