 
          V.Werneck&Cia.
        
        
          V.WERNECK&CIA.
        
        
          Rio de Janeiro, RJ
        
        
          Fundador: VicenteWerneck
        
        
          Data: ?
        
        
          L
        
        
          
            ues
          
        
        
          . Era assim que em latim se designava praga, peste. Por extensão, a partir de
        
        
          certomomento, a palavra passou a ser aplicada a uma das doenças que se tornariam
        
        
          mais temidas: a sífilis. A denominação, instituída em1530 por Girolamo Fracastoro,
        
        
          antecedeu um período – o final do séculoXVI – em que a Europa seria assolada por uma
        
        
          grave epidemia dessemal, cujo novo nome, porém, se disseminaria somente no século
        
        
          XVIII.
        
        
          No Brasil, o “mal terrível” teria chegado no período colonial, decorrente da
        
        
          miscigenação de três culturas: a local, a europeia e a africana. Somente nos séculos XVIII
        
        
          eXIX, quando a bacteriologia tomou impulso, amedicina pôde assumir o combate às
        
        
          epidemias, especialmente a sífilis, que grassava no país emmeados do séculoXIX.
        
        
          Ao lado damobilizaçãomédica e das ações policiais, bem como de saúde pública, vão
        
        
          surgindo as panaceias de combatemedicamentoso ao “mal venéreo”.
        
        
          O preparado que no Brasil maior notoriedade obteve ainda no séculoXIX, desenvolvido
        
        
          pelo farmacêutico e industrial Eduardo França, foi
        
        
          
            Lugolina
          
        
        
          , em 1889. Campanha
        
        
          publicitária intensa, participação em exposições internacionais e presumida eficácia
        
        
          proporcionaram vida longa à invenção.
        
        
          Mas é do exterior que surgiam as notíciasmais auspiciosas. Em 1907, o sorologista
        
        
          Paul Ehrlich –munido de dinheiro, paciência, talento e sorte, tendo recebidoo Prêmio
        
        
          Nobel deMedicina de 1908 – obteve, após anos de pesquisa, um novo antídoto contra
        
        
          a epidemia: chamava-se
        
        
          
            Salvarsan
          
        
        
          . Tornou-se verdadeira sensação na época, após seu
        
        
          anúncio em1910.
        
        
          É nesse cenário que a
        
        
          
            PharmaciaWerneck
          
        
        
          , de VicenteWerneck&Cia., farmacêuticos
        
        
          e droguistas estabelecidos no Rio de Janeiro, produz seu própriomedicamento:
        
        
          
            Aluetina
          
        
        
          (tomando de empréstimoo termo latino para a criação do nome), contendo cianeto de
        
        
          mercúrio. Nos anúncios lembrava-se que:
        
        
          
            “O êxito do tratamento da syphillis depende
          
        
        
          
            da escolha de uma bôa preparaçãomercurial”
          
        
        
          .
        
        
          No anúncio de
        
        
          
            Aluetina
          
        
        
          prevalece a imagem culturalmente difundida damulher nos
        
        
          casos de sífilis (ou como principal responsável pela necessidade do tratamento)... Emoutro
        
        
          anúncio, um tommais veemente informava:
        
        
          
            “Combater a syphillis é evitar a propagação
          
        
        
          
            de ummal que tende a devastar a humanidade”
          
        
        
          .
        
        
          Para alívio dos pacientes, a aplicação da injeção intramuscular era descrita como
        
        
          indolor.
        
        
          Outrosmedicamentos saíram do arsenal da V.Werneck&Cia.:
        
        
          
            Vinho Leoni
          
        
        
          ,
        
        
          
            Noz
          
        
        
          
            de Kola
          
        
        
          ,
        
        
          
            Licor de Alcatrão e Eucalypto
          
        
        
          ,
        
        
          
            Licor de Peptonato de Ferro
          
        
        
          ,
        
        
          
            Solução
          
        
        
          
            Polymuretada
          
        
        
          ,
        
        
          
            Neurocleina
          
        
        
          ,
        
        
          
            Pó Seccativo Bi-Iodado
          
        
        
          ,
        
        
          
            Elixir Eupeptico
          
        
        
          ,
        
        
          
            Peitoral das
          
        
        
          
            Creanças
          
        
        
          ,
        
        
          
            Serum Nevrosthenico
          
        
        
          ,
        
        
          
            Arthritina
          
        
        
          ,
        
        
          
            Anosol
          
        
        
          e outros.
        
        
          Se a palavra “lues” estivesse disseminada no Brasil tanto quanto “sífilis”, a Farmácia
        
        
          Werneck talvez não se furtasse a ter um bommote para anunciar o produto: “Lues?
        
        
          
            Aluetina
          
        
        
          !”.
        
        
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