Julho_2006 - page 115

Fala-se do shopping center como
a catedral da pós-modernidade,
símbolo do espetáculo; mas, antes,
se discutia a loja de departamento.
E o pavor moral em relação a esse
espetáculo estava lá, no século XIX,
em relação à loja de departamento
-omedo que aquilo afastasse as mu–
lheres dos seus deveres domésticos..
A verdade é que o prazer, o desejo,
são apavorantes para o ser humano.
No fundo, há o medo de encarar es–
sas questões, daí o tom negativo. É
claro que parcelas de conhecimento
sobre omundo físico, biológico, têm
uma metodologia mais organizada
do que sobre o mundo social; mas
vejo a pós-modernidade mais
como um fenômeno acadêmico
do que sociológico. Concordo com
Mike Featherstone em que, ao invés
de uma ciência social pós-moderna,
deveríamos fazer sociologia da pós-
modernidade, para tentar explicar
por que essas questões calaram
tão fundo no ambiente acadêmico;
durante um período, por exemplo,
deixou-se de fazer antropologia para
se discutir como fazer etnografia.
Essa visão da sociedade como
um texto, ou da cultura como um
texto, é específica da modernidade.
Baudrillard só decodifica sentidos,
como se não existisse uma vida real
e as pessoas seguissem, nas suas
práticas sociais, o significado que
ele atribui aos signos. Esse é outro
problema, porque quando se lê a
cultura, a sociedade como um texto,
tudo se baseia na interpretação e a
interpretação é subjetiva - e quanto
maior a capacidade interpretativa e
literária do autor, melhor parece a
sua interpretação... E, em relação à
interpretação e esse embasamento
empírico, existe uma grande di–
ferença. Frank Cochoy, francês,
que esteve recentemente na ESPM,
falou sobre o marketing americano
na visão de um francês. Ele tem um
artigo interessante, em que começa
analisando um maço de cigarro no
estilo de Baudri l lard: o louro do
fumo remete ao louro da mulher e,
assim, sucessivamente; depois, ele
remete a sua análise para as coisas
concretas que aparecem nummaço
de cigarros. Aí vê-se com clareza a
ambigüidade, essa ancoragem num
simbólico que, às vezes, émais fruto
da interpretação daquele cientista
social do que efetivamente como
as pessoas vivenciam aqui lo. A
descrição do mundo pós-moderno
por esses teóricos é profundamente
unitária, tem o mesmo sentido,
a mesma negatividade, o mesmo
desespero e a mesma perda de
sentido. Mas a busca do sentido é
intrínseca ao ser humano. Não se
admite que as pessoas possam ir ao
shopping que não seja para expor o
self
nas passarelas. Ninguém vai ao
shopping para comprar um presente
para um amigo, ir ao banco, para
coisas banais e esteja entretido com
suas questões subjetivas e não seja
engolfado por aquele cenário de
espetáculo.
VINÍCIUS
- Acho que o Pondé e a
Lívia sugeriram idéias interessantes.
Talvez não devamos perder de vista
a pós-modernidade como quebra das
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