Annuncios do Almanak Laermmert - page 46

P
apéis rendados e similares estão dispostos em praticamente todoo anúncio. A
delicadeza do rendado pode ser observada nasmolduras em que as imagens estão
enquadradas. São elipses, retângulos e círculos com requinte de detalhes similar
ao executado por artesãs do crochê. E a associação é perfeita: doces finos, requintados
– amêndoas, confeitos –, acondicionados em embalagens sofisticadas, remetendo à
delicadeza artesanal. E, na parte superior, um prato com dois cartuchos para bombons,
um de cada lado. Ornadas pelo papel rendado, ilustrações retratam a fachada e o interior,
com funcionários trabalhando, além demulheres consumindoos produtos.
Se a tradição do confeito, produto sofisticado associado a eventos especiais, vinha de
longe desde o séculoXIII no Brasil, a notíciamais antiga provém de 1867, com a fundação
da
Fabrica Central
, de J. Serra, posteriormente adquirida por José Lipiani. De origem
italiana, Lipiani chegou ao Brasil em 1884, trabalhou no comércio e, em1895, comprou a
empresa de J. Serra. No
Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro
de 1902
, sua empresa consta como
“fabrica de amendoas e papeis de estalo e pratos
de papelão”
.
A especialidade em doces finos – um completo sortimento de amêndoas cobertas,
confeituras e pastilhagem (
drops
e
rocks
) – exigia acondicionamento adequado. Nas
caixas e estojos vinhamos doces individualmente dispostos em papéis rendados, também
fabricados por J. Serra. Em uma das raras citações a esses papéis, sua
Fabrica Central de
Amendoas
também comercializava bandejas e pratos de papelão, bem como cartuchos
para bombons.
A fábrica, na rua São Pedro, 294, tinha produção diária de 1.200 kg, e suas confeituras
e bombons eram comparáveis aos similares europeus.Mantinha agentes viajantes em
diversas regiões do país. A distinção dos produtos da fábrica foi reconhecida em várias
Exposições Internacionais: Paris, 1889; Turim, 1890; Brasil, 1900; Saint Louis, 1904; e
novamente Turim, em1911.
Em 1910, J. Lipiani integrou a
Sociedade Cooperativa Popular de Consumo Italo
Brazileira
, constituída em1910, e tornou-se presença constante na
Secção Commercial
do
jornal
O Paiz
, ao longo da década que então se iniciava, regularmente recebendo artigos
importados: amêndoas, velas, papel e açúcar.
Além da fábrica, ou talvez justamente por ser seu proprietário, Lipiani era bastante
cuidadoso nos relacionamentos como poder público e com associações ligadas à
comunidade dos imigrantes italianos.
No dia seguinte à festa de 50º aniversário de fundação de sua
Fabrica Central
, em
1917, José Lipiani dirigiu-se ao gabinete doministro da agricultura, JoãoGonçalves Pereira
Lima, para agradecer-lhe por sua presença na comemoração (
O Paiz
, 4.1.1918).
Essa proximidade a Pereira Lima, em função do evento social, e também em
outras ocasiões em razão de negócios, fazia parte da agenda do empresário que, da
mesma forma que outros industriais do período, participava ativamente das gestões,
reivindicações e outros pleitos junto ao governo. Presente em eventos consulares,
participante da
Associação Commercial do Rio de Janeiro
e colaborador de sociedades
de socorro e apoio à colônia italiana, era uma das figuras de destaque – então já
Comendador José Lipiani – entre imigrantes da sociedade carioca.
FabricaCentral deAmendoas
J. ipiani
FABRICACENTRALDEAMENDOAS J. LIPIANI
Rio de Janeiro, RJ
Fundador: J. Serra
1867
42
1...,36,37,38,39,40,41,42,43,44,45 47,48,49,50,51,52,53,54,55,56,...128
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