Revista daESPM –Maio/Junho de 2002
          
        
        
          
            56
          
        
        
          “Oanão,sempre
        
        
          emalta
        
        
          velocidade,
        
        
          continuavagando
        
        
          pelomundoàsua
        
        
          procura .”
        
        
          O
        
        
          filósofo dinamarquês Søren
        
        
          Kierkegaard conta a estória de
        
        
          umanãoquevigiavaumaprin-
        
        
          cesa. Um belo dia o anão adormeceu e
        
        
          quando acordou deu-se conta de que a
        
        
          princesa havia fugido. Imediatamente
        
        
          ele calçou sua bota de sete léguas, des-
        
        
          sas que os anões que vigiam princesas
        
        
          costumam ter, e deu dois passos gigan-
        
        
          tescos. Com isso, ultrapassou a prince-
        
        
          saem fuga tão rapidamentequenãopode
        
        
          vê-la. A princesa, no seu passinho de
        
        
          menina, foi viver a sua vida. O anão,
        
        
          sempreemaltavelocidade, continuava-
        
        
          gando pelomundo à sua procura.
        
        
          Àdiferençado anãodeKierkegaard,
        
        
          osexecutivosdaeconomiadigital come-
        
        
          çam a se dar conta de que nada adianta
        
        
          umabotadesete  léguassevocênãosabe
        
        
          aonde ir. De que o problema não é al-
        
        
          cançar a princesa, mas saber onde ela
        
        
          está. De que, como diria outro filósofo
        
        
          – esse brasileiro –, se você cochilar, o
        
        
          cachimbo cai.
        
        
          E o cachimbo de muita gente anda
        
        
          caindo por aí. Gerentes ancorados em
        
        
          estruturasde informaçãoqueprivilegiam
        
        
          a capacidade, datadas dos anos oitenta,
        
        
          ouque privilegiam a velocidade, dos re-
        
        
          centemente finadosanosnoventa;geren-
        
        
          tesembotadospelacatadupade informa-
        
        
          ções donovo século estão sequeimando
        
        
          comopróprio cachimbo. Outros já des-
        
        
          pertaramparaaeconomiaembarcadaem
        
        
          eletrônica.Trabalhamcomestruturasde
        
        
          informação – as Salas de Situação, Sa-
        
        
          las de Crise ou, como deveriam apro-
        
        
          priadamente ser denominadas, Salas de
        
        
          Guerra – que aliam presteza à vigília
        
        
          permanente.
        
        
          As Salas de Guerra nada têm de no-
        
        
          vas. Todos nós já as vimos, senão pesso-
        
        
          almente, pelomenos em algum filme ou
        
        
          seriado de televisão. Os mais experien-
        
        
          tesse lembrarãodoemocionanteque foi
        
        
          acompanhar as decisões dos estrategis-
        
        
          tas da Batalha da Inglaterra emmapas
        
        
          cheios de miniaturas movidas por lou-
        
        
          ras inglesinhas em uniforme, enquanto
        
        
          DavidNivenderrotava todaaLuftwaffe
        
        
          semdespentearobigodinho.Osquenão
        
        
          são desse tempo certamente conhecem
        
        
          salasdeguerramodernas, abarrotadasde
        
        
          monitores, dasqueaparecemnos filmes
        
        
          de combate virtuais ou as menos béli-
        
        
          cas, mas mais realistas, do centro de
        
        
          controle de Houston, da NASA. O que
        
        
          há de novonisso tudo é a utilizaçãodas
        
        
          Salas deGuerra na administração e nos
        
        
          negócios.
        
        
          As empresas dos setoresmais dinâ-
        
        
          micosdaeconomiaestãomontandocen-
        
        
          tros como esses porque, queiramos ou
        
        
          não, aexpressão“guerracomercial”dei-
        
        
          xou de ser uma figura de linguagem e
        
        
          passou a retratar uma realidade
        
        
          irretorquível: a da competitividade da
        
        
          guerra para valer.
        
        
          Nemsópor issoadenominaçãoorigi-
        
        
          nal de Sala deGuerra émais apropriada
        
        
          do que a de Sala de Crise ou de Sala de
        
        
          Situação. Não se trata  só de enfrentar
        
        
          crises ou de analisar para prevenir,mas
        
        
          também, e talvezprincipalmente, denão
        
        
          deixar passar as oportunidades.
        
        
          São dois binômios – ameaças-opor-
        
        
          tunidades / informações-decisões – que
        
        
          vêm regendo o mundo da economia
        
        
          digitalizada. Ummundo complexo, que
        
        
          mereceaproximaçãocuidadosaealguma
        
        
          cautela. Ummundo em que se trabalha
        
        
          aosomdo intensoruídodefundodasaná-
        
        
          lisessuperficiaisedacontra-informação.
        
        
          Se repararmos bemnoque acontece nas
        
        
          empresas, veremos que os discursos
        
        
          monoteticos da literatura técnica e o pa-
        
        
          drão Internet, de informações rarefeitas
        
        
          e coloridas, estão omais das vezes des-
        
        
          coladosdos fatos (ecoladosnavendade
        
        
          serviços).Por exemplo, está longede ser
        
        
          verdade, como se temdito e escrito, que
        
        
          a quantidade e a velocidade da informa-
        
        
          ção foram superadaspelaqualidade.De-
        
        
          pendedo setor, dependedaempresa, de-
        
        
          pendedomomentoedeoutrasvariáveis,
        
        
          comoaaptidãoparadigeriroquesesabe
        
        
          e a capacidadededar resposta adequada
        
        
          aos desafios do cotidiano. Para certos
        
        
          setores e emdeterminadas ocasiões vale
        
        
          a sutilezados
        
        
          
            bits
          
        
        
          emmarcha triunfante.
        
        
          Paraoutros setores eocasiões, valemes-
        
        
          mo o grito, muita propaganda e preços
        
        
          baixos. Tudo depende, e o bom executi-
        
        
          vo, hoje comodantes, é aquele que sabe
        
        
          operar combaseno incertoemal sabido.
        
        
          Uma Sala de Guerra serve justamente
        
        
          para isso: apoiar quemdevedar resposta
        
        
          simultâneaa inúmeras situaçõesdecate-
        
        
          goriasdiversas,baseando-seem informa-
        
        
          ções precárias.
        
        
          1.Paraqueserve
        
        
          Tomemososeguinteexemplo,docu-
        
        
          mentadoemumaempresadeSãoPaulo
        
        
          às vésperas doNatal,mas que se aplica
        
        
          aqualquer empresa emqualquer época.
        
        
          Vocêestáemmeioaumaquarta-fei-
        
        
          ra de engarrafamentos colossais.Ama-
        
        
          nhãé feriado.Os seus clientes agemde
        
        
          um jeitoquenada temaver comaspre-
        
        
          visões das pesquisas (caríssimas) que
        
        
          vocêmandou fazer. O
        
        
          
            show-room
          
        
        
          está
        
        
          com problemas de armazenagem. O
        
        
          melhor cliente do seu pior concorrente
        
        
          telefona perguntando se você tem con-
        
        
          dições de suprir uma falha de entrega.
        
        
          Os rótulosdas embalagensvieramcom
        
        
          o logotipo invertido. Dois consultores,
        
        
          que vocêmesmo contratou, estão espi-
        
        
          ando tudo o que você faz. Desde o co-
        
        
          meçoda semana anotam tudo, como se
        
        
          você fosse um sapo sendo dissecado.
        
        
          Os caminhões estão atulhando o pátio
        
        
          da fábrica porque não têmmercadoria
        
        
          para embarcar. O cliente potencial te-
        
        
          lefona de novo. Alguém na produção
        
        
          informa que o problema da fábrica é