 
          Entre
        
        
          Vista
        
        
          
            70
          
        
        
          R E V I S T A D A E S P M –
        
        
          M A I O
        
        
          /
        
        
          J U N H O
        
        
          D E
        
        
          2 0 0 5
        
        
          que–naapreciaçãodePedroCorrea
        
        
          do Lago, livreiro e colecionador – é
        
        
          de tal qualidade, “que não seria
        
        
          possível recriá-lanempor1bilhãode
        
        
          dólares”...
        
        
          FG
        
        
          – Apesar de a nossa população
        
        
          estar envelhecendo – como em todo
        
        
          omundo – uma pesquisa da revista
        
        
          
            Exame
          
        
        
          mostrouquea idademédiados
        
        
          presidentes e diretores das grandes
        
        
          empresasbrasileirasestáentre45e50
        
        
          anos. Será que – nas empresas pelo
        
        
          menos –essa tendênciaaindanão se
        
        
          está fazendo sentir?
        
        
          MINDLIN
        
        
          – Pelas empresas, não
        
        
          saberia responder – apenas pela
        
        
          experiênciapessoal.Creioqueháuma
        
        
          tendência de utilizar mais jovens na
        
        
          alta administração porque, demodo
        
        
          geral, as pessoas idosas não acom-
        
        
          panham o cada vezmais acelerado,
        
        
          desenvolvimento tecnológico; e as
        
        
          novas técnicasdeadministraçãoena
        
        
          comunicação também influem nas
        
        
          empresas e osmais idosos, demodo
        
        
          geral, não acompanharam. E não é
        
        
          fácil,mesmo, porqueo ritmoémuito
        
        
          acelerado – a inovação e a obso-
        
        
          lescência estão cada vez mais
        
        
          próximas. Emboraprocureestar bem
        
        
          informado, vejo-me, muitas vezes,
        
        
          perplexo diante das mudanças que
        
        
          estão ocorrendo. Há 20, 30 anos, a
        
        
          duração de vida média estava perto
        
        
          dos 60 anos. Então, 50 anos era o
        
        
          coroamento de uma vida. Falei 30
        
        
          anos,mas talvezsejaumpoucomais,
        
        
          pois foinasegundametadedoséculo
        
        
          XX–depoisdaguerra–querealmente
        
        
          começaramasmudanças.Aspessoas
        
        
          que dirigiam as empresas se
        
        
          aposentavam mais cedo e isso
        
        
          permitiuaosmais jovensascenderaos
        
        
          cargos de responsabilidade. É uma
        
        
          situação complexa e não creio que
        
        
          hajaumasósoluçãocorreta.Costumo
        
        
          dizer que os problemas realmente
        
        
          difíceisderesolvernãosãoentrecerto
        
        
          e errado; mas entre o certo e omais
        
        
          certo–eosdoisladostêmumaparcela
        
        
          de razão. Nos anos 50 – em que a
        
        
          média de vida era da ordemde 60 –
        
        
          osdiretoresde50anoseramexceção;
        
        
          a empresa familiar predominava. O
        
        
          patriarca era o diretor, e se vivesse
        
        
          muito mais, continuaria a ser o
        
        
          presidente–comauxiliares–mascom
        
        
          uma estrutura completamente
        
        
          diferente – o mundo era mais
        
        
          tranqüilo,com idéiase invençõesque
        
        
          duravam 10, 20 anos; não havia a
        
        
          efervescência tecnológicadosúltimos
        
        
          50 anos. O desenvolvimento
        
        
          tecnológico segue um ritmo tão
        
        
          aceleradoqueuma idéiaválidahoje,
        
        
          amanhãpodenão sermaisaplicável.
        
        
          FG
        
        
          – O Sr. fala das mudanças
        
        
          tecnológicas–maseasmudançasdos
        
        
          valores, não lhechamamaatenção?
        
        
          MINDLIN
        
        
          – A questão de valores
        
        
          mudoupor outros fatores também.A
        
        
          inflação, por exemplo, fez
        
        
          desapareceroconceitodoquesãoos
        
        
          valoresmateriais estáveis. Então, por
        
        
          forçada inflação,haviaaqueleanseio
        
        
          de ganhar mais depressa e poder
        
        
          guardar e manter uma fortuna, e o
        
        
          dinheiro passou a ser um objetivo
        
        
          quando devia ser um mero
        
        
          instrumento. Eassimosvaloreséticos
        
        
          vão desaparecendo – o fim justifica
        
        
          os meios. Vê-se muito isso na
        
        
          administração empresarial. Mas,
        
        
          alguns,daquelaépoca, com50anos,
        
        
          continuaram e procuraram acom-
        
        
          panhar e se informar, ter outras
        
        
          atividades. Muitos se viram comple-
        
        
          tamente frustrados, eram compulso-
        
        
          riamente aposentados, e se não
        
        
          tivessemum interesse forado trabalho,
        
        
          decaiam rapidamente. Sua pergunta,
        
        
          se esses administradoresmais velhos
        
        
          não sãoumproblemaparaageração
        
        
          maisnova, tenhoa impressãodeque
        
        
          isso aindanão é a regra: umapessoa
        
        
          de 80 anos em plena atividade
        
        
          profissional...
        
        
          FG
        
        
          – O Sr. era um exemplo para
        
        
          jovens executivos, como eu era.
        
        
          Entretanto,derepente,resolveupassar
        
        
          suaempresa–aMetalLeve–aosseus
        
        
          sucessores e dedicar-se a uma
        
        
          atividade talvez mais nobre, mas
        
        
          completamente diferente. Como
        
        
          aconteceu isso?
        
        
          MINDLIN
        
        
          –Naminhavida,oacaso
        
        
          teve um papel muito importante.
        
        
          Nunca tinha pensado em ser
        
        
          empresário.Formei-meemdireito,em
        
        
          1936, e advoguei até 1950. Foi um
        
        
          grupodeclientesqueplanejoucriara
        
        
          MetalLeve–contavamcomuma fonte
        
        
          de financiamentoque,naúltimahora,
        
        
          falhou. Eu tinha redigido, para eles,
        
        
          uma opção para a compra de um
        
        
          equipamentocomassistência técnica
        
        
          de um fabricante alemão. Mas não
        
        
          conseguiram o capital. Vieram
        
        
          comunicar-meadesistência.Perguntei
        
        
          seeraporqueachavamqueonegócio
        
        
          nãoera tãobomquanto imaginavam,
        
        
          ou se era pelo capital. Disseramque
        
        
          por causa do capital. Eu tinha um
        
        
          amigodiretordeumbancomineiroe
        
        
          – tanto ele quanto eu – queríamos
        
        
          construir algumacoisaquenão fosse
        
        
          NUNCA TINHA PENSADO EM SER EMPRESÁRIO.