Maio_2008 - page 79

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MAIO
/
JUNHO
DE
2008 – R E V I S T A D A E S P M
tivas das democracias modernas, no
qual o cidadão, tecnologicamente
estendido, passaacriar formadepar-
ticipaçãoativaeem rede.
MÍDIASNATIVAS:DE
CONCEITOACAMPO
DEPOSSIBILIDADE
Em uma obra histórica de 1962, Um-
bertoEco
13
defineoconceitode “obra
aberta” como uma forma estética que
propõe uma problemática nova e
como “uma categoriamais restrita de
obras que, para suas capacidades de
assumir diversas e imprevistas estrutu-
ras fisicamente inacabadas, podemos
definir como obras emmovimento(...)
– obras nas quais o receptor colabora
efetivamente a uma criação do objeto
estético”. A forma estética proposta
por tais obras não é definida, fechada
num conceito objetivo de belo ou de
simetria, mas pertence ao âmbito das
possibilidades que, em lugar de fechar
aexperiênciaeoconhecimentonuma
forma definida, o abre a pluralidades
contraditórias de sentidos, práticas e
significados.Oconceito
MídiasNativas,
pode ser definido, apartir desseponto
de vista, como um conceito aberto,
istoé,umcampodepossibilidade,um
conceito emmovimento que, com o
tempoeasdiscussões, passaaassumir
formas diversas.Desdeocomeço,mí-
dias nativas foi pensado como um
evento-laboratórionoqualosconteúdos
propostos pelas produções midiáticas
dos participantes deveriam propor e
elaborar significados.
Na primeira edição pensamos o
mí-
dias nativas
como a apresentação das
produções midiáticas e das narrativas
eletrônicas indígenas criadas pelos
povos nativos e pelas diversas etnias
indígenasdoBrasil.Nasegundaedição,
modificamostalconceito,epassamosa
pensaroeventocomoasnovas formas
tecnológicas do social elaboradas
pelos jovensdasperiferias,pelos
blog-
gers,rappers,motoboys
,moradoresde
ruaseporváriosexponentesdeetnias
indígenas que, através das redes digi-
tais, passaram a produzir conteúdo e
adisponibilizá-lona rede, destruindo
assimavelha formadaesferapública
baseadaem
agenda-setting
, líderesde
opinião, público-alvoetc.
No decorrer do evento as reflexões
e os debates confluíram para definir
como “nativa” a mídia e não os su-
jeitos. Trata-se de uma deslocação
conceitual importante que, pondo
ênfase na crise do antropocentrismo,
define as sociabilidades e as culturas
contemporâneascomorealidadesque
nascem nas redes e nos fluxos in-
formativosdigitaiseque, em seguida,
tomam formas e espaços em locali-
dades e topografias conectadas.
Abrem-se assim as possibilidades de
pensar um novo conceito de virtuali-
dadecomotambémumoutroconceito
de social. Tornam-se, em tal perspec-
tiva, inadequados um conjunto de
conceitos(odeurbano,odeatorsocial)
eumconjuntodedualidadesquecon-
trapõemocentroàsperiferias,acultura
eruditaàculturapopular, a técnicaao
homem, amídiaao intelecto.
Oconceito (leia-secampodepossibili-
dade)
mídiasnativas
continuaabrindo-se
anovas interpretações...
MídiasNativas
–maisdoqueumcon-
juntodedefiniçõesedeconceitosétam-
bémumapráticaeumaformadehabitar
na qual construímos conteúdos e nos
apropriamos domundo por meio das
tecnologias digitais, fazendo da nossa
essência uma tecnologia connectiva,
que cria aquilo queD. De Kerckhove
define como tecnopsicologias. Mídias
nativasé,portanto,alémdeumconceito
emmovimento,umcampodepossibi-
lidade, um ecossistema no interior do
qual habitam todos aqueles quecriam
idéias, pensamentos, culturas, tempo
livre,prazer,arte,conteúdosna rede.
1.
Heiddeger
Dialogos ediscursos
, Petrópo-
lis,Vozes1984.
2.
McLhuanM,
AgalaxiadeGutenberg
, S.
Paulo,Nacional 1977.
3.
VattimoG.,
A sociedade transparente
,
Lisboa, edições70, 1990.
4.
Vattimo,G., 1991, p. 43.
5.
VattimoG., 1990.
6.
VattimoG., 1990.
7.
VattimoG., 1990.
8.
VattimoG., 1990.
9.
VattimoG., 1990.
10.
VattimoG., 1990.
11.
MEYROWITZ J,
No senseof place
, 1984
NewYorkUniversityPress.
12.
Deleuze.eGuattari,
Mil Platôs
, S,, Paulo,
2001Ed.34.
13.
O títulodoúltimo livrodeUmbertoEco
é
DaArvoreparao Labirinto
.
(Dall’ alberoal labirinto).
MASSIMODI FELICE
Sociólogo pela Universidade “La Sa-
pienza” de Roma, professor do Depar-
tamentodeRelaçõesPúblicasdaEscola
deComunicaçõeseArtes (ECA)daUSPe
coordenadordoCentrodePesquisasobre
Opinião Pública emContextos Digitais
(Cepop-Atopos) daECA.
NOTAS
Bologna. Incisione IC.Duchet, 1592.
ES
PM
1...,69,70,71,72,73,74,75,76,77,78 80,81,82,83,84,85,86,87,88,89,...132
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