Julho_2006 - page 64

E veja-se o que houve no campo da
moda. Cada um de nós transmite sua
identidade na maneira de se vestir.
Atéos anos 80, amoda era por tribos.
Vestia-me de uma certa maneira para
reivindicar a minha identidade: yup-
pie, oupós-punketc. O fenômenoda
moda nos anos 90 foi o cross-over,
um pouco de tudo, que se combina e
recombina. Não há mais tribos com
modas separadas, tudo é cada vez
mais convergente. Poderíamos con–
tinuar citando dezenas de outros
exemplos.
A convergência ocorre horizontal–
mente, mas também no alto e em
baixo. A cultura brasileira tem grande
capacidade para recuperar a cultura
de baixo. Na música, no esporte, até
na política. A sua Semana Interna–
cional de Arte Moderna fez a grande
revolução, voltando os olhares para
a beleza do que está aqui, e não
nos salões de Paris. Isso também se
generalizou: a partir deAndyWarhol,
o alto e o baixo já não têm nenhum
sentido. Este seria oexemplo sincrético
da brasilianização, que faz parte do
pólodocarnaval.Mashátambémum
pólo trágico, de risco. O Brasil não
entra em guerra há muito tempo, mas
vocês vivem um conflito epidêmico
permanente - em que 50 mil pessoas
morrem, por ano, demaneira violenta.
Esse também é um novo paradigma
que, a partir do dia 11 de setembro,
Isso também se generalizou : a partir
de Andy Warhol , o alto e o baixo já
não têm nenhum sentido . Este seria o
exemplo sincrético da brasilianização,
que faz parte do pólo do carnaval .
torna-se cada vez mais e mais visível,
e mais geral.
A guerra, no mundo de hoje, não é
mais de um exército contra outro, em
que se combate, conquista, se perde
um território ou uma fronteira. Ela é
epidêmica. Já que a impertinência
está na moda, tenta-se reconduzir
isso aos cânones tradicionais, por
exemplo, invadindo o Iraque -"pois,
dessa forma, isso é reportado dentro
de um quadro mais compreensível
de um exército que invade um país.
É clássico - é bastante claro. Mas é
inteiramente impertinente, porque a
guerra, hoje, nãoémais isso e sim um
fenômeno epidêmico; éo terrorismo.
Não há mais exércitos. Em tese, cada »
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