 
          Entre
        
        
          Vista
        
        
          
            72
          
        
        
          R E V I S T A D A E S P M –
        
        
          M A I O
        
        
          /
        
        
          J U N H O
        
        
          D E
        
        
          2 0 0 5
        
        
          quase que acidental. Na nossa
        
        
          empresaaética foi importantedesde
        
        
          oprimeirodia–nãohaviacaixadois;
        
        
          nos primeiros 20 anos tínhamos um
        
        
          pró-labore que não era nada espe-
        
        
          tacular – era o que a legislação
        
        
          permitia. E tudo que a empresa
        
        
          produzia de lucro era reinvestido.
        
        
          Procurávamos ter solidez financeira,
        
        
          qualidade de produção, recursos
        
        
          humanos tratados como gente e não
        
        
          como números. Depois, até la-
        
        
          mentamosocrescimentoporquenos
        
        
          primeiros anos conhecíamos todos.
        
        
          Depoiscresceu,chegamosa ter7.200
        
        
          funcionários. Mas eu lia desde
        
        
          pequeno,porqueeramuito ligadoao
        
        
          meu irmão mais velho, Henrique
        
        
          Mindlin,que foiumgrandearquiteto.
        
        
          Descobrimos omundo juntos.Muita
        
        
          coisaqueele liaaos16eu liaaos12.
        
        
          Eu corria os sebos de São Paulo,
        
        
          porquenãoqueriapedirdinheiroaos
        
        
          meus pais. Os sebos eram todos no
        
        
          centro da cidade e eu percebi que
        
        
          viviam isolados uns dos outros eque
        
        
          os preços variavam muito. Eles
        
        
          marcavam o preço de venda de
        
        
          acordocomoque tinhampago, sem
        
        
          se preocupar com a raridade. Um
        
        
          vendiapor5oqueooutrovendiapor
        
        
          30, até 50. E o que vendia por 50
        
        
          tambémvendiapor5oqueoprimeiro
        
        
          vendiapor 30. Percebendo isso, pedi
        
        
          umpoucodedinheiroaomeupai, e
        
        
          comecei a comprar os livros de 5 e
        
        
          10, levava para o outro, deixava em
        
        
          consignação e quando ele vendia,
        
        
          creditava os 30% de comissão, e
        
        
          retirava a minha parte em livros.
        
        
          Depoisde trêsmeses, tinhacréditoem
        
        
          todosos sebosdacidadeecomprava
        
        
          meus livros sem desembolso. Isso
        
        
          durou pelo menos uns três anos.
        
        
          Depois os sebos começaram a
        
        
          aprender...Mascompreimuitos livros
        
        
          pagos pelos livreiros.
        
        
          FG
        
        
          – Sobre a tendência dos jovens
        
        
          em não aproveitar a experiência dos
        
        
          mais velhos, há livrodeDinoBuzatti
        
        
          –
        
        
          
            Odesertodos tártaros
          
        
        
          –quecomeça
        
        
          comopersonagemdo jovem tenente,
        
        
          que acabava de sair da academia
        
        
          militar,e ia–acavalo–paraa fortaleza
        
        
          dodeserto.Poucoantesdechegar,ele
        
        
          cruzou com um velho oficial que
        
        
          havia passado 30 anos lá dentro. O
        
        
          jovemnão trocapalavrascomovelho,
        
        
          fazcontinênciaecontinua–eacaba
        
        
          cumprindo a sua sina: 30 anos de
        
        
          frustraçãoedesapontamento. SeoSr.
        
        
          fosseovelhooficial, teriaditoalguma
        
        
          coisaao jovem?
        
        
          MINDLIN
        
        
          – Eu diria: “Se quiser
        
        
          experimentar, experimente, mas não
        
        
          fique; tente outra coisa”. Vocês me
        
        
          colocam numa posição um pouco
        
        
          constrangedora por falar de mim
        
        
          mesmo – mas quando aparecia um
        
        
          moçoquerendoum lugarnaempresa
        
        
          – muitas vezes, era o primeiro
        
        
          emprego – havia freqüentemente a
        
        
          reação dos outros de “não entregar
        
        
          essaresponsabilidadeaummoço”.Eu
        
        
          achava que devia – orientando e
        
        
          acompanhando, tolerando o erro e
        
        
          formando as pessoas. Começamos a
        
        
          receber estagiários das escolas de
        
        
          engenharia,criamosumprêmioMetal
        
        
          Leve,erecebíamosmuitosestagiários,
        
        
          dos quais aproveitávamos poucos.
        
        
          Mas tivemos, em postos de
        
        
          responsabilidade, pessoas com vinte
        
        
          e poucos anos e isto foi um dos
        
        
          elementos de força da Metal Leve.
        
        
          Quando recebi, do Conselho de
        
        
          Administração,o títulodeprofessor–
        
        
          eprofissional emérito–dissenomeu
        
        
          discurso: “Vocêsestãoenganados;eu
        
        
          souumprofissionalempírico”.Agora,
        
        
          usoacabeçaeacreditona juventude
        
        
          – até hoje – tenhoum contatomuito
        
        
          bomcomos jovens,atravésda leitura,
        
        
          orientaçãodevida...
        
        
          JR
        
        
          –Sãoos jovens da sua família?
        
        
          MINDLIN
        
        
          – Alguns –  e alguns
        
        
          amigosdenetosquevêmaqui, jovens
        
        
          estudantes. Brinco, às vezes, que se
        
        
          fosse do século XIX, seria chamado
        
        
          deconselheiro–comoospersonagens
        
        
          deMachadodeAssis.Eeles falamaté
        
        
          de problemas matrimoniais,
        
        
          separação etc. Converso com eles,
        
        
          procurando orientá-los. Vou festejar,
        
        
          esteano,67anosdecasamento–um
        
        
          casamentocurtido,umprazerdevida.
        
        
          Há problemas, mas é preciso querer
        
        
          resolver. Sempre digo: “Procurem se
        
        
          compreender; casamentonão éuma
        
        
          lutadepoder”. Jáconseguiquevários
        
        
          casais se reconciliassem. Mas há
        
        
          situaçõesde tanta incompatibilidade,
        
        
          que eu citavauma frasedo Fausto “É
        
        
          melhorum fimcomhorrordoqueum
        
        
          horror sem fim”. Tudo depende da
        
        
          gravidadedosproblemas.Mas–como
        
        
          advogado– sempreacrediteimaisno
        
        
          diálogo. Ao invés da imposição, a
        
        
          conciliação. Só chegava aoprocesso
        
        
          quando não havia alternativa. Um
        
        
          clienteperguntou-me, certavez: “Do
        
        
          que o Sr. vive, se é contra os
        
        
          processos?” Respondi: “Vivo do que
        
        
          ganho na conciliação”. O processo
        
        
          DEPOIS DE TRÊSMESES, TINHA
        
        
          CRÉDITO EM TODOS OS SEBOS DA CIDADE.