 
          HOMERO, SAID, MINDLIN
        
        
          
            73
          
        
        
          M A I O
        
        
          /
        
        
          J U N H O
        
        
          D E
        
        
          2 0 0 5 – R E V I S T A D A E S PM
        
        
          faziamais mal ao cliente do que ao
        
        
          processado. Então, émelhorummau
        
        
          acordo do que uma boa demanda.
        
        
          Issoeuaplicavanaempresa, também,
        
        
          no contato com os gerentes, os
        
        
          subalternos.Trabalhavacomoqueeu
        
        
          chamavade“portaaberta”.Qualquer
        
        
          um podia vir falar comigo para
        
        
          queixar-se de alguma coisa, eu
        
        
          anotava e dizia: “Nãoposso resolver
        
        
          isso,passandoporcimadeseuchefe,
        
        
          mas vou conversar com ele”. Então,
        
        
          muita coisa se resolvia. Processos
        
        
          trabalhistas, tínhamos pouquíssimos;
        
        
          as greves só começaram a existir
        
        
          quandovieramasgrevespolíticas.Eles
        
        
          não faziam contra nós; era contra o
        
        
          sistema.Lembro-meque,umavez,os
        
        
          operários entraram e ficaram de pé,
        
        
          junto à máquina, sem produzir.
        
        
          Quando chegou a hora do almoço,
        
        
          veio o gerente perguntar se era para
        
        
          dar almoço a eles. E eu disse: claro
        
        
          que sim. Não estão lá contra nós. O
        
        
          jornalista HumbertoWerneck certa
        
        
          vez perguntou-me: “Olhando para
        
        
          trás, o que lhe dámais satisfação?A
        
        
          sua biblioteca ou a Metal Leve?”
        
        
          Respondi: “A Metal Leve foi uma
        
        
          experiência gratificante porque
        
        
          conseguimos, realmente, fazer um
        
        
          bom trabalho –mas foi um trabalho
        
        
          deequipe.Abiblioteca,eu fizsozinho.
        
        
          Tudo que está aí tem uma razão de
        
        
          ser.Éum interessecentraldevida,que
        
        
          me deu grandes satisfações. No
        
        
          primeiro ano de Metal Leve, o
        
        
          alumínioaindanãoeraproduzidono
        
        
          Brasil;tinhadeserimportado.Eodólar
        
        
          de importaçãoeradeCr$18.72,mas
        
        
          o dólar no mercado paralelo estava
        
        
          em30, 40. Então, qualquerdiferença
        
        
          de importação era lucrativa. Houve
        
        
          umprincípiodecorrupção,naCacex,
        
        
          até compreensível. Uma licença era
        
        
          lucro certo. Eu ia lá duas, três vezes
        
        
          por semana e faziam-nos esperar
        
        
          horas, às vezes, para nos receber. As
        
        
          empresas estrangeiras tinham
        
        
          despachantes que davam dinheiro e
        
        
          obtinham licença.Euaproveitavaesse
        
        
          tempo para ler – li toda a obra de
        
        
          Balzacnassalasdeespera–eacabava
        
        
          conseguindoa licença.Mas fazíamos
        
        
          questão  de não ter corrupção de
        
        
          forma alguma.
        
        
          FG
        
        
          – Issosechama“responsabilidade
        
        
          social”, queagoraestánamoda...
        
        
          MINDLIN
        
        
          –Tenhosatisfaçãode falar
        
        
          disso.Hámaisde30anos,afirmoque
        
        
          a empresa não é um objetivo em si
        
        
          mesma; é um instrumento de
        
        
          desenvolvimento social. Ela tem de
        
        
          funcionar bem, ter lucro para poder
        
        
          cumpriressas responsabilidades.Mas
        
        
          elanãoéumobjetivoem simesma–
        
        
          e essa idéia agora está pegando. Sou
        
        
          umcéticoqueacreditaemcatequese.
        
        
          Precisamospregar idéias,queumdia
        
        
          pegam. Nos anos 50, por exemplo,
        
        
          ninguémacreditavaemexportaçãode
        
        
          produtosmanufaturados.
        
        
          Eu tinha também o apoio dos meus
        
        
          companheiros na atividade cultural.
        
        
          Quando a Metal Leve fez 25 anos,
        
        
          propuseram um grande jantar. E eu
        
        
          disse:“Jantar,coquetel,aspessoasvão
        
        
          por obrigação e logo esquecem.
        
        
          Vamos fazer uma comemoração
        
        
          menos efêmera”. Lembrei-me da
        
        
          Revista de Antropofagia – um dos
        
        
          documentos mais importantes do
        
        
          modernismo–e fizemosumaedição
        
        
          em fac-símile, que teve um grande
        
        
          sucesso. Fomos uma das primeiras
        
        
          empresasafazerpublicaçõesdelivros.
        
        
          Fizemos publicação de arte, tudo
        
        
          relacionado com omodernismo e a
        
        
          Metal Leve ficou muito conhecida
        
        
          pelaatividadecultural. Issobeneficiou
        
        
          a imagemdaempresa,maisdoqueo
        
        
          produto – que ficava dentro dos
        
        
          motores e não tinha qualquer
        
        
          sedução. Tive uma assessora de
        
        
          comunicação social –MayNunesde
        
        
          Souza–queacompanhouquase toda
        
        
          acarreiradaMetal Leve, eeudiziaa
        
        
          ela: “Queremos criar uma boa
        
        
          imagem da empresa, mas com duas
        
        
          condições básicas: a imagem temde
        
        
          corresponder à verdade – simpatia
        
        
          paganãonos interessa.Vamos teruma
        
        
          relação aberta com a imprensa”.
        
        
          Comeceiminhavidacomo jornalista
        
        
          – aos 15 anos era redator do Estado.
        
        
          Fuio redatormais jovemdoEstado, e
        
        
          aprendi a escrever, porque o jornal
        
        
          exigia uma linguagem correta,
        
        
          simples, acessível aopúblicomédio.
        
        
          Fiquei conhecendo os bastidores da
        
        
          sociedadeedapolítica. Passei quatro
        
        
          anos no Estado e foi uma escola
        
        
          insubstituível.Foiondeeuconhecias
        
        
          agrurasde ser repórter;demodoque,
        
        
          quando estava naMetal Leve ou na
        
        
          Secretaria de Cultura, Ciência e
        
        
          Tecnologia do governo Paulo Egídio,
        
        
          eu sabia as dificuldades por que
        
        
          passaraorepórterquevinhaconversar
        
        
          comigo. E também o que era – para
        
        
          ele–umaverdadeiranotícia,diferente
        
        
          da informação que só interessava a
        
        
          nós...
        
        
          ES
        
        
          PM
        
        
          HÁMAISDE 30ANOS, AFIRMOQUEA EMPRESA
        
        
          NÃO É UMOBJETIVO EM SI MESMA; É UM
        
        
          INSTRUMENTO DE DESENVOLVIMENTO SOCIAL.