Maio_2008 - page 53

Unidade e diversidade
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MAIO
/
JUNHO
DE
2008 – R E V I S T A D A E S P M
Ð
“OPÚBLICODONORDESTERECLAMAVA,
DIZENDOQUEOPESSOALDOSUL
ERA FRIO, SÓQUERIAVENDER.”
lembram os alto-falantes dos cami-
nhões, ou são grosseiros? Será que
não existem outras formas, melhor,
mais criativa, mais adequada, mais
afetiva de se dirigir aos novos con-
sumidores das classes C/D/E?
FÁBIO
– É claro que, na comuni-
cação, a gente não pode deixar de
levaremcontaadesigualdade, fruto
de problemas sociais e econômi-
cos que não podem ser ignorados.
Lembrando aí situações, como a
vanquepassavacomomegafone, e
essa idéiadequeopúblicopopular
sempreprecisadecores fortes, uma
linguagem fácil; isso não é de fato
verdade. Houve uma grande rede
de lojas que fezuma campanha em
que o discurso era: você conseguiu
chegar aqui porque nós somos seus
parceiros.Eopúblico reagiude ime-
diato, dizendo: Não!Você facilita a
compra, mas eu é que conquistei
isso.Tiveumaexperiência,visitando
uma casa num projeto etnográfico,
eumdos filhos tinhaalcançadoum
estudosuperior,e,comoconsequên-
cia, influenciou os outrosmembros
da família. Amãe dele vende qua-
dros.Mostrou-nosoquemaisvende:
uma reprodução do Abapuru. “Eu
falo para a minha clientela: é de
artista importante, artistadecultura,
é bom levar para casa e conhecer
mais”. Passando da sereia com a
lua atrás para o
Abapuru
. Claro
que não representa a maioria, mas
mostra alguns movimentos e quão
equivocadosquandopensamosque
a comunicação para esse público
deva ser simplória.
JRWP
–Achoque você tem razão.
VINICIUS
– De fato, existe espaço
para melhorar a comunicação e
oferecer algo demelhor qualidade,
mais emocional... OMO é uma das
marcas mais lembradas entre todas
asmarcasbrasileiras, eéconsumido
pelasclassessociaismaisbaixas,que
são os que precisam da limpeza de
alta qualidade. Quem precisa de
desempenho de detergente em pó
é a pessoa que tem a roupa mais
difícilde lavar.Abasedesustentação
dessa marca são as classes C/D/E.
Nos últimos dez anos, mudamos
do racional, em cima do desem-
penho, para o emocional, com a
campanha do “Se sujar faz bem”.
OproblemadovarejonoBrasil éde
custo, mas também de liderança.
O líder acredita em determina-
dos paradigmas e bate forte.
Se acreditar que gritar alto e gritar
muitas vezes é bom e dá resultado,
os outros vão atrás.
JRWP
–Éo fenômenodaemulação.
VINICIUS
– Tenho certeza que
uma comunicação de melhor
nível seriamuito bem entendida
e altamente valorizada pelo resto
do público, porque uma das
coisas mais desagradáveis de se
assistir televisão no Brasil é a
diferença entre o programa e o
intervalo comercial.
JRWP
–E, antigamente, os comer-
ciais eram melhores que a pro-
gramação...
VINICIUS
–Acho que dá parame-
lhorarmuito.
LÍVIA
– Eu acho que está havendo
uma exotizaçãodas classesD e E.
JRWP
– Exotização?
LÍVIA
– De repente, ninguém era
consumidoreagora sedescobriram;
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