Julho_2008 - page 33

Alexandre
Espirito Santo
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JULHO
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AGOSTO
DE
2008 – R E V I S T A D A E S P M
ALEXANDREESPIRITOSANTO
Diretor de Graduação do curso de Rela-
ções Internacionais e Chefe do Depto. de
Economia e Finanças da ESPM-RJ. Econo-
mista-ChefedaPlenusGestãodeRecursos.
Colaborou Jair AntônioMiller, aluno do 7
o
período deAdministração doRJ.
Alémdos já tradicionais (opções, termos e swaps), ressurgemos
CDOs (Collatera-
lizedDebtObligation)
enascemos
SIVs (Structured InvestmentVehicle)
,
espécies de
empresas criadas por bancos ealguns hedge funds
, paraatuar
nomercadodecrédito.
ES
PM
visão, grandepartedessasmodernidades
foifomentadapelaganânciadeexecutivos
e
traders
debancoseempresas,desejosos
por aumentarem cada vez mais seus
bônus e participações acionárias. Como
asoperações, viaesses instrumentos, são
emgeralmuitolucrativas,easgratificações
independemdaperenidadee solidezda
instituição(sãofunçõesdoresultadoobtido
epagasacadasemestreouano),fazê-las
emprofusãovirouummaná.Todavia,em
virtude da abrangência dosmesmos, os
riscosseelevaramexponencialmenteeos
ganhosextraordináriossãoobtidosàcusta
deumfuturodedúvidas,quandoasopera-
çõesefetivamentevenceremouumeloda
correntequebrar.Paraagravarasituação,as
agênciasderating(classificadorasderisco)
falharamaoatribuíremnotasmaioresaos
títulos lastreados emhipotecas
subprime
,
comoconcluiuaSEC(SecuritiesandEx-
changeComission), aCVMamericana.
Essasagênciasforamcomplacentescom
vários emissores, num jogodecumpli-
cidade promíscuo, desviando-se das
normas tradicionais, pois havia nítido
conflitode interesses.
Voltandoaoimbrógliodosetorimobiliário
americano,estopimdacriseatual,devido
àsoperaçõescomderivativos,muitos
hedge
fundse investidores institucionaisadquiri-
ram títulos e “produtos” de classificação
duvidosa, oumesmoAAA (e que hoje
sabemos terem sido demá qualidade),
alocando-os em suas carteiras, dissemi-
nandoposiçõesarriscadas.Quandouma
empresa “quebra”, seus títulos perdemo
valor integral (virampó) eos fundos que
os detêm se vêem emmaus lençóis.O
resultado é quemuitos irão “quebrar”.
Agravou-seoquadroquandoessacadeia
de infortúnios chegou aos bancos, que
ajustaramsuasperdas(estimativasotimistas
indicamque possam chegar aUSD0,8
trilhão),potencializandoacrise.Naprática,
aliqüidezempoçoueoFEDtevedeintervir,
jogandoos juros para2%, socorrendoo
sistemaparaquenãoentrasseemcolapso,
poucoimportando-secomomoralhazard.
Bancostradicionaistiveramdesecapitalizar
eoutrosforamvendidosapreçosmódicos,
caso do Bear Stearns. Conseqüência:
Muitos gananciosos de Wall Street
perderam seus empregos... Mas
estão ricos! Fica claro que agentes
reguladores foram displicentes e
que, a partir de agora, deverão
enveredar esforços paramonitorar,
com maior atenção, os mercados
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financeiros. Prova disso foi a de-
cisão do BC americano de exigir
que os credores passem a verificar
a renda e os ativos dos tomadores
de empréstimos, a partir de 2009.
Por fim, resta responder à pergunta
propostanoprimeiroparágrafo. Penso
queofuturodecurtoprazoapresentará
enormes desafios para a economia
global. A cilada em que nos meteu
a globalização, nos últimos 15 anos,
exigirásoluçõesamargas.Osdesajustes
da economia americana, que geram
déficits gêmeos da ordem de USD 1
trilhão por ano, nocautearam o dólar,
oqueacelerouaaltadascommodities
em 2008 (vivemos o 3
o
choque do
petróleo), pondo lenha na fogueira
da inflação. Paradomá-la, as políticas
monetáriasserãomuitomaisrestritivas,
comomostram osmovimentos de al-
gunsbancoscentraisnosúltimosmeses,
subindoastaxasdejuros.Jurosmaiores
inibirão, mais à frente, a atividade
econômicaehaveráumarrefecimento
geral, que derrubará os preços das
commodities,oqueé ruimparapaíses
como o Brasil. Mesmo assim, apesar
do retorno dos déficits em conta
correnteedoespasmo inflacionário
atual, creio que nosso país esteja
mais bem preparado agora do que
em outras ocasiões para enfrentar
os dias difíceis que virão. Mas não
será fácil...
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