 
          HOMERO, SAID, MINDLIN
        
        
          
            63
          
        
        
          M A I O
        
        
          /
        
        
          J U N H O
        
        
          D E
        
        
          2 0 0 5 – R E V I S T A D A E S PM
        
        
          velho, porque eu vou levantar por
        
        
          alguma coisa? Paciência”. Segundo,
        
        
          agente temqueprestaratenção;ouvi-
        
        
          los. Há uma história de um japonês
        
        
          bem-sucedido,que tinhauma fábrica
        
        
          deautomóveisnos EstadosUnidos e,
        
        
          de repente, recebeu uma ligação de
        
        
          um velhinho que se dizia amigo de
        
        
          seu pai, na aldeia em que viveram.
        
        
          “Estou aqui nos Estados Unidos e
        
        
          preciso de um conselho. Será que o
        
        
          senhor poderia me visitar?” Ele foi
        
        
          visitareovelhoestavacomacasa toda
        
        
          cheiade jornais empilhados, edisse:
        
        
          “Lá no Japão eu guardava jornais e
        
        
          trocava por papel higiênico e outras
        
        
          coisas, todas as semanas passavaum
        
        
          carro trocando.Aquinãoposso trocar,
        
        
          tenho um quarto cheio de jornais, o
        
        
          queeu faço?”NosEstadosUnidosnão
        
        
          haviaapreocupaçãodeaproveitaros
        
        
          jornaisusados,comonoOriente.Essa
        
        
          mesma coisa acontece como velho.
        
        
          Torna-se“descartável”.Odescartável
        
        
          équeprejudicamais.
        
        
          JR
        
        
          – Não existe, também, um certo
        
        
          preconceitoem relaçãoao idoso?Por
        
        
          exemplo, na própria televisão, os
        
        
          programas humorísticos mostram as
        
        
          pessoasmais idosascomo ridículas...
        
        
          HOMERO
        
        
          – Ridículos, idiotas,
        
        
          surdos. Há um quadro de uma
        
        
          “velhinha surda”, que devia ser
        
        
          cortado da televisão, pois é uma
        
        
          ofensaa todapessoa surda.
        
        
          JR
        
        
          –DeviaterentradonaquelaCartilha
        
        
          doPoliticamenteCorreto,doGoverno...
        
        
          Porqueidentificarovelhocomousado,
        
        
          comodescartável,oridículo?Vocênão
        
        
          acha que os velhos deviam fazer um
        
        
          movimentocontra isso?
        
        
          HOMERO
        
        
          – Issoéumprogramaque
        
        
          vocês, da ESPM, poderiam liderar,
        
        
          através do seu Instituto Cultural:
        
        
          levantar os itens importantes do pro-
        
        
          blema–oqueelenão temeoqueele
        
        
          tem; no que ele está falho; o que ele
        
        
          podedar. Edepoisde levantaras infor-
        
        
          mações,entãocomeçaracampanha...
        
        
          JR
        
        
          –Proporcionalmente,onúmerode
        
        
          pessoas idosas vem aumentando e a
        
        
          sociedade  parece que não está
        
        
          preparadaparautilizar, inclusive,essa
        
        
          forçade trabalho.
        
        
          HOMERO
        
        
          –Tiveumamigocego,que
        
        
          me contava que omelhor dia da vida
        
        
          dele foi no primeiro dia em que saiu
        
        
          comabengalabranca.Eupergunteipor
        
        
          que e ele respondeu: “Antes, quando
        
        
          eu não usava bengala – eu tinha
        
        
          vergonha–  quando tropeçava,diziam
        
        
          burro, idiota, não vê onde anda? No
        
        
          momentoemqueeu saí comaminha
        
        
          bengala, tudo mudou: me abriram
        
        
          caminho,meatravessaramarua,ocarro
        
        
          parou...” Eu estou com oitenta anos e
        
        
          andocomaminhabengala.Vocêestá
        
        
          na rua, vai pegar um táxi, levanta a
        
        
          bengalaeo táxipára...
        
        
          JR
        
        
          –Você quer dizer que existe um
        
        
          problema de comunicação: que
        
        
          alguma coisa poderia ser feita em
        
        
          relaçãoaessecanaldecomunicação
        
        
          entreas gerações.
        
        
          HOMERO
        
        
          –NoBrasil,opúblicoem
        
        
          geral tempreocupaçãocomo idoso,e
        
        
          não se aproveita mais essa preocu-
        
        
          pação.  Aspessoas têmpaciênciacom
        
        
          osmaisvelhos,cedem-lheavez,dizem
        
        
          “por favor”, há essa cortesia. Mas o
        
        
          mundodosnegóciosécontraovelho.
        
        
          Aí équeestá.
        
        
          JR
        
        
          –Paraencerrar,comoéquevocêvê
        
        
          omomento emque estamos vivendo,
        
        
          noBrasil?Seráqueelepermiteumcerto
        
        
          otimismoem relaçãoao futuro?
        
        
          HOMERO
        
        
          –Olhe, o PT tinha boas
        
        
          idéias, bons ideais, mas não tinha
        
        
          formação; os governantes desse
        
        
          partido não têm idéia do que seja
        
        
          governar o país. O que está aconte-
        
        
          cendo, essa história do “mensalão”,
        
        
          issoéocomeçodo fim.Nãoépossível
        
        
          que todas essas pessoas tenham sido
        
        
          informadas sobre isso e não tenham
        
        
          feitonada.
        
        
          JR
        
        
          –Nãoháumaspectopositivo, de
        
        
          queessascoisasestãosendoexpostas,
        
        
          divulgadas?Talvezanteselasocorriam
        
        
          enãoeram sabidas?
        
        
          HOMERO
        
        
          – Porque, para os velhi-
        
        
          nhos isso fazparteda “IdadedeCres-
        
        
          cimento”, que é o que estamos vi-
        
        
          vendo. Depois de um período de
        
        
          ditaduramilitarhorrível,vocêcainuma
        
        
          anarquiademocráticahorrível.
        
        
          JR
        
        
          –Equal seráa síntese?
        
        
          HOMERO
        
        
          –QuandooLulaganhou,
        
        
          escrevi umartigodeclarandoqueele
        
        
          seriaum lídercontinentale–hojeem
        
        
          dia – é um líder continental, sem
        
        
          discussão.Maseleémal-assessorado,
        
        
          emrelaçãoaoHaiti,porexemplo.Este
        
        
          será um dos grandes fracassos que
        
        
          JULGAMOS O PROFISSIONAL
        
        
          PELORESULTADO E NÃO POR ELEMESMO.