Julho_2003 - page 96

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J U L H O
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A G O S T O
D E
2 0 0 3 – R E V I S T A D A E S P M
ADRIANA FELLLIPELLI E ELAINESAAD
Revista da ESPM
– Trabalho ou
emprego?
ADRIANA
–Essaéumaquestãoque
tem vários lados: o lado domerca-
do,o ladodoprofissionaleodaeco-
nomia.Acoisaestácaminhandopara
um a solução de trabalho-renda –
que é a própria definição de
empregabilidade –, em vez do em-
prego formal.Paraomercado,preci-
sahaveruma flexibilizaçãoda lei tra-
balhista – uma reforma trabalhista.
A mensagem que o mercado está
dando é: trabalho e renda. Mas o
governodiz:“Não.Temdehaverem-
prego”.Écomplicado terum funcio-
nárioqueganhamil reaisecustadois
mil. Isso fazcomqueoempresariado
diminuaageraçãodeempregoeso-
brecarreguequemo tem.
Revistada ESPM
– Isso é uma coi-
sabrasileira?
ADRIANA
–Não. Mas é bemmais
pesadaaqui noBrasil.
Revista da ESPM
– Como é que
funcionanospaísesqueagentecha-
madedesenvolvidos?
ADRIANA
– Nos Estados Unidos,
por exemplo, quando se vai demitir
alguém, não temquepagar os 40%
obrigatórios, como aqui no Brasil.
Eles podem demitir a qualquermo-
mento. Na carteira profissional, po-
dem abaixar o salário. Hámuita in-
dependência.
Revista da ESPM
– E vocês acham
que isso contribui para o progresso
norte-americano?Porque,quandose
fala sobre isso noBrasil, dizem que
você está a favor dos patrões e con-
traos empregados.
ADRIANA
–Oque acontece é que
quando o benefício dado é muito,
ele se tornaprejuízo. E eupossodi-
zer porque sou mulher e sou mãe.
Teruma licença-maternidadede120
dias éótimo.Mas, às vezes,mulhe-
ressãopreteridasemempregos,por-
quevãodaresse tipodeônusparaa
organização.Aí,dizem:“Mas temna
Noruega, naEuropa. Emalgunspaí-
sesdaEuropa,, a licençamaternida-
de é de dois anos”. É até verdade.
Mas, nós temos que decidir qual
modelovamos seguir.
Revista da ESPM
– A população
daNoruega não chega à da cidade
deSãoPaulo.
toriadora, mas, ao longo do tempo,
achoquehouveumamigraçãodes-
se papel, que deveria ser do gover-
no, paraaempresa. Por issoacarga
trabalhista ficou tão alta. Porque os
empregados não têmo apoioqueo
governodeveriadar.Então,alémdos
impostos, você tem que pagar a es-
colaparticular, segurançaparticular
– hoje – a previdência particular.
Tudoparticular.
Revista da ESPM
– Nossa consoli-
dação de leis trabalhistas é talvez
evoluída, do ponto de vista social,
mas na realidade que vivemos aca-
ba atrapalhando.
ADRIANA
–Prejudicandooempre-
go. Isso pode ser constatado em to-
dos os níveis, instâncias, até o em-
pregadodoméstico.Háumaparcela
que seria de responsabilidade dele
pagar e, se você fica com pena da
pessoa, vocêpagaos100%. Ea lei a
protege absolutamente.Você pode-
riadar tambémaquilo,masnãopode
porque tambéma lei éunilateral, só
paraos funcionários.Achoqueosbe-
nefícios,quandoexcessivos,sãopre-
judiciais.
Revista da ESPM
– Em São Paulo,
fala-semuitodoempregonagrande
empresa, mas essa não é a caracte-
rística dominante no Brasil. Como
vocês vêem omercado de trabalho
brasileiro?
ELAINE
–Achoquenãomaisdoque
8a10%dosempregos formaisestão
nagrandeempresa.De90a95%das
empresas são pequenas e médias.
Comexceçãodosprofissionais libe-
rais, os alunos que se formavam ti-
nham a expectativa de trabalhar
numa empresa grande, para ganhar
os benefícios e para fazer uma car-
reira.Hoje emdia, estãomais aber-
tos para ter o próprio negócio. O
“Nãomais do
que 8 a 10%
dos empregos
formais estão
na grande
empresa.”
ADRIANA
–Temos uma colcha de
retalhos,combenefíciosnorte-ameri-
canos, benefícios da Europa. Se va-
mos terumacoisamaisprotecionista,
comonaEuropa, teremosque terou-
tro tipodeabordagem,de legislação,
de cultura. Seoptamos pelomodelo
norte-americano,umaeconomiamais
capitalista,maisvoltadaparaosEsta-
dosUnidos...
ELAINE
–NosEstadosUnidos,ogo-
verno assume e muito dessa carga
trabalhista. Por exemplo, o norte-
americano tem um auxílio-desem-
pregomaravilhoso, tem escola gra-
tuita para os filhos, tem condução.
Isso o governo norte-americano ga-
rante e o nosso não. Não sou his-
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