Julho_2003 - page 105

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R E V I S T A D A E S P M –
J U L H O
/
A G O S T O
D E
2 0 0 3
emprego. Não só as mil que ele
demitiu; mas as cinco mil ou
mais. É uma decisão difícil, em
que o governo deveria também
estar desempenhando o seu pa-
pel. As pessoas estão sendo eli-
minadas também em função da
tecnologia, e isso é um problema
social.
Revista da ESPM
– Como resol-
ver isso?
ELAINE
– Não se deve esquecer
de que, no Brasil, o mercado in-
formal é imenso. É só você legali-
zar o fato porque o fato já existe.
Revista da ESPM
–Mas, e a car-
teirade trabalho.Nasúltimas elei-
ções, os dois candidatos veicula-
ram comerciais com a carteira de
trabalho. Éum símbolo, um ícone.
ELAINE
– Se os vários atores da
sociedade – que são o empre-
sariado, o governo, a academia –
pudessem trabalhar numa equa-
ção conjunta, onde eu recolho
impostos que são devidamente
usados, tenho uma livre negocia-
ção trabalhista comquem euqui-
ser contratar. Se, a partir de ama-
nhã, a gentenãoprecisassepagar
tudoquepagamosde imposto, em
folha de pessoal.
Revista da ESPM
– Nesse senti-
do, talvez o presidente Lula este-
ja emmelhores condições de fa-
zer esse tipo de negociação.
Como vocês vêem o futuro do
BancodoBrasil, nessaquestãodo
seumercado de trabalho?
ELAINE
– Sou otimista por natu-
reza. Acreditomuito nesse país e
achoque hámuita oportunidade.
Se se quiser fazer e tiver um pou-
co de bom-senso, organização,
tudo é possível. Mas o mercado
de trabalho vai flexibilizar. Vai
chegar uma hora em que não ha-
veráoque fazer, porqueodesem-
prego vai subir a uma taxa tão
alta, que vão abrir o portão e di-
zer: “Gente, vamos lá. Façaoque
vocês quiserem, mas é preciso
gerar emprego”.
Revista da ESPM
– Está aumen-
tando a desempregabilidade.
ELAINE
– Não. Acho que es-
tão aumentando as relações
informais.
Revista da ESPM
– E há a difi-
culdade cada vezmaior de cum-
prir a lei.
ELAINE
– Acho que o momento
em que estamos é intermediário
entre os dois. Entre um, onde a
única solução que vinha na ca-
beça de qualquer pessoa era:
“Preciso arrumar um emprego”,
estamos nummomento de transi-
çãopara ummomentoque a pes-
soa vai dizer: “Preciso ganhar di-
nheiro. Como vou fazer isso?” E
eu acredito muito no Brasil e no
brasileiro, nesse sentido. Acho
quenós estamosmais preparados
para fazer isso do que os norte-
americanos. Eles têm padrões
muito fortes, e para quebrar isso
vai ser difícil. Sou otimista, nesse
sentido. O jovem de hoje está
mais aberto a se virar do que nós
estávamos há vinte anos. Como a
Adriana falou: amãe dela queria
era que ela fosse funcionária do
Branco do Brasil e ficasse lá 30
anos.Hoje, elanãoquer issopara
a filha dela, como eu não quero
para os meus. Porque sabemos
que se foremqualificados para se
virar, eles vão ter sucesso de al-
guma forma e não vão depender
dos outros.
ADRIANA
– Otimista, se é, no
sentido de que temos esperança
de que a coisa modifique. Mas
acho que temos de ser realistas,
por exemplo, em relação à ques-
tão da segurança. É algo que me
preocupa. Isso tem a ver com ge-
ração de emprego, educação.
Tudo se relaciona. E a solução
seráassistencialista?Essegoverno,
com o fome zero, por exemplo.
Muitas empresas começaram a
usar a bandeira do fome zero
como uma ação de marketing. E
aí, parte do dinheiro que era des-
tinadoa instituições antigas –que
eram positivas – saiu dessas insti-
tuições. E agora elas estão com
problemas.Há tambémoaumen-
to de criminalidade. Então, pre-
cisa ver oque vai se fazer deuma
formamais geral para que possa-
mos continuar sendo otimistas.
Acho que a natureza do brasilei-
ro é otimista.Mas precisamos ser
umpoucomais realistas paranão
ficarmos só acreditando que vai
mudar semcolocar amãonamas-
sa e fazer alguma coisa mudar
agora.
Revista da ESPM
– Por mais
simpático que seja o presidente,
a verdade é que representa um
partido basicamente interven-
cionista, que acredita na maior
ação do Estado.
ADRIANA
– Mas até para conti-
nuarmos sendo otimistas, mas te-
mosque termercadoconsumidor.
E para ter mercado consumidor,
ter pessoas com trabalho, dinhei-
ro na mão e a economia girando
de uma forma saudável.
ELAINE
– O Lula é uma pessoa
inteligenteeestáagindo inteligen-
Entrevista
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