 
          Mesa-
        
        
          Redonda
        
        
          
            104
          
        
        
          R E V I S T A D A E S P M –
        
        
          M A I O
        
        
          /
        
        
          J U N H O
        
        
          D E
        
        
          2 0 0 5
        
        
          mou a atenção no início – é que há
        
        
          muito mais gente de 60 anos; daqui
        
        
          a pouco estarão com 80, saudáveis,
        
        
          capazes. Como essas pessoas serão
        
        
          aproveitadas profissionalmente?
        
        
          ALEXANDRE
        
        
          –Quer  queiramos ou
        
        
          não, não há emprego para todos.
        
        
          JR
        
        
          – Não há emprego ou não há
        
        
          trabalho?
        
        
          ALEXANDRE
        
        
          – No momento, no
        
        
          Brasil, éaprópriaatividadeprodutiva
        
        
          – e acho que a única saída é cres-
        
        
          cimento. Ao estudar as faixas de
        
        
          desemprego divulgadas pelo IBGE,
        
        
          percebe-se  queas faixasmais jovens
        
        
          estão sem atividade profissional
        
        
          remunerada – seja emprego oumes-
        
        
          mo como
        
        
          
            free-lancer
          
        
        
          , enquanto
        
        
          faixasmais idosasestãoematividade.
        
        
          Esseéumconflito.Querocontaruma
        
        
          experiência própria quando trabalhei
        
        
          em consultoria. Como em toda em-
        
        
          presa de consultoria, havia o esque-
        
        
          ma de sociedade. Mas houve um
        
        
          momento de limitação no cresci-
        
        
          mentoeelanãoconseguia fazermais
        
        
          sócios. Aí, começaram aperder bons
        
        
          executivos. A pessoa pensava: “Só
        
        
          conseguirei ser sócioquando alguém
        
        
          se aposentar”.
        
        
          GALASSO
        
        
          – Infelizmente, essagera-
        
        
          çãodosmais velhos não teve educa-
        
        
          ção. Isso começou com os militares,
        
        
          que partiram para um sistema de
        
        
          educação emmassa. E depois deles,
        
        
          permaneceu igual até hoje – a
        
        
          qualidade do ensino no Brasil é
        
        
          péssima. Essageraçãoquevai chegar
        
        
          aos 80 – de que o Mário falou – é
        
        
          umageraçãoquenão teveeducação.
        
        
          JR
        
        
          – Eles podem educar-se agora.
        
        
          GALASSO
        
        
          – Mas a vontade de
        
        
          aprender diminui. O problema é
        
        
          sério.Háalunosque saemdoensino
        
        
          fundamental sem saber ler. A
        
        
          qualidade do ensino no Brasil está
        
        
          tão ruim, que vai criar problemas
        
        
          sérios para as velhices futuras.
        
        
          JR
        
        
          –Continuoachandoqueaindahá
        
        
          tempo para se educarem.
        
        
          GALASSO
        
        
          – Entre num supermer-
        
        
          cado, num restaurante e veja a
        
        
          qualidade do serviço lá dentro.
        
        
          JR
        
        
          –Nos restaurantes, posso garantir
        
        
          que os garçonsmais velhos sãobem
        
        
          mais competentes que os jovens.
        
        
          AMALIA
        
        
          – Na minha visão, essa
        
        
          geração mais velha que ocupa as
        
        
          posições de poder – e teve boa
        
        
          educação – dão valor excessivo ao
        
        
          trabalho, vendo-o como única fonte
        
        
          dedignidadepossível.Quem coloca
        
        
          todos os ovos em uma só cesta, vai
        
        
          ter dificuldades. A visão que o ser
        
        
          humano temde si próprio, diantedo
        
        
          trabalho, também terá de ser revista.
        
        
          Prazer, a gente não tira só do traba-
        
        
          lho.Háprazer, sim,emviajarquando
        
        
          se aposenta e digo isso, hoje, com
        
        
          40 anos. Há outras coisas, outras
        
        
          estruturas a edificar na vida – quer
        
        
          seja acadêmica, quer seja um livro
        
        
          que você lançou, uma pessoa que
        
        
          você fez crescer, um trabalho volun-
        
        
          tário, ou porque desenvolveu outras
        
        
          profissões interessantes – advogado
        
        
          também faz teatro. Acho que pre-
        
        
          cisamos abrir mais a cabeça. Não é
        
        
          porquealguémnão tenha trabalhoou
        
        
          empregoquenãopresta. Eémaisum
        
        
          problemamasculino. Nós,mulheres,
        
        
          voltamos para casa a hora que
        
        
          quisermos. Ninguém vai falar mal.
        
        
          Mas o homem que não tem trabalho
        
        
          é execrado.
        
        
          FLÁVIO
        
        
          – É como a sociedade trata
        
        
          apessoaquepára–noBrasil éassim.
        
        
          GALASSO
        
        
          –Você só pode parar se
        
        
          tiver uma renda. O INSS é brinca-
        
        
          deira.
        
        
          JR
        
        
          –O que aAmalia está dizendo é
        
        
          interessante – tem a ver, talvez, com
        
        
          a sua formação oriental. Quando eu
        
        
          estudava poesia – justamente nessa
        
        
          visão de fazermos várias coisas –
        
        
          estávamos lendoumpoemadoPaulo
        
        
          Alberto/ Arthur da Távola, sobre a
        
        
          importância do “e”. A vida não
        
        
          precisaser“ou” isso“ou”aquilo;pode
        
        
          ser isso e isso e também aquilo. Nós
        
        
          todos tendemos apensar seqüencial-
        
        
          mente: jovem, maduro, velho,
        
        
          produtivo,menos produtivo, aposen-
        
        
          tado. O que aAmália levanta é que,
        
        
          se a pessoa formais plural, holística,
        
        
          vai durar mais.
        
        
          AMALIA
        
        
          –Porquevocêsachamque
        
        
          está havendo tantodivórcio, e tantos
        
        
          homens têm a segundamulher? Isso
        
        
          éuma formadeatualizar.O segundo
        
        
          casamento, que dá certo. O que
        
        
          quero dizer é que o formato de se
        
        
          relacionar começa a transformar-se,
        
        
          na medida em que essa segunda
        
        
          mulher, geralmente mais jovem,
        
        
          “
        
        
          PARAMIM,VELHOSEMPREFOIAQUELAPESSOA
        
        
          15ANOSMAISVELHADOQUEEU.”
        
        
          BERNARDBARUCH