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J A N E I RO
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F E V E R E I RO
D E
2005–REV I STA DA ESPM
MaristelaGuimarães
André
A idéia de alienação nos fala da
relação “alter” (outro) como condi-
ção primeira do ser social. O ser
dos indivíduos é o seu processo de
vida real, naprodução imediatados
seus meios de vida, no seu habitat,
em decorrência de sua própria
organização corporal. Mas para
viver, antes de tudo, é preciso be-
ber, comer,morar, vestir-se e outras
coisasmais. Satisfeitas essas neces-
sidades associadas aos meios
desenvolvidos para tal, decorrem
outras e novas necessidades, lem-
brando que os indivíduos renovam
a sua própria vida, gerando e repro-
duzindo outros seres semelhantes a
eles, e o fazem de um determinado
modo, estabelecendo entre si rela-
ções de cooperação, embasadas em
pensamentos, idéias, concepções,
que compõem seus modos de re-
presentaçãodaproduçãomaterialda
vida. A consciência desse processo
revela os conteúdos gerados pelas
contradições e tensões percebidas e
vividos nessas várias dimensões. É
extrato da vida material da relação
de cada indivíduo com o outro:
mundo, seres, elementos naturais,
objetos, história etc.
Noentanto,omundomodernocom
a expansão dos diferentes níveis de
significação da produção indivi-
dual e coletiva, principalmente
através do consumo, não cessa de
acelerar seu modo efêmero (Gilles
Lipovetsky), de invadir novas es-
feras, de capturar em sua órbita
todas as camadas sociais, todos os
grupos etários e étnicos em tendên-
cias voláteis, como, por exemplo,
a moda, não distinguindo o pro-
fundodo superficial, ouditode ou-
tra forma, considerando que o pro-
fundo é superficial, e que o super-
ficialéprofundo,abandonando,por-
tanto a noção de que estruturas
profundas e permanentes condicio-
nam toda a vida, enquanto as
mercadorias representariam re-
flexos no dia-a-dia, sem maiores
conseqüências.
Esse processo costurado pelas tra-
jetórias de consumo, estrutura e
desestrutura a identidade dos indi-
víduos nas grandes metrópoles; de
um lado porque, diante das múl-
tiplas possibilidades oferecidas
pela sociedade demercado e sedi-
mentado nas relações de troca
(simbólicas ou não), estabelece um
senso de direção para as pequenas
escolhas diárias, principalmente
por intermédio dos meios de
comunicação demassa, e de outro
lado porque cultiva a superficiali-
dade dessas escolhas, através da
renovaçãodescartáveldosprodutos
e damoral do oportunismo.
Quando se tem clareza e discer-
nimento sobreoque se tomar como
profundoouestrutural, tem-secomo
pressuposta a existência de rela-
ções e condições necessárias para
a ocorrência de determinado even-
to, e o contingente, isto é, aquilo
que pode ou não acontecer, é
tomado como secundário ou inex-
plicável. Avidamoderna, nas gran-
desmetrópoles, inverteessa relação
fazendo com que o contingente
ocupeo lugardonecessário. Em sua
raiz, as tendências são contin-
gentes, podem ou não vingar, po-
dem ou não se tornar dominantes.
Sua permanência encontra-se
indeterminada e sua influência é
Omundomoderno, comaexpansãodosdiferentesníveisde
significaçãodaprodução individual ecoletiva,principalmente
atravésdoconsumo, nãocessadeacelerar seumodoefêmero
de invadirnovasesferas... (GillesLipovetsky).
Foto: Arquivo
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