Janeiro_2008 - page 63

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JANEIRO
/
FEVEREIRO
DE
2008 – R E V I S T A D A E S P M
Adriana
Gomes
A
smudanças fazemparte doprocesso
evolutivodahumanidade. Heráclito,
filósofopré-socrático, jáafirmavaque
tudoémovimentoenadapermanece
estático,enotequeestamosfalandode
algoentre540a.C. -470a.C. “
Nada
existedepermanenteanão ser amu-
dança
”, resume suas idéias.
Amudança, ouavelocidadedasmu-
danças, tem sido assunto recorrente
nosúltimos anos.Nadacontra,mas a
questãoéaseguinte,oquevemsendo
apresentado com uma roupagem de
atualidade não é novidade alguma.
A palavra
mudar
tem sua origem no
latim. Segundo o dicionário Houaiss
lat.múto, as, ávi, átum, are, significa
‘mudar, alterar, transformar; divergir;
desfigurar; permutar; deslocar’.
” Há,
entretanto, tipos de mudanças ou
seriamais adequado dizer gradações
demudança.
Quero me referir às mudanças mais
significativaseprofundasdeatitudese
comportamentos em relaçãoaoposi-
cionamentodo indivíduo frenteà sua
autonomia e escolhas. Entendo que
essa transformação é aque semostra
complexaedifícil.
Considero-me incentivadora de mu-
danças.Trabalhocomorientaçãopara
mudançasprofissionaiseseioquanto
istoédifícil.Háumafortetendênciade
noscontentarmoscomassuperficiali-
dadesquepensamosseremmudanças.
Veja sóquecurioso.
Tenho o hábito de guardar o nome
de todos osmeus alunos, umdesafio
que faço a mimmesma sempre que
começoum cursonovo. E os alunos,
porsuavez,ficamcuriososcoma“fa-
cilidade”quepossuoparaguardarseus
nomes.Certaocasiãoeu lhesdisseque
facilitavammuito aminha vida nesse
sentido,poismesmonãopercebendoe
muitosnãopercebem,costumamsen-
tar-sesemprenosmesmoslugares,seja
numcursodedoisdias ouemumex-
tenso. Éoqueeucostumochamarde
pseudo-conhecido. Aquela sensação
desegurança,confortoouacolhimento
quesetem,quandosevaiaummesmo
lugar pela segunda vez. Brinco que,
mesmo sendouma situação segura, a
da saladeaula, poucos sãoosque se
arriscam amudar de lugar e assistir à
auladeoutroângulo.
Um comportamento simples ebanal,
mas, se refletirmos, vamos notar que,
namaiorpartedonosso tempo,somos
altamente previsíveis. Fazemos os
mesmos caminhos, freqüentamos os
mesmos lugares,conversamoscomas
mesmaspessoas,andamoscomomes-
mogrupinho.Paraumobservadormais
atento émuito fácil notar isso. Com
as pessoas há umanatural resistência
aonovo.Sairdazonadeconfortonão
é algo comum. Pensemos: quantos
de nós, após acertar emdeterminada
questão ou ao sair-se bem numa de-
terminadasituação,naturalmente,em
situação semelhante, irá buscar fazer
algodiferentedemaneiraoriginal?
Poiséaessanovamaneiradeperceber
a nós mesmos e o mundo ao nosso
redor queestoume referindo. Seagir-
mos sempre nomodo automático, e
grande parte do tempo tendemos a
agir assim, dificilmente nos daremos
conta da necessidade de mudar por
iniciativaprópria.
Percebo, principalmente em relação
à gestão da carreira, que se vive em
estado de entorpecimento, estado
esseque sócostuma sealterar frentea
abalosexternossignificativos.Entenda
significativospordemissões,fortesfrus-
trações (pois as frustrações cotidianas
sãoabsorvidaseamortizadasporvários
fatoresevãoacumulando,claro), falta
dereconhecimentoconstante, faltade
perspectivasoudedesafios,excessode
cobrança,excessoderesponsabilidade
sem retornofinanceiroou reconheci-
mentoproporcional,ressentimentosdo
tipo “fui preterido para uma posição
quedeveria ter sidominha”.Háuma
lista bem grande de fatores relatados,
acrescente-seaessas situaçõeso fator
por longoperíodode tempo.
Há também os casos de pessoas que
chegam a tal grau de saturação, de
frustraçãoedeinadequaçãocomoque
fazem, quecomeçama sequestionar
commuita freqüênciaeseperguntam:
“Oqueéqueeuestou fazendoaqui?”
Jáaconteceucomvocê?
Esse pode ser um dos sintomas do
despertar para asmudançasmais sig-
nificativas. Pois, paramudar épreciso
necessariamente,capacidadedecom-
preendere apropriar-sedesimesmoe
do seu contexto sócio-histórico, bem
como adotar práticas que se concre-
tizem.
Sair da elocubração mental
paraaação.
Esse, inclusive, éumdos
tópicos freqüentesem livrosdegestão
de carreira, sejam aqueles escritos
por economistas, engenheiros, admi-
nistradores e até por psicólogos, mas
a questão é como fazer isso? Como
apropriar-sede si?Comodesenvolver
oautoconhecimento?
O autoconhecimento não é sim-
plesmente uma palavra auto-eluci-
dativa. Pode-se pensar: “quemmais
pode conhecer a mim se não eu
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