Marco_2008 - page 42

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R E V I S T A D A E S P M –
MARÇO
/
ABRIL
DE
2008
As estruturas e
George Smith
a Rocinha encontra-se perto dos
principais hotéis e temduas saídas,
permitindo um deslocamentomais
ágil em caso de deflagração de um
confronto violento. Como se não
bastasse, dispõe, segundo um dos
guias turísticos, “de uma vista de
tirar o fôlego” e apresenta “o con-
trasteentreosque têmeosquenão
têm,quepiraacabeçadosgringos”,
numa referência à proximidade da
RocinhacomGáveaeSãoConrado,
dois dos bairros com o IPTUmais
elevado do Rio de Janeiro. Mas
este contraste também se opera
dentro da própria Rocinha, cuja
heterogeneidade socioeconômica
exige dos promotores do turismo
contorções argumentativas para
acomodá-la às expectativas de
seus clientes que vêm em busca
da favela paradigmática, do lócus
privilegiado da pobreza:
“A Rocinha virou bairro, cresceu
muito... as pessoas têm ar-condi-
cionado, têm uma vida melhor.
Você vê tanto o lado pobre quanto
omaisdesenvolvido.Mas esse lado
mais desenvolvido você só tem na
Rocinha. Você não tem em outra
favela. Aquele comércio.... Então
decepciona um pouco os turistas
quando você só fica naquela área
comercial. Eles ficamachandoque
aRocinhanãoépobreo suficiente,
que não é pobre como essas ci-
dadesmiseráveisdaÁfrica. Por isso
é importante mostrar tudo, andar
pelas vielas para eles verem que
tem de tudo lá”.
De fato, existe na Rocinha um
comércio bastante diversificado
que inclui desde as pequenas bar-
racas no Largo do Boiadeiro, até
as lojas de material fotográfico e
de eletrodomésticos, passandopor
váriospontosdevendade telefones
celulares. Em todos os passeios,
chama-se atenção para o fato de
que há na favela uma agência de
correios, dois bancos, TV a cabo
– com um canal exclusivo, a TV
ROC –, rádios comunitárias e uma
casa de show.
Rocinha
Foto:Nat Friedman.
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