Brasil
multinacional
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SETEMBRO
/
OUTUBRO
DE
2007 – R E V I S T A D A E S P M
aqui”.Osbrasileirosdesenvolveram
o avião de que os americanos pre-
cisavam, naquela linha.
HORÁCIO
–Para isso foi fundamen-
tal o “Deregulation Act”, assinado
pelo presidente Jimmy Carter, em
1978, que favoreceu a operação
regional. Começaram a surgir as
linhas aéreas chamadas papai-
mamãe–“mamãevendiaobilhetee
papai dirigiaoavião”, edeuorigem
às grandes empresas regionais de
hoje, onde o Bandeirantes encon-
trou um terreno fértil. Naquele ano
–1982 – já tínhamos mais de 200
Bandeirantes viajando nos Estados
Unidos.
JR
–Vamosouvir,agora,orepresentan-
te dos produtos de consumo...
MAURICIO
– Há muitos anos sou
internacional: tenho três nacionali-
dades, nenhuma brasileira e moro
aqui... É conhecida a história das
empresasquenascem internacionais
em países pequenos, como Suíça,
Japão, Finlândia... A Embraer, em-
bora num país grande, conta com
ummercado interno limitado,muito
particular, que são os aviões. Já em
termosdecosméticoseprodutosde
higiene pessoal, o Brasil é ummer-
cadomuitogrande,umdosmaiores
domundo,de fato.Nãoé,portanto,
óbvio que uma empresa brasileira,
nestegrandemercadodeconsumo,
saia doBrasil, sem ser por absoluta
necessidade. É preciso, também,
distinguir entre uma empresa que
exporta e uma empresa que se
torna internacional. Na visão do
professor João Santos – do Insead
– existem quatro: a que exporta,
a internacional, a multinacional e
a metanacional, que é a que vai
aonde o conhecimento está. Nessa
passagem, de empresa que exporta
aempresa internacional, emultina-
cional, aNatura tem história. Nem
todos sabem que há quase 30 anos
temos alguma operação lá fora.
Começou na Bolívia, onde desco-
brimosparceiros interessantes–que
ainda temos – mas não havia uma
orientação de mercado e isso não
fazia de nós internacionais oumul-
tinacionais. Foi em1999que a em-
presa decidiu que tinha chances lá
fora,mesmo crescendomuito além
doesperado,àépoca.Começamosa
ternoçãodequenossomarket share
era alto. Somos líderes demercado
de cosméticos no Brasil, o que faz,
não só necessária, mas irresistível
a saída para outros mercados. Esse
processo de internacionalização,
numaempresadebensdeconsumo,
commercadogrande,éumprocesso
razoavelmente complicado. Não é
simplesmente“vender lá fora”. Exis-
tem empresas de consumo – como
de bebidas, por exemplo – que
podem comprarmarcas locais, que
estão na prateleira e vendem bem.
É só questão de operar, porque a
marca trabalha por si mesma. Mas,
quando o produto está associado à
inovaçãodemarca,posicionamento
etc., aconstruçãodessamarcapara
entrarnomercadoé imprescindível.
Torna mais difícil a entrada nos
mercados internacionais; é aí que
os recursoshumanoscomeçamaser
vitais,começasea terumanoçãoda
diferença entre a conquista e a glo-
balização. Começamos a entender
que internacional quer dizer sair,
mas tambémentrar –edeixar quea
idaeavindadasculturasaconteçam
normalmente. Nosso processo de
exportação é antigo, mas apenas
começamos a ser internacionais.
Na verdade, hoje, temos de ser
humildes, uma empresa regional
queestánoprocesso–achoqueno
caminhocertodeuma internaciona-
lização certa – mas é um processo
longo e complexo.
ILAN
– Um dos teóricos mais res-
peitados na área de internacionali-
zaçãodeempresas–AlanRugmann
– diz que existempoucas empresas
realmente internacionais; que a
maioriadas empresas que sedizem
internacionaissãorealmenteregiona-
is.Mas tenhoumaprovocaçãopara
você: no caso da Embraer, a gente
entende que ela teve de buscar os
mercados internacionais pratica-
mente desde a nascença. No caso
da Odebrecht – depois do período
do milagre – houve também uma
sedimentação. No caso da Natura,
o suplemento especial do Valor
Econômicodehojecontaqueomer-
cado doméstico, na área de vocês,
cresceà taxade10%aoano, hádé-
cadas-uma taxa trêsouquatrovezes
maiordoqueamédiadas indústrias...
Omercadobrasileirohojeéo terceiro
domundo – acabamos de suplantar
a França – em termos de produção e
consumoemcosmético. Entãoqual é
a motivação de se internacionalizar,
para uma empresa que atua em um
mercado tãopromissor?
“HÁQUEDISTINGUIRENTREUMAEMPRESA
QUEEXPORTAEUMAEMPRESAQUESE
TORNA INTERNACIONAL.”
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