Maio_2008 - page 56

Mesa-
Redonda
56
R E V I S T A D A E S P M –
MAIO
/
JUNHO
DE
2008
é uma grande homogeneização,
a famosa diversidade desaparece,
pois o funil colocado na entrada
seleciona tipos físicosdiversos, tipos
regionais diversos, mas o estilo psi-
cológico e os valores selecionados
são os mesmos. Então, acho que
essa questão da diversidade é um
pouco falsa, porque sepode terpes-
soasdeorigemgeográficadiferente,
de raças diferentes, mas se acaba
tendo um perfil muito semelhante,
queé, teoricamente,empreendedor.
E aí aminha pergunta é: o quanto,
realmente,essaspessoasoriundasda
classeCeD−que são levadas para
dentrodaempresa−serão realmente
diferentes?
GRACIOSO
– Ou mais que isso,
Lívia, será que a empresa está certa
quando seleciona jovens, futuros
executivos na base da facilidade
de relacionamento, facilidade de
expressão, penalizando aqueles
pensadores que podem pensar até
mais profundamente, mas não têm
a mesma facilidade de expressão.
Eu acho que o primeiro problema
consiste justamente na porta de
entrada.
LÍVIA
− Por outro lado, também é
muito simples eudizer isso, porque
aempresa,qualquerorganizaçãono
mundoenfrentaomesmoproblema:
comochegaraosobjetivosaqueme
proponho, independentemente das
vontades individuais? Na verdade,
esse é o objetivo, seja do sindicato,
seja de governo, seja do que for. É
bom teressadiscussãocrítica,masé
umproblemamuitodifícil. Emqual
momento sehomogeneiza, porque,
em todo aquele afã democrático,
nãose tomanenhumadecisão.Você
tem de estabelecer metas dentro
de determinados processos, então
eu acho que há uma contradição
interna. Não acredito que haja
uma solução para isso. Acho que
essa é uma tensão permanente que
vai continuar. Temos evoluído na
direção de incorporar diferenças e,
ao mesmo tempo, fazer com que
as empresas caminhem numa certa
direção,masachoque sedevaolhar
isso como uma tensão constitutiva
da vida social.
GRACIOSO
– Eu participei de um
seminário uma vez, nos Estados
Unidos, em que um dos partici-
pantes era um diretor de RH. E fa-
lando desse tema, justamente da
necessidade de ter gente diferente,
pensando na criatividade que o
Prianti lembrou. Eledisse: “De jeito
nenhum. Euprocuroeliminar aque-
les que normalmente eu chamo de
artistas, pois são os mais difíceis
deadministrar, são indisciplinados,
egoístas, personalistas. Eu limpo a
área assim que chego”. Eu não sei
se isso é correto, porque ele está
eliminando tambémapossibilidade
de pensamento criativo dentro da
organização.
JRWP
–Essediretor deRHdeve ser
de algum banco...
RODRIGO
–Uma empresa é uma
causa, é uma camisa, é um time
de futebol e, assim como um time,
tem de ter gente que joga pela di-
reita, na esquerda, tem de ter um
centroavante. Se só tiver robôs,
soldadinhos de chumbo... Eu acho
que é uma burrice lamentável
essas posturas, pelo menos na
minha área. Imagine uma agência
de publicidade que não tenha di-
versidade, que não tenha pessoas
diferentes em todos os sentidos. Eu
estavavendo, recentemente, nesses
materiais que recebemos pela in-
ternet, como é a sede do Google.
É impressionante!
JRWP
– Eu estava pensando nisso
quandoaLíviaestava falando. Será
que é verdade?
RODRIGO
– Eu acredito que sim.
O que estamos vendo hoje, as em-
presasnão têmmaisaquelapostura.
Isso começou com as sextas-feiras
mais liberais, quando não se usa
gravata. Hoje o comportamento,
a atitude diante do seu público in-
terno é de liberdademuito grande,
sem abrir mão, evidentemente, de
alguns parâmetros.
VINICIUS
– Eu vou terminar por
onde comecei. Uma empresa que
trabalha num grande mercado, ou
nomercadoglobal, temde represen-
tar essa sociedade plural. É impos-
sível imaginar uma multinacional
que opera em 150 países que não
tenha conhecimento regional, que
não tenhagentequevenhadaquela
região para ver como são feitas as
coisas ali. Agora quanto mais ou
quantomenos? Essa é a questãodo
pêndulo. Se você é uma empresa
demercado, se está operando com
classes sociais diferenciadas, é
preciso conhecer a força de ven-
das, conhecer o Brasil, para fazer
propaganda diferenciada. Parece
haver lugar, ainda hoje, nomundo
globalizado para propaganda ho-
mogeneizada, tudo igualzinho,mas
para quê? Para baixar custo. Mas
sempre se acha um espaçozinho
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