Julho_2008 - page 24

Herança
bendita
24
R E V I S T A D A E S P M –
JULHO
/
AGOSTO
DE
2008
e ignorância, trabalho árduo e
treinamento constante; ao invés de
jeitinho, qualidade total.
E assim se fez. O sucesso dessas
e de outras companhias foi obra
de intensa mobilização em nome
de valores absolutamente diversos
daqueles que, segundo alguns, rei-
navamnopaís.Uma subversãonão
só da lógica econômica, portanto,
mas de um auto-retrato cultural em
crescente difusão, também.
Inevitavelmente, surge a questão:
como, nessas empresas, uma cul-
tura negativa presumivelmente tão
arraigadapôde ser viradadoavesso
em tempo tão curto? Sim, porque
a excelência dessas companhias
foi construída com mão-de-obra
brasileira – e, por conseqüência,
com todosaqueles traçosdecaráter
prodigamente atacados. O triunfo
dessasmúltisdesafiaa tesedoDNA
defeituoso; talvezosbrasileirosnão
fossem tão avessos ao trabalho e à
meritocracia quanto se imaginava,
nemcarentesdeambiçãoe iniciativa
quanto se supunha.A radical trans-
formação cultural apregoada era,
ao que tudo indica, perfeitamente
substituívelporumequivalentebem
menos rebuscado:ochoquedecapi-
talismo. Havia um Brasil moderno
à esperadeumaoportunidadepara
entrar em cena, e ela apareceu sob
a formadeevoluções relativamente
banais, mas decisivas, como priva-
tizações, estabilidade monetária e
abertura comercial.
Fica em aberto a discussão se, de
fato, o que essas empresas promo-
veram foi a construção de um con-
junto de princípios paralelo àquele
visto como vigente no país ou se
simplesmente souberam despertar
capacidadesevaloresadormecidos.
Independentemente da resposta,
o fato é que forjaram uma cultura
MARCUSAGUINIS
O triunfo dessasmúltis desafia a tese doDNA defeituoso; talvez os brasileiros não fossem tão avessos ao trabalho e àmeri-
tocracia quanto se imaginava, nem carentes de ambição e iniciativa quanto se supunha.
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