Janeiro_2007 - page 34

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R E V I S T A D A E S P M –
JANEIRO
/
FEVEREIRO
DE
2007
Notas sobre religião e empresa no caso
Odebrecht
NOTAS SOBRE RELIGIÃO E EMPRESANOCASO
É
bastante conhecida a equação,
desenvolvida por MaxWeber, que
articula ethos religioso e formação
da “legitimação racional” da em-
presa capitalista. Ao insistir que a
racionalidadeeconômicadependia
fundamentalmente da disposição
dos sujeitos em adotar certos tipos
de conduta, Weber lembrava que
nunca haveria capitalismo sem a
internalização psíquica de uma
éticaprotestantedo trabalho
edaconvicção,estranha
ao cálculo utilitarista
e cuja gênese deve ser
procurada no calvinismo.
Ética esta que Weber en-
controu no
ethos
protes-
tante da acumulação de
capital edoafastamento
de todo gozo espontâ-
neodavida.O trabalho
quemarcavaocapitalis-
mo como sociedade de
produçãoeraum trabalho
que não visava, exata-
mente, ao gozodo serviço
dos bens, mas a acumu-
laçãodaquelesque: “não
retiram nada de sua riqueza para si
mesmo,anãoserasensaçãosubjeti-
vadehaver ‘cumprido’devidamente
a sua tarefa”.No entanto, essa acu-
mulação não deve ser compreen-
didacomo sendo impulsionadapor
alguma lógicaclaramenteegoísticae
individualista.Odadocentral éque
osprocessosdeacumulaçãonãosão
feitos emnomedoenriquecimento
futuro e da vida frugal. Pois o tra-
balho é aqui função primeira de
uma certa ética da convicção que
faz com que atividades materiais
apareçam como expressãode uma
“vocação”.Vocação esta que deve
sercompreendidacomoo resultado
de um “chamado” que, para uma
lógica absolutamente utilitarista,
pode parecer irracional. Weber
chega a falar em uma “sanção psi-
cológica” produzida pela pressão
ética e satisfeita através da rea-
lização de um trabalho como fim
em si, ascético e marcado pela
renúncia ao gozo. O que o leva a
insistir que : “O
summum
bonum
desta ‘ética’, a obtenção demais e
mais dinheiro, combinada com o
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