Janeiro_2005 - page 12

Entre
Vista
18
REV I STA DA ESPM–
J A N E I RO
/
F E V E R E I RO
D E
2005
ocasiona vítimas, estamos numa
relação de conformismo ou de
mimetismo; neste caso, há sim algo
patético, entende? Se, por exemplo,
vocêqueroferecer à suanoiva, pes-
soa que você ama, dez dias na Ilha
Bela, em um hotel maravilhoso,
para ter uma recordação de amor,
isso é esplêndido. É ummomento
de exceção, não é patético, é, pri-
meiramente, uma festa. Em segun-
do lugar, os consumidores, nos dias
atuais, tornaram-se mais irônicos.
Eles conhecem todos os códigos de
consumo e brincam com eles. A
adolescente que compra, para si
mesma, isso ou aquilo, brinca com
o vestuário, com as marcas. A-
credito que há diversas abordagens
possíveis para o problema. A di-
mensão patética surge quando nos
tornamosuma figuracompulsivado
consumo ou – ainda – uma figura
extremamente conformista. Nesse
caso, realmente, háumaverdadeira
alienação, umavezqueo indivíduo
se torna escravo, e entre ele e o
escravonãohá nenhuma distância.
Porém, nem toda relação com o
consumo reduz-seaessadimensão.
Quanto mais os objetos se bana-
lizam, maior também é a democra-
tização das coisas, e mais os indi-
víduos têm capacidade de optar,
escolher e misturar. Acredito, por-
tanto, que não é preciso fazer uma
crítica sistemática ao luxo, denun-
ciando todosos luxos.Nãoéneces-
sário denunciar todos os modos de
luxo. Pode-se denunciar determi-
nadas formas de luxo ou demoda,
porém não a sua totalidade.
JR
– Como vê as relações entre os
artigos e os serviços de luxo e a
tecnologia?
GILLES
–Também se trata de uma
dimensãoque vai receber cada vez
mais ênfase, daqui em diante. Te-
mos inúmerosexemplos;o setorau-
tomobilístico recorre à alta tecno-
logia, pois existemo sistema de radar,
o sistema de pilotagem automática, o
sistemadecontrole;podemosimaginar
quenãohá limites.Vamos tomaroutro
exemplo: o som; umamarca de luxo
bemconhecidacomoBang&Olufsen.
Nestecaso, temosumaalta tecnologia
commuito refinamento e, aomesmo
tempo, um designmuito puro, clean
como acabamos de mencionar. Há
uma dimensão – como posso dizer –
cleane,aomesmo temponãoéestéril.
Nãose tratadeumsommagníficocom
toda a parafernália tecnológica
automatizada.Achoqueoconsumidor,
nosdiasdehoje,quermenosaparência
e sim qualidade. E a tecnologia atual
permite uma qualidade excepcional
de som, por exemplo.
JR
– Mas será que, para isso, o
consumidor está disposto a ler um
manual de instruções com 300
páginas?
GILLES
–Seestivermosnos referindo
a Bang & Olufsen, é tudo muito
simples. A alta tecnologia não sig-
nifica necessariamente complexida-
de – penso na qualidade. A alta tec-
nologiapossibilitaráqualidade.Mas
“EMPAÍSESQUECHEGAMAOMUNDODO
CONSUMO,OBSERVAM-SESEGMENTOS INTEIROS
DASOCIEDADEOBCECADOSPELOLUXO.”
1...,2,3,4,5,6,7,8,9,10,11 13,14,15,16,17,18,19,20,21,22,...115
Powered by FlippingBook