 
          HOMERO, SAID, MINDLIN
        
        
          
            65
          
        
        
          M A I O
        
        
          /
        
        
          J U N H O
        
        
          D E
        
        
          2 0 0 5 – R E V I S T A D A E S PM
        
        
          teremos, ouça o que digo. A Bolívia
        
        
          vaiseroutroproblema.Nãoseengane
        
        
          com a Bolívia. O Carlos Castelo
        
        
          Brancocontou-me,aprimeiravezque
        
        
          foi à Bolívia e voltou: “Homero, são
        
        
          selvagens! O cara está marchando,
        
        
          fazendoumprotesto, e temdinamite
        
        
          nascostas,dinamite!Porque trabalha
        
        
          comdinamitenamina, está fumando
        
        
          e não se dá conta. Poderíamos voar
        
        
          eu e todo o mundo.” Minha irmã
        
        
          Suzana conta que, quando foi à
        
        
          Bolívia,hospedou-senumhotel e,no
        
        
          dia seguinte, perguntaram-lhe: “A
        
        
          senhoraconseguiudormir?”Eladisse:
        
        
          “Por quê?” “Pela festa” E ela disse:
        
        
          “Masque festa?”A festaeraumsujeito
        
        
          com um bumbo, que batia e dizia:
        
        
          “Soy alegre, soy alegre, soy alegre...”
        
        
          anoite inteira. Édifícil.
        
        
          ENTREVISTA
        
        
          SAID FARHAT
        
        
          SAIDFARHAT
        
        
          éconsiderado–com
        
        
          orgulho dos colegas da área de
        
        
          publicidade–comooprofissionalque
        
        
          ascendeu mais alto na hierarquia
        
        
          social brasileira, tendo sido o nosso
        
        
          primeiro Ministro da Comunicação
        
        
          Social,duranteogovernoFigueiredo.
        
        
          Nascido noAcre, em 1921, exerceu
        
        
          cargos públicos no seu Estado natal
        
        
          (então território) e foi para o Rio de
        
        
          Janeiro, em1952, onde trabalhouna
        
        
          StandardPropaganda, transferindo-se,
        
        
          pouco depois, para São Paulo, onde
        
        
          trabalhouna J.WalterThompson. Em
        
        
          1962, ingressou no grupoVisão, do
        
        
          qual se tornou editor e proprietário.
        
        
          Vendeuo grupo em1974, e exerceu
        
        
          funçõesnaEditoraAbrilenaEmbratur,
        
        
          comopresidente,deondesaiuparaa
        
        
          SECOM–SecretariadeComunicação
        
        
          Social. Detentor de vários prêmios e
        
        
          homenagens, sempre esteve muito
        
        
          ligado à ESPM – de quem recebeu,
        
        
          em1991,oprêmioMauricioSirotsky
        
        
          deComunicação Social.
        
        
          FG
        
        
          – Como se sente um homem de
        
        
          85 anos nummundoonde amaioria
        
        
          daspessoas temmenosdametadeda
        
        
          sua idade?
        
        
          SAID
        
        
          –De duas maneiras, até con-
        
        
          traditórias. Em relação à expectativa
        
        
          de vida, minha mãe morreu aos 89
        
        
          anos emeupai aos 93. Peço aDeus
        
        
          quemedêamédiaentreosdois,que
        
        
          parece bastante satisfatória. Ao
        
        
          mesmo tempo,olhoevejo,nonosso
        
        
          panorama social, uma juventude
        
        
          mais voltada para aprender coisas
        
        
          técnicasdoqueaprenderaviver.Ou
        
        
          seja, a apreciar o fato da vida; usar
        
        
          o tempode vida para produzir algo
        
        
          quenão sejaumbem–não importa
        
        
          se pequeno ou grande. E não falo
        
        
          de bens materiais; falo de bens
        
        
          morais, éticos, sociais.
        
        
          FG
        
        
          –Os jovens, de fato, estão preo-
        
        
          cupados com o dia-a-dia, as coisas
        
        
          imediatas, e tendem a esquecer,
        
        
          principalmente dos valores morais.
        
        
          Issoo incomoda?
        
        
          SAID
        
        
          – Sim, porque tenho uma
        
        
          famíliamuitounida;completamos64
        
        
          anos de casados, temos duas filhas,
        
        
          quatro netos sangüíneos e três
        
        
          adotivos,eonzebisnetos.As tentações
        
        
          parecem ter passado ao largo. Vejo
        
        
          com preocupação, por exemplo, o
        
        
          tempo que os jovens gastam com
        
        
          drogas. Em São Paulo, existe a
        
        
          “cracolândia”, um lugar devendade
        
        
          tóxico em plena luz do dia. Há uma
        
        
          certa condescendência com as
        
        
          atividadescriminais.Todossabemque
        
        
          aesquinadaAvenidaRebouças com
        
        
          a Avenida Faria Lima é ponto de
        
        
          assalto.Sóapolícianãosabe?Porque
        
        
          nãoage?Nãoageem funçãodeoutro
        
        
          mal dos tempos atuais, que é a
        
        
          corrupção e que abrange desde o
        
        
          Palácio do Planalto até amais pobre
        
        
          prefeiturado interior.A juventudede
        
        
          hojeestápreocupadacomadiversão
        
        
          fácil – as noitadas. Tenho, por
        
        
          exemplo, sobrinhos-netos que saem
        
        
          de casa às 11:30horas danoitepara
        
        
          ir auma festa e voltam às 6horas da
        
        
          manhã. Isso não é um fenômeno
        
        
          localizado; espalha-se por todos os
        
        
          países domundo.
        
        
          FG
        
        
          –Vamos falarda longevidadenos
        
        
          negócios. A revista
        
        
          
            Exame
          
        
        
          acaba de
        
        
          publicar uma pesquisa feita com as
        
        
          maioresempresasbrasileiras,ea idade
        
        
          média dos presidentes é de 51 anos,
        
        
          dosdiretoresestáem45,48anos.São
        
        
          relativamentejovens.Oquevocêacha
        
        
          disso?
        
        
          SAID
        
        
          –NoBrasil, temosumasituação
        
        
          anômala: se seémuito jovem, não se
        
        
          consegue um bom emprego; se
        
        
          passou de determinada idade, não
        
        
          consegueempregoquevalhaapena.
        
        
          A faixados30aos45anoséuma faixa
        
        
          dematuridade, exuberância, naqual
        
        
          as pessoas estãoproduzindoomáxi-
        
        
          mo que podem. Mas essa limitação
        
        
          ESSA LIMITAÇÃO ESTÁVINCULADAA
        
        
          PRECONCEITOS CONTRAA VELHICE.