Mesa-
Redonda
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R E V I S T A D A E S P M –
SETEMBRO
/
OUTUBRO
DE
2007
GRACIOSO
– Vocês – mais do
que eu – acompanham de perto
esse fenômeno já impressionante
da globalização das empresas
brasileiras. Este ano, pela primeira
vez, os investimentos brasileiros
lá fora, devem superar os investi-
mentos estrangeiros aqui dentro.
Embora seja um ano muito bom,
fala-se de cerca de 30 bilhões de
dólares de fora para dentro... Essa
tendência deverá ou não man-
ter-se? Os brasileiros que se estão
aventurando no exterior parecem
estar gostando da experiência – e
ganhando dinheiro, com ânimo,
para tornarem-se cada vez mais
competitivos, mais globais? Na
verdade,durante séculos,nósculti-
vamosumcerto sentimentode infe-
rioridadeem relaçãoaosestrangei-
ros. É até curioso isso, porque
no Sul do Brasil, talvez 70% ou
80% da população descendam de
imigrantes. Praticamente todosnós
temosum
background
estrangeiro;
isso deveria fazer com que nós
nos sentíssemosmais à vontade lá
fora... Estenúmerodanossa revista
procurará retratar essas experiên-
cias e suas estratégias, para ajudar
principalmente os nossos alunos
e professores interessados nesses
temas. Cerca de 40% dos nossos
alunos de graduação falam inglês
perfeitamente. Já temosalunosaqui
fazendocursodemandarim. Então,
creio que esse deveria ser o início
da nossa discussão: como e por
queoBrasil estádespertando,neste
momento, para o exterior?
ILAN
–Noscongressosacadêmicos
internacionais de que participo
tenhoobservadoum interessepelo
Brasil, que me surpreende. Num
deles, um professor americano fez
um relato emocionado, contando
que – no Brasil – é possível parar
emumpostodegasolinaeescolher
entre colocar gasolina, álcool ou
gás no automóvel. Referências a
multinacionais latinas e brasileiras
são muito freqüentes. Como evi-
dência disso, hoje, cheguei do Rio
de Janeiro, passei em casa e tinha
chegado o último número da JIM
–
Journal of International Mana-
gement
–, que é uma das cinco
revistas mais influentes no mundo
acadêmico sobre negócios inter-
nacionais. Tratava-se de número
especial sobre multinacionais de
países emergentes. Em 1992, 8%
das multinacionais eram de países
emergentes. Em 2005, quase 30%
das multinacionais já eram de
países emergentes, portantomulti-
plicou-se por três a porcentagem.
Em92, 2%dasmultinacionais do
mundoeramdepaíses latino-ameri-
canos. Em 2005, 10%. Trata-se,
portanto, de um fenômeno clara-
mente importante na economia
mundial, que veio para ficar. A
revista analisa em profundidade
20multinacionais de países emer-
gentes, e entre elas estão Vale do
Rio Doce, Embraer, Gerdau, Ode-
brecht, Sadia e Votorantim. Acho
que isso demonstra o nível de in-
teresse que há, globalmente, sobre
as nossasmultinacionais.
FELIPE
–Paramim, aquestãode sair
para o mundo e se globalizar não
foi sóumaescolha,masumaneces-
sidade.As empresas que se acomo-
darem, quenão seprepararempara
umprocessode internacionalização
– a curto ou médio prazo – serão
compradas ou desaparecerão. Um
livro que ficou famoso –
Imagens
da organização
, deGarethMorgan
–mostrou, nos anos 90, quemuitas
empresas tinhammais forçadoque
os governos, e que os governos
poderiamacabar existindoparadar
condições às empresas para atuar
mundialmente– invertendo,de fato,
os papéis. AOdebrecht iniciou seu
processode internacionalizaçãoem
1979, comavisãodenãodepender
somente do mercado brasileiro, e
também por perceber que poderia
assim sediferenciar em relação aos
competidores. No ano passado,
praticamente 75% das receitas de
serviços vieram do exterior. Este
ano, vai cair talvez para 65%, em
funçãodaapreciaçãodoRealdiante
do Dólar e de uma retomada dos
investimentos em infra-estrutura no
Brasil.A internacionalizaçãodeuma
empresadeengenhariaeconstrução
é fundamentadaempessoas, emes-
pecial executivoscomacapacidade
de se relacionar com seus clientes,
com os governos. Não existe uma
cadeia operacional contínua, que
possaser replicadaemváriospaíses.
Mas existe umamesma filosofia de
atuação, que aOdebrechtmanteve
de 1979 a 2007 – praticamente em
todos os países da América Latina,
nos Estados Unidos, na Europa,
África – principalmente emAngola
– e agora nos Emirados Árabes. A
Odebrecht foipioneiraneste setore,
por isso, destacou-se em relação às
concorrentes. A segunda e terceira
“NOBRASILÉPOSSÍVELPARAREMUM
POSTOEESCOLHERENTREGASOLINA,
ÁLCOOLOUGÁS.”