Revista ESPM Mai-Jun 2012 - NEM BABÁ, NEM BIG BROTHER a eterna luta do indivíduo contra o Estado - page 95

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pessoal. Sob o manto desse
ethos
individualista, o que
devemos esperar do Estado brasileiro?
Parece-me indiscutível que o espaço privado de
nossa existência deve ser preservado de qualquer
maneira. Faz parte das grandes conquistas morais da
modernidade iluminista o direito ao voto e à escolha
religiosa, por exemplo. Entretanto, a racionalidade
intrínseca à ordem democrática garantidora da liber-
dade possível ergue-se soberana no que concerne à
regulação de nossos comportamentos públicos. Se a
ordem legalmente constituída deliberar que crianças
não devem mais aparecer em novelas televisivas ou
em peças publicitárias, devemos reconhecer que essa
é uma demanda legítima do poder estatal. Em nome de
consensos éticos (a heterogeneidade da sociedade civil),
o Estado deve e tem por obrigação sobrepor-se à iracun-
da e desenfreada vontade do mercado de locupletar-se
sempre que possível...
Por fim, em nossa modernidade tecnológica, a huma-
nidade, em sua sede insofreável por liberdade pessoal,
tem no controle democrático da sociedade civil sobre o
poder constituído a legitimidade das leis.
O nosso motorista parado no trânsito de São Paulo
deve, para que haja vida civilizacional possível, respei-
tar a fila que o faz perder a vida no congestionamento.
Paradoxo? Sim! Afinal de contas, nosso motorista quer
liberdade, mas ele é livre apenas para cumprir as normas
e as leis. Ou, se não, para consumir segundo os padrões
mercadológicos da ordem capitalista de produção. Fora
das normas, das leis e do consumo não há vida possível.
Ou deveríamos afirmar, junto a Rousseau, não há vida
autêntica possível, pois as sociedades baseiam-se na
coerção externa e na disciplinirização interna dessa
criatura intratável que é o ser humano para forjar o
convívio civilizacional –
ad baculum
...
Entretanto, como bemnos ensinou o filósofomarxista
Walter Benjamin, para compreendermos o ser humano,
não basta possuirmos uma razão analítica e crítica dis-
posta a verificar seu
modus vivendi
. Para compreendermos
em verdade essa criatura perdida na solidão cósmica,
devemos amá-la sem qualquer tipo de esperança...
Eduardo Oyakawa
Escritor, publicou
Lâminas do cotidiano
,
O azul dos dias
,
e
A espiritualidade da palavra
, pela Stilgraf editora.
Professor de filosofia e lógica da argumentação na ESPM
Interessaaosujeitomodernoapenaselemesmo, jáqueomundodosoutros
significaapenasumempecilho intratável à felicidadepessoal. Sobomanto
desse
ethos
individualista, oquedevemosesperar doEstadobrasileiro?
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