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J A N E I RO
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F E V E R E I RO
D E
2005–REV I STA DA ESPM
ErnestoMichelangelo
Giglio
ra vários dias, incluindo longas
discussões sobre o atraso das pres-
tações. Em segundo lugar, nãohou-
ve processo comparativo, o que é
absolutamente necessário nessa
etapa. Que outros imóveis domes-
mo padrão ele viu? Nenhum. Em
terceiro lugar, o sujeito não tinha
nenhumconhecimento sobremorar
em cobertura (preço do condo-
mínio, ruído dos elevadores, pro-
blemas de infiltração da piscina,
etc.) e, não foi atrás, o que deve
ocorrer no processo padrão. Em
quarto lugar, o sujeito não buscou
informações com pessoas (por
exemplo,opróprioconstrutor) sobre
morar em cobertura. Em quinto e
último lugar, o sujeito não elegeu
critérios de corte realistas com sua
condição financeira e necessidades
atuais, não tendo nem o dinheiro
das semestrais (cujo valor ele mes-
mo estabeleceu) e nem a neces-
sidade de um espaço tão amplo
(320 metros de área útil) para um
jovem casal sem filhos.
Unindooscomentários sobreas três
etapas, chega-se à conclusão de
queestamos diantedeumacompra
por impulso,conformeomodeloem
etapas. Comparada às outras de-
finições de compra impulsiva,
vimos que a compra foi planejada,
jáqueocasal buscavauma solução
de moradia, olhava classificados e
visitava imóveis. A compra foi
racional, jáqueo sujeito fez contas
napontado lápis eelemesmoesta-
beleceu as condições de paga-
mento. A compra foi negociada, já
que houve troca de informações
entreovendedoreocomprador, até
se chegar a um contrato firmado
pelas partes. Não é, portanto, com-
pra impulsiva por falta de plane-
jamento; nem por prazer momen-
tâneo; nem por desejo incontro-
lável. Só que os processos decisó-
riosnãoseguiramospadrõesespera-
dos em cada etapa. Sobre as expe-
riências havia um estreitamento da
realidadedavidapassadana super-
valorização das experiências espa-
ciais no antigo apartamento (em
detrimento de todas as outras
experiências, tais como a união da
família). Sobre a expectativa de
um espaço de moradia, ela trans-
cendia os fatos do passado e do
presente, quebrando a lógica da
construçãodestasmesmas expecta-
tivas, ou seja, que o sujeito busca
onovo,mas numa continuidadedo
presente.
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Sobre o processo de es-
colha havia uma tomada de deci-
são marcada pela falta de lógica
(não buscar informações, não rea-
lizar comparações, assumir dívida
acima dos rendimentos atuais).
Permeandoosprocessosdas trêseta-
pas (experiências, expectativas e
alternativas),encontramosnodiscur-
so do sujeito indícios de regras
sociais de identidade e qualidade
devidaapartir das posses enãodas
realizações. Apesar de o sujeito, em
Acompra foi racional, jáqueosujeito fezcontasnaponta
do lápiseelemesmoestabeleceuascondiçõesdepagamento.
8. Em teoria das representações sociais, existe o termo ancoragem para designar esta progressiva mudança dos ideais de vida e acomodação dos fatos
novos. Maiores detalhes você encontra no texto de Moscovici(1988). Também existem referencias a dois princípios de busca do ser humano, que seriam
a ordenação e a superação, numa coexistência dialética constante. Maiores detalhes você encontra em Fromm Erich (1979), capítulo 3.
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