Maio_2008 - page 96

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R E V I S T A D A E S P M –
MAIO
/
JUNHO
DE
2008
Pluralidade histórica do
Ser
serem chamados assim. Pode-se as-
sociar isso ao problema da verdade,
aindamaisporque,numaperspectiva
eurocêntrica, sempresepensouquea
Europa fosseocentrodomundo, en-
quantoqueosoutrospovos seriamos
primitivos,concepçãoquecontribuiu
para fazerdoeuropeuummodeloque
deveserseguido, imitadoealcançado.
Mesmo o positivismo acreditava ter
alcançado a verdade e poder ser um
modelouniversal deciência.
Portudoisso,somoslevadosàconclusão
dequenão sepodemais acreditar, re-
afirmando a perspectiva eurocêntrica,
quealcançamosaverdadeeadetemos.
Estadescobertarevelaquenossaespécie
enossacultura sãoapenasumadentre
muitas, o que tende, inevitavelmente,
a enfraquecê-las. Este seria um dos
aspectos, ou sintomas, do
niilismo
conformeNietzscheocompreendeu,e
tambémumamanifestaçãoconcretada
idéia de
diferença ontológica
segundo
Heidegger,jáqueomundo,nãomaisse
identificandocomoSer,podeoferecer
dele apenas interpretaçõesmúltiplas e
distintas. Dito isso, não se podemais
falar em um único mundo objetivo,
masnumconjuntodemundosdiversos.
O próprio Heidegger pensou nisso e
exprimiu esta idéia dizendoque o Ser
nãoéobjeto,mas
evento
.Paraele,esse
eventosetraduzemtermosdeabertura,
queéoprocessohistóricodeumasérie
decondiçõesquenospermitemfalarde
objetos, coisas, e interpretar omundo
tal como ele se apresenta a nós. Para
entenderesteaspecto, sugirovoltarmos
rapidamente a Emmanuel Kant, ofiló-
sofodas formas
apriori.
Omundo,paraKant,éumconjuntode
percepções, sensações, que ohomem
enquanto tal –postoquea
razãopura
,
segundo Kant, é universal e, portanto,
igualpara todos–organizaao redorde
esquemas,modelos,categoriasquesão
apriori
,ouseja,quenãodependemda
experiência sensorial,
aposteriori
, para
se legitimarem. Quando a água vaza
do copo, não sabemos se é realmente
ocopoacausadomolhar damesa, já
que, na verdade, estabelecemos entre
estes dois eventos uma conexão que,
emúltima instância, sóexistenonosso
pensamento. Sendo assim, podemos
pensar que o homem nada faz além
de colocar em conexão, dentro dos
Omundo, para Kant, é um conjunto de
percepções, sensações, que o homem
enquanto tal – posto que a razão pura,
segundo Kant, é universal e, portanto,
igual para todos – organiza ao redor de
esquemas, modelos, categorias que são
a priori
, ou seja, que não dependem da
experiência sensorial,
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