Annuncios do Almanak Laermmert - page 22

Enquanto os jornais iam colocando o Brasil na rota da
comunicação e da construção de uma imagem nacional, as
editoras iam, paralelamente, suprindo a população letrada com
os mais distintos gêneros literários e produtos editoriais. Saber
do seu tempo, dos lugares, das pessoas, das questões – essa
era a base das informações a serem reproduzidas (ou mesmo
engendradas) e disseminadas, de diferentes formas, pela imprensa
jornalística e outras modalidades editoriais, abrangendo desde
estampas e opúsculos até os volumes mais encorpados. Emmeio
a essa produção, constatou-se em certo ponto a necessidade de
sistematizar informações sobre o entorno imediato em que se
vivia: a cidade, ouprovíncia, e suaorganização, sua administração,
seus principais agentes, seus serviços, horários, locais, gentes do
comércio, da indústria e tanto mais. Era preciso saber fazer algo
queorientasseasdemandasdequemprecisava,porexemplo,obter
um documento, saber a qual repartição se dirigir, onde comprar,
com quem falar sobre essa ou aquela questão ou informar-se dos
períodos propícios, horários precisos e outras indicações úteis para
as variadasnecessidadesdodiaadia. EstavanascendonoBrasil, no
início da primeira década do séculoXIX, o almanaque.
Suas origens vão bem mais longe. Tudo indica que o termo
deriva da palavra árabe
al-mana- kh
, cujo significadooscila entre “a
conta” e “o calendário” (ou ciclo anual), além de outras acepções
(Câmara, 2009).
O primeiro almanaque oficial no Brasil remonta à chegada
da Família Real, em 1808, quando é permitida a instalação das
primeiras prensas manuais. (As iniciativas para instalação de
tipografias nos séculos anteriores foram todas reprimidas pelas
autoridades portuguesas.) Um
Almanack da Corte do Rio de
Janeiro para o anno de 1811
, organizado por Antonio Duarte
Nunes foi confeccionadonasoficinasda
Impressão Regia
. Plancher-
Seignot publica, em 1829, o
Almanak Imperial do Commercio e
das Corporações Civis eMilitares do Imperio do Brazil
.
Teve singular presença, entre a década de 1850 e o final do
século XIX, o gênero
Almanak Administrativo, Mercantil e
Industrial
– tal como o da Bahia, de 1855, que teve sequência até
1863 pelo menos. Pouco após a primeira edição do
Almanak
da
Bahia, foi impresso o da província de São Paulo para 1857. Com
variantes, foram lançados ao longodo séculoXIX inúmeros desses
compêndios, sob as designações
Almanak
,
Almanack
ou mesmo
Almanach
, específicos de províncias e municípios: o
Almanak
Administrativo, Mercantil e Industrial de Pernambuco
, de 1860,
bem comoo
doMaranhão
; o
Almanak da Provincia das Alagoas
,
o
do Ceará
, o
do Paraná
, o
de Goyaz
etc. Em alguns casos,
alcançou-se periodicidade regular de até uma década ou mais.
Cidades também foram contempladas com edições específicas:
Amparo, Juiz de Fora, Mogi Mirim, Barbacena, Ouro Preto e São
João do RioClaro, entre diversas outras.
Também de meados do século XIX é o
Almanaque de
Lembranças Luso-Brasileiro
, editadoem Lisboa. Lançadoem1851,
circulou até 1932. Das cem páginas iniciais da primeira edição,
chegou a quinhentas, sendo às vezes acrescidode um suplemento
(Romariz, 2011).
Esse gênero de almanaque, essencialmente de entretenimento
e com textos geralmente curtos, passou a conquistar leitores
e a alavancar novos títulos. Nessa linha, de 1876 é o primeiro
Almanach Litterario de São Paulo
, editado por JoséMaria Lisboa
e que permaneceu em circulação até 1885. O
Almanach das
Familias
éde1877; o
Almanack LitterarioAlagoano das Senhoras
é de 1888. Alguns passaram a constituir obras de divulgação
eclesiástica, comoo
Almanach de Leituras Catholicas
.
Versões temáticas e segmentadas também buscaram inserção
nesse universo editorial:
Almanak do Amigo dos Surdos-Mudos
,
de1888;
Almanak do Restaurant Democrata
, de1890;
Almanach
Theatral
, de 1898;
dos Alienados; do Palhaço Augusto
etc.
Por sua importânciae visível expansão, os almanaques passaram
a ser vislumbrados por empresas para a divulgação de seus
próprios produtos. Assim, servindo ao
marketing
de fabricantes
e revendedores, essas publicações também passaram a ser
distribuídas como brindes, por vezes gratuitamente e, em outras,
vinculadas à aquisição de algum produto.
Esta última modalidade foi o caso de jornais e revistas. Desde
meados dos anos 1860, o
Correio Paulistano
distribuiu, todo fim
de ano, sua
Folhinha
, formato simplificado do almanaque. De
1878 éo
AlmanakMequetrefe.
A
Gazeta de Noticias
, lançada em
1874, passouapublicar apartirde1879 seu
Almanack
, emedições
que alcançavam de 20.000 a 25.000 exemplares, destinados aos
assinantes ou vendidos a 1$000 (mil-réis) cada.
Se essas vertentes fortaleciam adinâmica editorial e a irradiação
dos almanaques, umdeles teria especial destaque nesse cenário: o
almanaquedistribuídocomobrindepor laboratórios farmacêuticos.
Ao mesmo tempo que divulgavam suas marcas, descrevendo
copiosamente as serventias e eficácia de seus produtos, talvez
tenham sido os responsáveis, no final do século XIX, pela mais
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