 
          HOMERO, SAID, MINDLIN
        
        
          
            71
          
        
        
          M A I O
        
        
          /
        
        
          J U N H O
        
        
          D E
        
        
          2 0 0 5 – R E V I S T A D A E S PM
        
        
          exclusivamentepessoal,algumacoisa
        
        
          que pudesse funcionar indepen-
        
        
          dentemente de nós. Quando esses
        
        
          clientes disseramque iamdesistir do
        
        
          projeto, eudisse; “Achoque consigo
        
        
          esse capital”. Omeu amigo recebeu
        
        
          umdosmeusclientes, viuoprojetoe
        
        
          conseguiu o capital. Assim, formou-
        
        
          seaMetalLeveeeu fiqueinaposição
        
        
          de fiador deste meu amigo, perante
        
        
          osmeusclientes,edosmeusclientes,
        
        
          perante o amigo que conseguira o
        
        
          capital.Vireiempresário.Aadvocacia
        
        
          deu-me flexibilidademental– ficamos
        
        
          conhecendo a natureza humana. E
        
        
          isso me ajudou na parte de admi-
        
        
          nistração que não tinha estudado. O
        
        
          grupo que se formou estava interes-
        
        
          sado em fazer coisas bem feitas e
        
        
          difíceis, que não pudessem ser feitas
        
        
          por qualquer pessoa.
        
        
          JR
        
        
          –Quanto tempo ficou à frenteda
        
        
          Metal Leve?
        
        
          MINDLIN
        
        
          –Duranteosprimeiros20
        
        
          anos, a administração era colegiada;
        
        
          depois fiqueimais20epoucos anos.
        
        
          Comnossogrupo,aMetalLevedurou
        
        
          46anos.Adesistência foimuitodifícil
        
        
          de aceitar.A venda da empresa – do
        
        
          ponto de vista emocional – foi
        
        
          traumática, porque começamos do
        
        
          zero e chegamos a ser uma empresa
        
        
          representativa.
        
        
          JR
        
        
          –Háquanto tempooSr. deixoua
        
        
          Metal Leve, para dedicar-se a outras
        
        
          atividades?
        
        
          MINDLIN
        
        
          – Nunca deixei-me
        
        
          envolver totalmentepelaMetal Leve;
        
        
          eu exercia as outras atividades em
        
        
          paralelo. Procurava – isso sim – não
        
        
          trazer os problemas para casa.
        
        
          Chegavadeterminadahora, iaembora
        
        
          edeixavapararesolveroproblemano
        
        
          dia seguinte. Sou um otimista
        
        
          incorrigível. Até hoje, quando
        
        
          acontece um contratempo, minha
        
        
          primeira reação é não ficar deses-
        
        
          perado e achar que podia ser pior.
        
        
          Tudo pode ser resolvido, com bom-
        
        
          senso, diálogo e olhando as coisas a
        
        
          longo prazo. Na empresa, logo senti
        
        
          a importância do desenvolvimento
        
        
          tecnológico, independentemente da
        
        
          assessoria técnicaque recebíamosde
        
        
          fora.
        
        
          FG
        
        
          – Vocês souberam criar uma
        
        
          imagem corporativa sólida, uma
        
        
          marca forte. Havia alguém lá dentro
        
        
          quepensavaem termos demercado.
        
        
          MINDLIN
        
        
          – Eu e o Adolfo Buck.
        
        
          Infelizmente, sou o último sobre-
        
        
          vivente.
        
        
          JR
        
        
          – Namesa-redonda que fizemos
        
        
          sobre este assunto, uma jovem – de
        
        
          origem oriental – observou que as
        
        
          pessoas nãodeviam seater auma só
        
        
          atividade.OSr. faloudasuaatividade
        
        
          comoadvogado, comoempresário, e
        
        
          li comentários seus sobre literatura
        
        
          absolutamente“profissionais”.Como
        
        
          vêessa suapluralidade?
        
        
          MINDLIN
        
        
          – Issoéumacoisapessoal;
        
        
          não tem receita. Mas nasci e cresci
        
        
          num ambiente cultural. Boapartedo
        
        
          que eu ganhava eradestinadapara a
        
        
          construção da biblioteca, que está
        
        
          com 38 mil títulos. Meus pais gos-
        
        
          tavammuito de artes plásticas. Eu
        
        
          também gosto, mas acho que herdei
        
        
          a paixão deles dirigida para livros.
        
        
          Comecei a formar a biblioteca com
        
        
          13anos–eelacompleta78esteano.
        
        
          JR
        
        
          –Como começouo seu interesse
        
        
          pela leitura?
        
        
          MINDLIN
        
        
          – Pela ficção, mas logo
        
        
          pela história. Aos 13 anos, recebi de
        
        
          uma tiaumahistóriadoBrasil escrita
        
        
          no século XVII por Frei Vicente
        
        
          Salvador. Foi o que marcou o meu
        
        
          interesse e resultou na formação da
        
        
          minha “Brasiliana”, metade da bi-
        
        
          bliotecaésobreassuntosbrasileiros...
        
        
          FG
        
        
          –Umdos primeiros livros que li,
        
        
          aos 11 anos, do Stefan Zweig, foi
        
        
          
            Brasil, país do futuro
          
        
        
          . Ganhei como
        
        
          prêmiodeum trabalhoescolar.
        
        
          MINDLIN
        
        
          –Hojepode-se falar que
        
        
          o Brasil é um país do futuro, mas
        
        
          tambéméumpaísdopresenteeainda
        
        
          pode termuitomais.AEuropanão tem
        
        
          oqueprogredirmuitomais.
        
        
          JR
        
        
          – O Sr. é empresário, bem-
        
        
          sucedido, vem de uma família onde
        
        
          cresceu com livros e obras de arte –
        
        
          portanto, um homem culto. Mas
        
        
          vivemos hojeemummundoemque
        
        
          temos pessoas bem-sucedidas – Bill
        
        
          Gates e o nosso presidente Lula, por
        
        
          exemplo–que sevangloriamdenão
        
        
          ter tido formaçãoescolareatédenão
        
        
          terem lidonada.
        
        
          MINDLIN
        
        
          – Houve muitos por-
        
        
          tugueses analfabetos que fizeram
        
        
          fortuna noBrasil.Mas era uma coisa
        
        
          UMA IDÉIAVÁLIDAHOJE,
        
        
          AMANHÃ PODE NÃO SERMAISAPLICÁVEL.