 
          Mesa-
        
        
          Redonda
        
        
          
            102
          
        
        
          R E V I S T A D A E S P M –
        
        
          M A I O
        
        
          /
        
        
          J U N H O
        
        
          D E
        
        
          2 0 0 5
        
        
          um repensamento  estrutural de toda
        
        
          a sociedade brasileira. Não é mais
        
        
          uma questão de ética, de uma
        
        
          classificação antropológica – o novo
        
        
          é novo, o velho é velho. Isso nos
        
        
          remete a Cícero – que escreveu um
        
        
          livro sobre a velhice – que analisa
        
        
          esse problema, e é antigo. Quero
        
        
          citar um trecho: “Há quatro causas
        
        
          que fazem parecer miserável a
        
        
          velhice: aprimeiraporquenos afasta
        
        
          do trabalho; a segunda porque nos
        
        
          enfraqueceocorpo;a terceiraporque
        
        
          nos privadequase todos os prazeres
        
        
          e a quarta porque é vizinha da
        
        
          morte”.Maselemesmodefendiaque
        
        
          nenhuma dessas quatro causas se
        
        
          sustenta, porque“noquediz respeito
        
        
          ao trabalho, há trabalhos que são
        
        
          próprios da velhice. Quantos velhos
        
        
          sustentaram a república por sua
        
        
          sabedoria e autoridade?” No que se
        
        
          refere ao enfraquecimento, “a
        
        
          velhice não precisa de forças; há
        
        
          velhosenfraquecidosquenãopodem
        
        
          preencher a menor função na vida.
        
        
          Mas esse não é um defeito peculiar
        
        
          da velhice; isso é um problema de
        
        
          má saúde”. Os homens de 80 anos,
        
        
          aosquaisme referi, estãocomplenas
        
        
          condiçõesde trabalhoecontribuição.
        
        
          Um jovem pode não ter saúde
        
        
          também; os conceitos têm que ser
        
        
          revistos. Os prazeres não têm o
        
        
          mesmo encanto para os velhos, mas
        
        
          também os desejos são mais
        
        
          adequados – é questão de uma boa
        
        
          calibragem, e hoje a medicina vem
        
        
          em socorro dessa calibragem. Onde
        
        
          o desejo não existe, a privação é
        
        
          menos penosa. No que diz respeito
        
        
          à vizinhança damorte, “desgraçado
        
        
          o velho em que em tão longa vida
        
        
          nãoaprendeuqueéprecisodesprezar
        
        
          amorte,porquedeveserumachatice
        
        
          morrer e ficar eterno”. Isso transpor-
        
        
          tadopara dados concretos e reais de
        
        
          uma sociedade em transformação –
        
        
          e aí entra o problema de vivência e
        
        
          experiência –, vê em que medida
        
        
          uma nova vivência da experiência
        
        
          de ser velho deve ser assumida.
        
        
          AMALIA
        
        
          – Também há o fato de
        
        
          associarmos a sapiência; venho de
        
        
          uma cultura chinesa emqueo enve-
        
        
          lhecer é trazer experiência. Mas a
        
        
          sabedoria não necessariamente está
        
        
          sónacronologia.Hásabedorianuma
        
        
          criança, no viver, num relaciona-
        
        
          mento. Às vezes ouvimos coisas de
        
        
          pessoas que não têm cultura aca-
        
        
          dêmica e aprendemos muito. Então,
        
        
          esses conceitos sobre as atitudes,
        
        
          sobre o que é sábio ou não, o que é
        
        
          bonitoounão, têmavercomamídia.
        
        
          ARenew, por exemplo, afirmaque é
        
        
          preciso fazer alguma coisapara ficar
        
        
          melhor. A maior escrava dessa
        
        
          sociedade do envelhecer-ou-não é a
        
        
          mulher, que responde aos estímulos
        
        
          de que é melhor ser mais bonita,
        
        
          mais jovem. Diz-se que, quando se
        
        
          educa uma mulher, educa-se a
        
        
          família toda; quando se educa um
        
        
          homem, educa-se apenas um ho-
        
        
          mem. Isso tudo vai penetrando na
        
        
          sociedade, transformando-a em uma
        
        
          mistura da cultura, o reflexo da
        
        
          marca. Os livros não dizem que as
        
        
          marcas refletem o que a sociedade
        
        
          tem? Na minha visão,  todos nós –
        
        
          “SEEUSOUBESSEQUE IAVIVERTANTOTEMPO,
        
        
          TERIAME CUIDADOMELHOR.”
        
        
          EUBIE BLAKE