Julho_2008 - page 42

Entrevista
42
R E V I S T A D A E S P M –
JULHO
/
AGOSTO
DE
2008
queproduzàbasedecombustível fós-
sil...”.Entãoémelhorassumir issoagora
doquecontinuarinsistindonessafalácia.
OutroexemploéodaAmanco,umaem-
presaque fabrica tuboseconexões. (Se
alguémdaAmanco leressamensagem,
certamente não vai gostar de eu tê-la
definidocomoumaempresade tubose
conexões,poisoseu fundador,Stephan
Schmidheiny, omesmo da Fundação
Avina e doWorld Business Council
Development, criou a Amanco com
umaclaradefinição:umaempresaque
transportavidaporque transportaágua,
e água é vida). AAmanco se define,
portanto, comouma transportadora de
vida, um bem preciosíssimo. Para ter
uma idéia, eles criaramum sistemade
gestãocomo focoemsustentabilidade,
demaneiraqueaavaliaçãoearemune-
raçãodosseusexecutivosestãoligadasa
esseprocesso,aessesvalores,dosquais
háumaclaraverificaçãoemensuração.
Eu convidei aMarise Barroso, diretora
daAmanco,para fazerumapalestrana
Full Jazzeexplicarcomo isso funciona;
alémde terumaconversamaravilhosa,
recentemente com oMarcos Bicudo,
diretor-presidentedaAmanconoBrasil.
Entreoutrascoisas,aAmancosevoltou
paraosetordosencanadores,umacate-
goria importante na construção civil,
e percebeu que essas pessoas ficam,
muitas vezes, àmargem do chamado
“caminho profissional”. AAmanco in-
veste,diretamente,nacapacitaçãopara
essesprofissionais,nãoapenaselevando
seu nível intelectual e técnico, como
também resgatando a sua auto-estima,
ampliando a sua inserçãonomercado
e na sociedade, e por aí vai. O caso
daAmanco acabou não estudado por
Harvard e contribuiu para a definição
daquiloque a instituição entende hoje
por “processos corporativos voltados à
sustentabilidade”.
GRACIOSO
–UmprofessordeHarvard,
MichaelPorter,háalgunsanos,escreveu
umartigodizendoqueo idealseriaque
asempresasquedefendemasustentabi-
lidade procurassem, de alguma forma,
integrá-la em suas próprias estratégias
denegócios.
CHRISTINA
–AAmanco foiagoraven-
didaaumagrandeempresamexicana,a
Mexichem.Rezoparaqueasforçaslumi-
nosasdouniverso inspiremessegrupoa
absorveraculturapreviamenteexistente
naAmanco,aoinvésdeimporumaoutra
quepossadeteriorartudooqueelacons-
truiu. AntesdeentrarnoBrasil,adivisão
latino-americanadaAmancoconvidou
seusconcorrentesaseunire tentarme-
lhoraraqualidadedaáguaemcadaum
dospaísesemqueatuam,argumentando
que–em se tratandode fabricantes de
tuboseconexões,que transportamesta
riqueza – é fundamental incentivar a
responsabilidade nas políticas públicas
de saneamento. Sabiamque, noBrasil,
90%dos internamentoshospitalaresde
crianças sãomotivadospor infecções a
partir deáguacontaminada? Se incluir-
mos crianças eadultos, onúmeroéde
70%.Seeu fosseogovernante,alémde
dizerqueprecisamosdemaishospitais
edemais leitos,nãodeixariadepensar
prioritariamente na erradicação desses
90%de internações infantise70%das
internações gerais. Quantas crianças
estão, nestemomento, em São Paulo,
brincando dentro de esgotos, a céu
aberto? Por mais que, em São Paulo,
tenhamosaSABESP,umaexcelenteem-
presa, aáguaqueconsumimoscontém
elementosdegrandepericulosidade,que
nenhum tratamento conhecido pode
eliminar. Ainda não existe tratamento
quelimpe100%aágua.Aíeupergunto:
“de onde vêm todas essas coisas in-
desejáveisnaágua?”Vêmdasempresas
que–enquantopromovemcampanhas
investindo nas criancinhas da favela
ao redor da sua fábrica – poluem os
rios e envenenam a água.Voltando à
Amanco: ela se reuniucomos concor-
rentesedeuumgrandeexemplodoque
será omundo dos negócios. O slogan
“competir não é destruir”, resgata até
mesmoa raizetimológica,em latim,da
palavra:competere,oucaminharjuntos.
Competirnãoéeliminarosoutrospara
(sobre)viver.Então,paraencerrarocaso
daAmanco,valelembrarqueelaentrou
há pouco no Brasil e, nesse tempo, já
“ELAESCREVEUUMACARTAPARAOPREFEI-
TODENOVA IORQUE, PERGUNTANDOPORQUE
SUA FILHAVOLTAVAPARACASATODOSOS
DIASCOMAQUELEASPECTOTENEBROSO.”
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