Julho_2003 - page 101

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R E V I S T A D A E S P M –
J U L H O
/
A G O S T O
D E
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educação familiar, que os pais têm
que assumir. E atépelo esquemada
Elaine, ospaisestão investindomui-
to temponasobrevivência–equalé
o tempo que resta para dedicar à
educação familiar?Comopsicólogas,
nós sabemosa importânciadas figu-
ras paterna ematerna – o peso que
isso significaparao restodavidada
pessoa– liderança,porexemplo,co-
meça por aí. Então, você tem que
fazer determinadas coisas que vão
influenciar a sua família, o seu filho
naquelemomentode vida.A socie-
dade brasileira é em geral muito
colaborativa, mas alguém tem de
puxar o trem.Quando tivemos pro-
blemadeenergiaelétrica, todos co-
laboraram,masalguém temquedar
o tom.Ospais têmuma responsabi-
lidade que não é delegável às me-
lhores instituições educacionais. Ele
temque sermodelo,dentrodecasa.
Comoo filho vai tratar bemos pais,
se eles não tratambemos avós? Pa-
recebobo,masnãoé.Mostracomo
nossa sociedade é complexa, como
as coisas são interdependentes e a
gente não pode tratar os problemas
de forma isolada.Quandodigoque
o sistemaprofissional émassacrante
e não dá tempo, as pessoas têm de
estipular prazos. Por exemplo, às 7
danoite, estounaminhacasa– faça
chuva ou faça sol – porque priorizo
aminha filha. Se tenhoque respon-
der
e-mail
, vou fazer issodepoisque
ela foi dormir. Mas, aquelas horas,
vou terque ficarcomela.Tenhoque
trabalhar?Sim.Masháumaparteque
é indelegável epertenceà minha fi-
lha. Por mais que eu tenha babás
maravilhosas, há coisas que as ba-
bás não tiveram na formação e que
eu tive.
Revista da ESPM
– Curioso que
esse tipode coisa époucodebatido
publicamente.
Revista da ESPM
– Nós estamos
focando a discussão em
managers
,
quadros, lideranças, mas foi bom
lembrar essa questão da mãe. É de
interesseparaos leitoresdaRevistaa
questãodos sexos na atividade pro-
fissional.Gostariadeouvirsobreessa
questãodascompetênciasdossexos.
ELAINE
– Omercado de trabalho,
para simplificar, divide-se em dois.
Uméapartedo
management
.Nes-
sepedaço, amulher eramaisdiscri-
minada do que hoje, ganhava me-
nosedificilmenteocupavapapéisde
liderança.Hoje,mudou.Nãochega
ainda a
fifty-fifty
.Mas amulher está
sendo reconhecida por competên-
cias queohomemnão tem...Nessa
parte de gerenciamento, as coisas
têm corridobem.Naparteopera-
cional, a gente vê a mulher –
como água – infiltrando em todas
as posições...
Revista da ESPM
– Até juízes de
futebol. Três mulheres na primeira
divisão.
ELAINE
– São frentistas de postos
de gasolina. Acho que a mulher –
quando falamosdaquelaclasse so-
cial que, às vezes, não tem o que
comer – é mais “mão na massa”
do que o homem. Ela sai à rua e
fazoqueprecisa ser feito, não tem
aquelacoisamachista: “Ah! Issoeu
não faço”.
“Uma parte é
indelegável e
pertence à
minha filha, por
mais que eu
tenha babás
maravilhosas.”
ELAINE
– Acho que temos que to-
mar cuidadoquandoagente falade
Brasil.OexemploqueaAdrianadeu
éperfeito,masédeclassemédia.No
país, 90%dapopulação é amulher
em casa e o homem vai para a rua,
pegaraconduçãoàs4damanhãpara
chegar ao trabalho e voltar às 10da
noiteparacompraropãoeo leitedo
dia seguinte. Precisamos tomar cui-
dadoparanãogeneralizaruma situ-
açãoelitizada.
Entrevista
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