Revista daESPM –Maio/Junho de 2002
          
        
        
          
            33
          
        
        
          referentes às diferenças hemisféricas se
        
        
          deslocaram
        
        
          
            paracadavezmais longedas
          
        
        
          
            descobertas da pesquisa básica
          
        
        
          ” (grifo
        
        
          meu). Os autores referem-semesmo “à
        
        
          avalanche da literatura popular” sobre
        
        
          tal discrepância, incluindo (pág. 320) a
        
        
          idéia de que “as diferenças entre pesso-
        
        
          as” – por suposto, pessoas mais criati-
        
        
          vas oumenos criativas – “podem estar
        
        
          relacionadasàdiferençanograuemque
        
        
          elasusam seusdoishemisférios”– idéia
        
        
          “tãoatraentequecativoua simpatiados
        
        
          meios de comunicação populares.”
        
        
          “Oprincipal problemanessas alega-
        
        
          ções” – afirmam os autores, de forma
        
        
          clara e inequívoca (pág. 325) – “é que
        
        
          há pouca coisa em termos de evidência
        
        
          científicaque ligueacriatividadeaohe-
        
        
          misfério direito e menos ainda de evi-
        
        
          dênciaqueespecifiquea ligaçãodegraus
        
        
          decriatividadecomograudeutilização
        
        
          dohemisfériodireito”.Eudeveriacolo-
        
        
          car em grifo esse parágrafo!
        
        
          •   •   •
        
        
          Haveria algo a acrescentar?
        
        
          hemisfério direito produzirá desenhos
        
        
          respeitáveis, atémesmoemadultos sem
        
        
          treino. O caso é que amaioria das pes-
        
        
          soas nãodá ao cérebrodireito a oportu-
        
        
          nidade de mostrar seus talentos. O he-
        
        
          misfério esquerdo verbal e analítico
        
        
          (sem aptidão artística) se envolve e in-
        
        
          terfere. A tendência natural de classifi-
        
        
          car e analisar uma figura ou uma cena
        
        
          antesdedesenhá-la, segundoopontode
        
        
          vista de Edwards, é a fonte dessa inter-
        
        
          ferência.
        
        
          OmétododeensinodeEdwardspre-
        
        
          tende reduzir a quantidade de envolvi-
        
        
          mento do hemisfério esquerdo no pro-
        
        
          cessodedesenhar.Numde seusprimei-
        
        
          ros exercícios, o estudante deve fazer a
        
        
          cópia a lápis de um desenho bem deta-
        
        
          lhado de uma pessoa – com a figura de
        
        
          cabeça para baixo. O raciocínio é sim-
        
        
          ples.Decabeçaparabaixo, a figuranão
        
        
          é tão fácil de ser reconhecida.De fato, é
        
        
          difícil classificar qualquer de suas par-
        
        
          tes. Edwards propôs, assim, que o he-
        
        
          misfériodireitopode realizar a tarefade
        
        
          copiardecabeçaparabaixo sema inter-
        
        
          ferência do esquerdo. De acordo com
        
        
          Sim,porque
        
        
          
            Cérebroesquerdo,cérebro
          
        
        
          
            direito
          
        
        
          relata um caso que não só se con-
        
        
          fronta comminhas dúvidas sobre a possi-
        
        
          bilidadede“treinar”ou“esquentar”umhe-
        
        
          misférioparaefeitosprodutivos,comotam-
        
        
          bém porque a explanação toda é muito
        
        
          elucidativa–eo finalmuitocômico.
        
        
          Os autores comentam o método de
        
        
          uma professora de arte da Califórnia,
        
        
          Betty Edwards, apresentado em seu li-
        
        
          vro
        
        
          
            Desenhando com o lado direito do
          
        
        
          
            cérebro
          
        
        
          (J.P.Tarcher,LosAngeles, 1989
        
        
          – aliás, já traduzido noBrasil, Ediouro,
        
        
          2000) – que, pessoalmente, eu tomaria
        
        
          por paradigma de toda essa atual e
        
        
          simplistadicotomia.Acheimais impar-
        
        
          cial confiar todaadescriçãodocasoaos
        
        
          autores, sem depender de autorização
        
        
          de sua editora para a longa transcrição
        
        
          a seguir (dispensando as aspas), bene-
        
        
          ficiadopelaconfortável coincidênciade
        
        
          ela ser aminha própria.
        
        
          Relatam os autores: sua premissa
        
        
          básica (deBettyEdwards) é direta: sob
        
        
          ascondiçõescomuns, éohemisfériodi-
        
        
          reitodocérebroque temhabilidadepara
        
        
          desenhar. Quando deixado sozinho, o