 
          Entre
        
        
          Vista
        
        
          
            66
          
        
        
          R E V I S T A D A E S P M –
        
        
          M A I O
        
        
          /
        
        
          J U N H O
        
        
          D E
        
        
          2 0 0 5
        
        
          de idade está vinculada a precon-
        
        
          ceitos, emespecial contraavelhice.
        
        
          FG
        
        
          –Você reconheceque,nomundo
        
        
          empresarial,háumpreconceitocontra
        
        
          avelhice?
        
        
          SAID
        
        
          – Sem dúvida. E ele está nas
        
        
          grandesempresas,demodogeral.Vou
        
        
          usar a Ford, como exemplo. A Ford
        
        
          foi criada por um homem que, não
        
        
          apenas sedistinguiupela concepção
        
        
          doautomóvel,da linhademontagem,
        
        
          como tambémpela comercialização
        
        
          do produto. OHenry Ford enfeixou
        
        
          nasmãosocomandodeumaempresa
        
        
          que–hoje–  se tornacadavezmenos
        
        
          controlávelpelopodercentral.Vemos
        
        
          osaltosebaixosqueaempresasofreu,
        
        
          nasucessãodeHenryFord,pelosseus
        
        
          filhosenetos.Outracoisaéadiferença
        
        
          entre fundador, fábricaeproduto.Na
        
        
          Ford, esses três elementos se
        
        
          confundem. Mas, fala-se em Ford, e
        
        
          todos pensam no carro. Longinqua-
        
        
          mente, alguns ainda se lembram do
        
        
          nome Henry Ford. No Brasil isso é
        
        
          verdadeemempresascomoaGerdau.
        
        
          O JorgeGerdau continua à frente da
        
        
          empresa. AVotorantim, com o fale-
        
        
          cimento dos mais velhos, colocou a
        
        
          segunda geração no comando da
        
        
          empresa.Mas é fatal que,mais cedo
        
        
          ou mais tarde, se torne uma
        
        
          companhiamais aberta. Creio que a
        
        
          maioria das pessoas jamais prestou
        
        
          muitaatençãoaquem foi o fundador
        
        
          daGeneralMotors.OnomeGeneral
        
        
          Motors significamenos que o nome
        
        
          Chevrolet – a imagem do produto
        
        
          supera a imagem do fabricante e
        
        
          ninguémsabequem foio iniciadorda
        
        
          empresa.
        
        
          FG
        
        
          – AGM sempre foi considerada
        
        
          como símbolo da vida empresarial
        
        
          americana. Era – parece que, agora,
        
        
          nem tanto– sólidacomouma rocha.
        
        
          Oquehádebomemaunisso?Com
        
        
          o tempo, asempresas se tornammais
        
        
          conservadoras, moderadas, menos
        
        
          agressivas. Issoébom?
        
        
          SAID
        
        
          –Achoqueentreos fatoresque
        
        
          respondem pela longevidade das
        
        
          empresas,oprimeiroéacriatividade.
        
        
          Falamos de automóvel: o automóvel
        
        
          continua essencialmente o mesmo.
        
        
          Mudaramascoisasadjetivas:motores
        
        
          maispotentes, resfriamento, transmis-
        
        
          sãoautomática,mas intrinsecamente
        
        
          é o mesmo. Então, um aspecto que
        
        
          tem contribuído para a longevidade
        
        
          das empresas é a criatividade: criar
        
        
          novos produtos; descobrir, antes dos
        
        
          outros,oqueoconsumidorrealmente
        
        
          quer. Depois, há questões como a
        
        
          globalização,queveiopara ficar.Não
        
        
          há mais economias auto-suficentes.
        
        
          Os americanos custaram a perceber
        
        
          que,mesmoosprodutos tradicionais,
        
        
          que fabricavam – como geladeira,
        
        
          automóveis, televisores –, estavam
        
        
          sendodesenvolvidosemoutrospaíses.
        
        
          Eháglobalizaçãodos hábitos.Tenho
        
        
          bisnetos tão sabichõesemmatériade
        
        
          eletrônica, que – quando tenho
        
        
          dificuldades com o celular ou o
        
        
          computador – recorro a eles. Outro
        
        
          aspectoqueevidenciaa longevidade
        
        
          dasempresaséoquechamode“pulo
        
        
          do gato” – um passo ousado,
        
        
          inesperado, surpreendente para os
        
        
          concorrentes e que – de repente –
        
        
          resolve uma situação de impasse.
        
        
          Poderia citar dois casos brasileiros.
        
        
          Um durante o governo do Itamar
        
        
          Franco. A economia nacional estava
        
        
          mal, a inflaçãoparecia semcontrole,
        
        
          os consumidores sem coragem para
        
        
          comprar itensmaiscaros;ea indústria
        
        
          automobilísticapareciadiantedeuma
        
        
          crise. Vão os dirigentes da Anfavea
        
        
          falar com o presidente, expõem,
        
        
          pedem subsídios, apoios, cortes de
        
        
          impostosetc.Eo Itamar,quenão tinha
        
        
          resposta para nenhum desses itens,
        
        
          disse:“Porquenão lançamdenovoo
        
        
          Fuscaqueagradoua tantagente?”O
        
        
          Fusca foirelançado– juntocomoutros
        
        
          carros demenor valor – que animou
        
        
          omercado.DepoisveiooPlanoReal,
        
        
          que estabilizoupreços e salários, e a
        
        
          indústria automobilística brasileira,
        
        
          hoje, fabricamaisdedoismilhõesde
        
        
          carros por ano.
        
        
          FG
        
        
          –Opulodogatoéacriatividade.
        
        
          SAID
        
        
          – O segundo pulo do gato:
        
        
          havia, no Brasil, duas empresas que
        
        
          fabricavam cerveja e dividiam, entre
        
        
          si, a maior parte do mercado: a
        
        
          Brahma e a Antarctica. Estavam as
        
        
          duas sedigladiando, quandoalguém
        
        
          tevea idéiadeque, emvezdebrigar,
        
        
          deveriam seunir ecriaramaAmBev.
        
        
          Aí, vem uma empresa européia,
        
        
          adquireocontroledaAmBeve levaa
        
        
          marcaBrahmaparaoutrosmercados.
        
        
          Daqui apouco, oGuaraná seráuma
        
        
          bebida tão comum quanto a Coca-
        
        
          ColaeaPepsi,em todososmercados
        
        
          mundiais.
        
        
          FG
        
        
          –Opulodogatoaí –euconheço
        
        
          um pouco dessa história – é de um
        
        
          homem chamado Jorge Paulo
        
        
          Lemann, que foi oarquitetode todas
        
        
          essas fusões.Eleesqueceu tudooque
        
        
          SERMOÇO ÉMELHOR.