 
          Entre
        
        
          Vista
        
        
          
            62
          
        
        
          R E V I S T A D A E S P M –
        
        
          M A I O
        
        
          /
        
        
          J U N H O
        
        
          D E
        
        
          2 0 0 5
        
        
          JR
        
        
          – E alguma coisa que não tenha
        
        
          dado tempode fazer?
        
        
          HOMERO
        
        
          – Antropologia. Eu acho
        
        
          uma ciência tão bonita, tão
        
        
          interessante.Masnãoéaantropologia
        
        
          de índios, gente pré-histórica, é a
        
        
          antropologia urbana, da cidade,
        
        
          porqueacidadeofereceumespetáculo
        
        
          maravilhoso. Eu estava conversando
        
        
          com minha mulher, outro dia,
        
        
          imaginandoosujeitoqueéfuncionário
        
        
          público, ganhapouco,maso filho fez
        
        
          umcursodecomputaçãoedisseque
        
        
          gostariade ter umcomputador. Então
        
        
          ele vai a uma firma que vende
        
        
          aparelhos usados e compra um, à
        
        
          prestação, para dar ao filho, no
        
        
          aniversário. Manda embrulhar o
        
        
          aparelho, pega o ônibus para o
        
        
          subúrbio, ondemora, evai pensando:
        
        
          “Tecuida,HansDonner,quemeufilho
        
        
          vemaí”. Elenão sabecomo funciona
        
        
          ocomputador,massabequeexisteum
        
        
          HansDonnereofilhodelepodechegar
        
        
          lá... Através da televisão a filha dele
        
        
          compra um livro de como se faz
        
        
          bijuterias,e fazbijuteriasemcasapara
        
        
          vender; amãecompraum livro sobre
        
        
          MedicinaAlternativaporqueoremédio
        
        
          estámuito caro e com um chazinho,
        
        
          resolve.A tecnologiaentrano lardeles
        
        
          e provoca comportamento diferente,
        
        
          novo. Issoeugostariadeestudar com
        
        
          calma, emdetalhes.
        
        
          JR
        
        
          –O JorginhoGuinleumavezdisse:
        
        
          “Já fui rico e já fui pobre, e ser rico é
        
        
          melhor”.Sealguémdissesse issocom
        
        
          relação a ser jovem e ser velho, qual
        
        
          vocêachaque seriaverdade?
        
        
          HOMERO
        
        
          –Não, ovelhoachaque
        
        
          quandoera jovemeramelhor.Nãoé
        
        
          que ele émelhor que o jovem, mas
        
        
          sim que “quando eu era jovem, era
        
        
          melhor que você”. Aproveitava
        
        
          melhor avida.
        
        
          JR
        
        
          –Vocêacha isso?
        
        
          HOMERO
        
        
          –Eu, comovelho, sei –é
        
        
          lógico.
        
        
          JR
        
        
          –ODuailibiéumgrandecolecio-
        
        
          nador decitações e temumacitação
        
        
          quediz:“Nósnãoparamosdenosdi-
        
        
          vertirporque ficamosvelhos, ficamos
        
        
          velhos porqueparamos denos diver-
        
        
          tir”.Oquevocêacha?
        
        
          HOMERO
        
        
          – Éuma “boutade”.
        
        
          JR
        
        
          –Você sediverte?
        
        
          HOMERO
        
        
          –Noqueposso.A idade
        
        
          vai limitando o seu campo de ação,
        
        
          entende?Quandovocê temvinteanos,
        
        
          diz“vamosaParatynofinaldesemana”,
        
        
          de ônibus, de carro, de carona ou o
        
        
          que seja. Mas depois dos setenta, a
        
        
          quedaémuitogrande,émuitorápida...
        
        
          JR
        
        
          –Éumacoisaobjetiva, que tema
        
        
          ver coma sua força física.
        
        
          HOMERO
        
        
          – Exatamente.
        
        
          JR
        
        
          – Pirandello escreveu que “com
        
        
          a idade a percepção se torna mais
        
        
          lúcida–e issoacaba tornandoavida
        
        
          insuportável”. Você concordaria
        
        
          com isso?
        
        
          HOMERO
        
        
          –A “percepçãodos ido-
        
        
          sos” é tão aguda, que – às vezes –
        
        
          parece que a gente adivinha. Agora,
        
        
          o que eu gosto na idade – e tenho
        
        
          ainda interesse por estudar, é essa
        
        
          coisaoriental,éacontenção japonesa,
        
        
          porexemplo.Nahistóriada literatura
        
        
          japonesa, conta-se que havia um
        
        
          professor que dava aulas de
        
        
          
            haikai
          
        
        
          –
        
        
          são dezessete sílabas – versos de
        
        
          cinco, seteecinco–medidaclássica.
        
        
          Umalunopassouumanopreparando
        
        
          seu
        
        
          
            haikai
          
        
        
          e,no fimdoanochegouao
        
        
          professor e mostrou o poema, que
        
        
          dizia: “Na neve, a sombra das cere-
        
        
          jeiras”.Eoprofessordisse:“Temmuita
        
        
          cerejeira”.Umacerejeira faziaomes-
        
        
          mo efeito que várias cerejeiras em
        
        
          termos de sombra...
        
        
          JR
        
        
          –Ecomoéquevocêvêaquestãodas
        
        
          empresas,hoje:odesesperopelo resul-
        
        
          tado, pelos lucros, você achaque –de
        
        
          fato–estahavendoumamudança,ou
        
        
          éanossavisãodepessoasmais idosas,
        
        
          por acharque“anteseramelhor”?
        
        
          HOMERO
        
        
          – Acho que antes está-
        
        
          vamos mais preocupados com a
        
        
          formação do profissional, com o de-
        
        
          senvolvimento do profissional até ele
        
        
          chegaraumníveldeexcelência.Hoje,
        
        
          estamos interessadosno resultadoque
        
        
          o profissional produz; julgamos o
        
        
          profissional pelo resultado e não por
        
        
          elemesmo. Éumadiferençavisível.
        
        
          JR
        
        
          –O que, de fato, os mais velhos
        
        
          podemensinar aosmais jovens?
        
        
          HOMERO
        
        
          – Primeiro, paciência,
        
        
          queé fundamental.Háumacoisano
        
        
          idoso; ele não reage a certas coisas,
        
        
          que deveria reagir, mas “eu já estou
        
        
          O PT TINHABOAS IDÉIAS, BONS
        
        
          IDEAIS, MAS NÃO TINHA FORMAÇÃO.