Janeiro_2007 - page 66

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R E V I S T A D A E S P M –
JANEIRO
/
FEVEREIRO
DE
2007
Descendoa la-
deira, Sísifo se
distraiu com
a paisagem
econseguiu
tirar algum
prazer desse
percurso. Che-
gou à planície renovado,
pronto para retomar a tarefa
e ligou para o número que lhe
tinha sido fornecido. O peso
aumentou mais uma vez
quando ouviu “digite o
seu código” e percebeu
quenão seriapossível
colocar a mão no
bolso para pegar
essa informação
sem deixar a
pedra cair mais
uma vez. Suspi-
rou aliviado quando
descobriu uma maneira
relativamente simples deevitar esse
obstáculo. Tirando forças do mais
profundodo seu ser empurroumais
um pouco, até ouvir com deses-
pero que se tratava de uma opção
inválida.
Segurando a pedra com os pés, pa-
rou e se refrescou comopôde, com
a ajuda de um lenço. Fez verdadei-
ros malabarismos e até recorreu a
contorções. Reconfortou-se por um
instanteaoescutar dooutro ladoda
linhaumavozhumana,queparecia
relativamente interessadaemsabero
seu nome, endereço e outras infor-
maçõesdecunhopessoal.Chegado
um ponto da conversa, no entanto,
voltou a sentir todo o peso da sua
existêncianas costas.A informação
quedesejavanão estava ao alcance
desse homem tão simpático que
o tinha atendido e que agora se
dispunha a dar apenas um último
empurrãozinho, recomendando-lhe
que conversasse a respeito do seu
problemacomoutro indivíduomais
esclarecido.
Após alguns segundos comobloco
ameaçando cair, Sísifo deu de cara
comopontomais altodadesilusão
que iria acometê-lo nessa jornada.
Ouviu um som estranhamente fa-
Segurando a pedra
com os pés parou e se
refrescou como pôde,
com a ajuda de um
lenço. Fez verdadeiros
malabarismos e até
recorreu a contorções.
F
A voz lhe disse que não
haviamaneira de acabar
com a sua dúvida naquele
momento. Olhou com
resignação a pedra de-
sabandomais uma vez.
Na descida, no entanto, a
persistência daquele som
humano voltou a acometê-
lo, oferecendo-lhe um
pingo de ilusão: “oSr.
estáme ouvindo? Vamos
verificar o seu caso, anote
este número e ligue daqui
a uma semana para se in-
formar sobre o resultado.”
F
miliar,masnãoconseguiudescobrir
quem é que estava falando. A voz
lhedissequenãohaviamaneirade
acabar com a sua dúvida naquele
momento. Olhou com resignação
a pedra desabando mais uma vez.
Nadescida,noentanto, apersistên-
cia daquele som humano voltou
a acometê-lo, oferecendo-lhe um
pingo de ilusão: “o Sr. está me
ouvindo?Vamosverificaroseucaso,
anote este número e ligue daqui a
uma semanapara se informar sobre
o resultado.”Nemmais se lembrava
de que resultado se tratava, mas
ainda assim foi recobrando aos
poucos a respiração, o sorriso e a
fé no futuro.
Ao chegar ao pé da montanha,
sentou-senumapedraeobservouo
pôr-do-sol.Umaestranha felicidade
o invadiu ao ouvir o seu celular
tocando. Atendeu com entusiasmo
e escutou: “É o Sr. Sísifo? Estou
ligando da companhia de seguros.
OMarketing da
complexidade
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