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REV I STA DA ESPM–
J A N E I RO
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F E V E R E I RO
D E
2005
JR
– Gostaria de iniciar pedindo-
lhe que falasse sobre a valorização
excessiva das aparências. O Sr. a-
credita que isso poderia produzir
resultados?
GILLES
– Certamente. A conde-
nação das aparências é uma tradi-
ção da filosofia, do pensamento
ocidental. Podemos encontrá-la
claramente formulada por Platão,
como também pelo resto das es-
colas grega, fenícias, nas obras dos
pensadores epicuristas e – em
seguida – pela igreja.
JR
–Portantoéumaquestãoantiga.
GILLES
– Ela perdura comoopen-
samento racional e adquiriu uma
nova ênfase no início do século
XVIII. Jean-Jacques Rousseau foi o
grande defensor dos novos argu-
mentos, que consistiam em afirmar
que, a obsessão pela aparência e
pelo luxo arruína as nações, destrói
a coragem dos indivíduos e as
virtudes morais...
JR
– Uma linha puritana.
GILLES
– Exatamente! Trata-se de
uma das correntes do pensamento
moderno, enão somentedoantigo.
Nos tempos atuais, há uma con-
tinuidade para denunciar as ar-
madilhas, a tirania das aparências.
As coisas perduram com novos
conceitos, por exemplo, ocasi-
onando vítimas – que é uma nova
maneira de abordar a questão – a
tirania damoda, do consumo, mas
também a tirania das marcas entre
os adolescentes, uma outra face
atual dademonstraçãodas aparên-
cias através do conformismo.
JR
–Na sua entrevista, para aVeja,
o Sr. disse que o conformismo é,
sobretudo, uma característica dos
adolescentes. Por quê?
GILLES
–Você tem razão de per-
guntar. E ia mesmo esclarecer este
aspecto. Naturalmente, o con-
formismo–emesmooconformismo
do luxo – continua a existir. Mais
especificamente, em países que
chegam ao mundo do consumo,
como a China, a Rússia, e mesmo
oBrasil, observam-se segmentos in-
teiros da sociedadeobcecados pelo
luxo, peloconsumoepelasmarcas,
participando de um conformismo
total. E a satisfação, o prazer são
atribuídos às aparências – uma
maneira de valorizar-se e de ser
valorizado pelos outros. Mas, nas
nações européias – em parte tam-
bém na americana e em uma de-
terminada classe média dos países
emergentes – há uma outra relação
com as aparências, que não mais
se identifica com o conformismo,
mas exige – sobretudo –umabusca
sensual.Éocontráriodacultura tirâ-
nica, uma vez que o importante é
encontrar sensações, ter uma es-
pécie de festa privada, pessoal, por
intermédio dos objetos, das mais
belas coisas que produziram os
homens. Ao falar sobre isso, na
“ACONDENAÇÃODASAPARÊNCIASÉUMATRADIÇÃO
DAFILOSOFIA,DOPENSAMENTOOCIDENTAL.”
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