 
          maio/junhode2012|
        
        
          
            RevistadaESPM
          
        
        
          
            99
          
        
        
          desconcertante e cambiante de identida-
        
        
          des possíveis, com cada uma das quais
        
        
          poderíamos nos identificar – ao menos
        
        
          temporariamente”, como Hall descreve
        
        
          em seu livro, aqui anteriormente citado.
        
        
          Assim, pode ser observadoque a teoria
        
        
          social traz à discussão a importância
        
        
          dos valores culturais que, por sua vez,
        
        
          representam a sociedade e os grupos
        
        
          que a constituem. A cultura, que é fer-
        
        
          ramenta para a perpetuação dos valores
        
        
          sociais transmitidos desde tenra idade
        
        
          pela mãe ao bebê, também é a base para
        
        
          a identificação de integrantes de um
        
        
          mesmo grupo social. A situação contem-
        
        
          porânea amplificou essa relação através
        
        
          dos códigos que regem o pertencimento
        
        
          aos grupos, cada vez mais midiatizados
        
        
          e vendidos abertamente pela comunica-
        
        
          ção de massa e pelos valores inclusos no
        
        
          consumo. Quantomaiores sãoas cidades,
        
        
          os países, os grupos sociais, maiores são
        
        
          tambémos esforçospara fazer parteenão
        
        
          ficar à margem da sociedade. Pertencer
        
        
          significa ter uma identidade comum,
        
        
          avalizada, menos vulnerável a críticas e
        
        
          ao abandono – algo como não se perder
        
        
          namultidão ou tornar-se alguém. Pode-se
        
        
          dizer que o sentido é de “seduzir e abusar
        
        
          por meio do jogo da aparência” – como
        
        
          cita Gilles Lipovetsky em
        
        
          
            A era do vazio
          
        
        
          (Editora Manole, 2005) –, de certa forma
        
        
          envoltonanuvemda particularização, da
        
        
          interaçãoeda espontaneidade. Verbaliza-
        
        
          se que o “afetado e o padronizado” não
        
        
          têm mais espaço, mas para fazer parte
        
        
          de uma tribo há de seguir seus códigos.
        
        
          Parte desses códigos é representada por
        
        
          posse e bens de consumo.
        
        
          No livro
        
        
          
            A arte da vida
          
        
        
          (Editora Zahar,
        
        
          2009), Zygmunt Bauman afirma que
        
        
          “além de uma fragrância incomum, eles
        
        
          oferecem um emblema olfativo de mag-
        
        
          nificência e pertencimento ao grupo dos
        
        
          magnificentes”. Isso gera um “certo tipo
        
        
          de êxtase e outros semelhantes [que]
        
        
          combinamosentimentodepertencimen-
        
        
          to a uma categoria exclusiva – um grupo
        
        
          vetado a quase todos os outros, como um
        
        
          distintivo do supremo bomgosto, discer-
        
        
          nimento e
        
        
          
            savoir-faire
          
        
        
          (demonstrados pela
        
        
          exibiçãodeobjetos oupela visita a lugares
        
        
          que são fechados para os outros)”. Em
        
        
          suma, o sentimento de viver algo exclusi-
        
        
          vo e de estar entre – nãonecessariamente
        
        
          ser umdos – os escolhidos, agrega valores
        
        
          que explicama vida e suas escolhas para
        
        
          o próprio sujeito, em um moto-contínuo
        
        
          incessante, capaz de sugerir até a tão
        
        
          discutida sensaçãode aceleraçãoda vida.
        
        
          Por sua vez, Michel Maffesolli, em
        
        
          
            O mistério da conjunção – ensaios sobre
          
        
        
          
            comunicação, corpo e socialidade
          
        
        
          (Editora
        
        
          Sulina, 2005), aponta para outro traço
        
        
          relevante da contemporaneidade, acer-
        
        
          ca dos elementos que pontuam a vida
        
        
          cotidiana e dos jogos que a compõem,
        
        
          visto que sua manutenção e sua força se
        
        
          preservam na pouca importância deles
        
        
          mesmos, possuindo a “permanência do
        
        
          Quantomaioressãoascidades, ospaíses, osgrupossociais,
        
        
          maioressãotambémosesforçosparafazerparteenãoficar
        
        
          àmargemdasociedade.Pertencersignificateruma identidade
        
        
          comum, avalizada,menosvulnerável acríticaseaoabandono–
        
        
          algocomonãoseperdernamultidãooutornar-sealguém
        
        
          Vladimir Wrangel