 
          
            107
          
        
        
          M A I O
        
        
          /
        
        
          J U N H O
        
        
          D E
        
        
          2 0 0 5 – R E V I S T A D A E S PM
        
        
          nada, por alguém que se julga
        
        
          detentor de um poder que, na
        
        
          verdade, não tem.
        
        
          AMALIA
        
        
          – É que a aparência, hoje,
        
        
          conta muito: a eloqüência, comu-
        
        
          nicação, capacidade de persuasão,
        
        
          argüição, argumentação, sedução,
        
        
          propaganda; o marketing tomou
        
        
          conta do sistema.
        
        
          JR
        
        
          – Não fale mal da nossa pro-
        
        
          paganda e marketing!
        
        
          AMÁLIA
        
        
          – Estou falando bem; sou
        
        
          demarketing. Sei porqueestudo isso.
        
        
          Vejoque temavercomantropologia,
        
        
          sociologia – as pessoas são treinadas
        
        
          para fazer entrevistas. E se você não
        
        
          tiver um critériomais rigoroso, sobo
        
        
          ponto de vista abstrato, sério,
        
        
          concreto, compra gato por lebre.
        
        
          MÁRIO
        
        
          – Os depoimentos que
        
        
          estãosendodadosaquisãobrilhantes
        
        
          e esclarecedores.Mas achoque está
        
        
          havendo uma tônica um pouco
        
        
          voluntarista, no sentido de expe-
        
        
          riência particular, pessoal, da
        
        
          empresa em que estou, o que vejo,
        
        
          observo, como lido com o que vai
        
        
          ou não acontecer. Deixe-me ser
        
        
          tambémvoluntarista, para sintonizar-
        
        
          me comodebate. Fiquei 38 anos na
        
        
          Olivetti e não fiz carreira; fiquei no
        
        
          mesmo lugar, mas atualizei-me
        
        
          ainda mais do que os que fizeram
        
        
          carreira, inclusiveospresidentes. Por
        
        
          isso, é preciso distinguir experiência
        
        
          de vivência e de idade – como esses
        
        
          fatores se equacionam no problema
        
        
          do trabalho, aproveitamento e da
        
        
          contribuição que as pessoas podem
        
        
          dar. Vou dar um exemplo: na Oli-
        
        
          vetti, acompanhei o ciclo de um
        
        
          instrumentodecomunicaçãoque foi
        
        
          a máquina de escrever. Quando fui
        
        
          para lá, a máquina era manual;
        
        
          passou amecânica; depois passou a
        
        
          ser elétrica; depois eletrônica e aí
        
        
          veioa informática.No tempoemque
        
        
          fiquei lá, não tinha só que me
        
        
          atualizar; tinha que me transformar
        
        
          numapessoacontemporâneademim
        
        
          e dos problemas queme obrigavam
        
        
          a atualizar-me. Não basta se atua-
        
        
          lizar; atualizar pode ser um ajuste
        
        
          de repertório. É preciso projetar esse
        
        
          repertório em termos dinâmicos  –
        
        
          precisa ser contemporâneo do que
        
        
          estáemmudança, enão sódoacon-
        
        
          tecimento adquirido e acumulado.
        
        
          Por exemplo, vi pessoas que, no
        
        
          organograma, tinham nível de
        
        
          diretor, chegaram a presidente, mas
        
        
          em termos de contemporaneidade,
        
        
          quando o mecânico passou para o
        
        
          elétrico, aquele presidente ficava
        
        
          obsoleto. E eu – que estava nomes-
        
        
          mo lugar – era o contemporâneo.
        
        
          Tinha feito da minha experiência
        
        
          uma experiência desdobrável e
        
        
          prospectiva.Nãobastaaexperiência
        
        
          nem a vivência do experimentado;
        
        
          há de estabelecer as condições do
        
        
          devir – daquilo que vem – porque o
        
        
          queestáali jáveiocomo ingrediente
        
        
          da sua própria morte. A máquina
        
        
          mecânica,  quando surge, já está
        
        
          condenada porque a elétrica já está
        
        
          correndo atrás dela e assim por
        
        
          diante. E a compreensão dos ciclos
        
        
          de vida vai ficando, cada vez, mais
        
        
          estreita. Comohojeogerenciamento
        
        
          estreita espaço e tempo. As pessoas
        
        
          não estão sendo contemporâneas;
        
        
          estão trabalhando com atualizações
        
        
          que já nascem velhas.
        
        
          AMALIA
        
        
          –Oquevocêestádizendo
        
        
          é importante; oPelé, uma vez, disse:
        
        
          “Omeu sucesso tem a ver com o
        
        
          fato de que eu sempre soube aonde
        
        
          a bola ia chegar”.
        
        
          MÁRIO
        
        
          – Isso é brilhante. Ser
        
        
          contemporâneo não é só compre-
        
        
          ender sobopontode vistadaminha
        
        
          vivência e experiência pessoais –
        
        
          que são fundamentais – mas sim a
        
        
          tendência da contemporaneidade.
        
        
          Qual a tendência da contempora-
        
        
          neidade, em termosde trabalho?Vou
        
        
          dar um exemplo. No final do século
        
        
          XIX, um trabalhador típicodaEuropa
        
        
          vivia55anos; hojevive78.O tempo
        
        
          disponível para o trabalho durante a
        
        
          suavidaerade242mil horas; hojeé
        
        
          de 356 mil. Mas o tempo, efeti-
        
        
          vamente trabalhado, para aquele da
        
        
          Europaerade125mil–praticamente
        
        
          50% era de trabalho; hoje é de 69
        
        
          mil – diminuiu. Então o que fazer?
        
        
          Quando me aposentei, disse: “Não
        
        
          voumeaposentar;vouredimensionar
        
        
          asminhasaptidões”.Em termos–por
        
        
          exemplo – de ser um professor sem-
        
        
          precontemporâneodemimedomeu
        
        
          tempo. Aqui tenho que fazer um
        
        
          gestode gratidão à ESPMporque ela
        
        
          tem tido – deliberada, consciente ou
        
        
          inconscientemente – esse senso de
        
        
          contemporaneidade. Tenho 72 anos,
        
        
          e já faz uns 10 que trabalho com 5
        
        
          turmas, todos os dias, pelamanhã –
        
        
          salas de 50 adolescentes que ainda
        
        
          estão numa busca de neojuventude.
        
        
          Aí sim, a minha experiência é uma
        
        
          experiência dinâmica, auto-revisio-
        
        
          nada em que eumesmome projeto
        
        
          “OSVELHOSCRÊEMEMTUDO;ASPESSOASDEMEIA-IDADE
        
        
          SUSPEITAMDETUDO;OSJOVENSSABEMTUDO.”
        
        
          OSCARWILDE