Maio_2002 - page 111

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Revista daESPM –Maio/Junho de 2002
em comerciais de 30”, umminuto.
Mas roteiro, roteiristanãoexistem.
A indústria cinematográfica carece
de roteiros.Umbom roteiro,mal fil-
mado, dáumgrande filme.Umpés-
simo roteiro, bem filmado, dá um
péssimo filme. Então, a comunica-
ção começapelo roteirista.Aoutra
coisa é a profissão da comunica-
ção pública. AEscola é a primeira
que poderia nos ajudar. Porque,
hoje, a palavra
marqueteiro
é
xingação. AEscola precisaria nos
ajudar a ter cursode comunicação
pública. Não estou falando de pro-
paganda de governo; estou falan-
docomunicaçãopública–auto-es-
tima. Construir um país. Frank
Capra, o presidente Roosevelt.
Tem um livro dele, que eu traduzi-
riaparaaEscola, se vocêsquises-
sem.AvidadeFrankCapra–oque
ele fez contra o preconceito racial
nos Estados Unidos. Não é a po-
breza, porque a comunicação, em
si, não resolve a pobreza, mas ela
dignifica a pobreza. Eu, por exem-
plo, venhodeuma famíliamuitopo-
bre e nunca nos ocorreu roubar;
nuncanos ocorreu fazer algoerra-
do. Porque havia, em casa, um
bomexemplo.Agora, ocoitadoque
não tem pai nemmãe vai para rua
e corre o perigo de se deformar.
Vejaos filmesantigos.Háum, cha-
mado “Anjos de cara suja”. É um
Sr. Padre – naquela época eles ti-
nhammais respeito do que hoje –
que temuma turmademolequede
rua–ele terminavao filmeensinan-
do às crianças. Não era desenho
animado que você dá porrada e
matadez vezes. Nemmerece tem-
po de nossa parte para elogiar ou
criticar uma coisa podre dessas.
Agora, esse filme “Anjos de cara
suja” é o tipo de coisa construtiva,
no sentido da pessoa ser antes de
ter. Hoje, só vale ter. Ah! O sujeito
não tem um áudio, não tem o car-
rodoano. Esperaumpouco.O ser
que deveria ser divulgado e não o
ter. Não sou contra consumo. Pelo
contrário, sou100%a favor docon-
sumo. Consumo soa comomalda-
de quando alguém diz: “você é um
consumista; você trabalha para
consumir”. Mas eu digo que, não
só trabalho, como ficoorgulhosode
saber que 80% do que você com-
pra é emocional. Tudo que tem
dentro de um
shopping
é compra
emocional, ou quase tudo, vamos
dizer 80%. No
shopping
, você não
acha pneu porque pneu é uma
compra racional. No
shopping
,
você compra uma gravata e leva
três; compraumameiae levaqua-
tro; você já tem um pulôver em
casa e compra outro. Você com-
prou uma camisamaravilhosa e ti-
nha mais cinco em casa. A com-
pra emocional é responsável por
80% dos empregos em qualquer
lugar domundo–apeloemocional.
Por exemplo, aAlpargatas. Jamais,
você vai ver um anúncio da
Alpargatas falandodasqualidades
da Alpargatas. Não. É uma emo-
çãoqueelapassa. Vocênunca vai
dizer: a borracha é assim; é mais
mole,maismacia; aborrachaé fei-
tacom ingredientesecológicosetc.
Esquece. O clima que vem numa
Alpargatas faz com que se venda
Alpargatas. Vou contar para vocês
sobre uma aula que ouvi emNova
Iorque, numa estação de rádio,
“Umdia,esse
anelvaiser
privatizado.
Então,porque
nãoprivatizar
antes?”
sobre comunicaçãoepropaganda.
Alguém pergunta: “Você sabe o
que é custo/benefício?” Emeu ou-
vido ficou do tamanho de um ore-
lhão. Custo/benefício é o seguin-
te. Você comprou essa camisa xa-
drez. Gostamuito da camisa, usa,
lava, usa de novo e não se lembra
mais quanto você pagou. Isso é
custo/benefício. Quando você es-
quece o preço do produto e você
ainda tem o produto e ainda gosta
dele, você fez um grande negócio.
Quando você não esquece o pre-
ço que você pagou, você não fez
um grande negócio. Essa é a aju-
da que estou pedindo a vocês. Se
a Escola ajudar a tirar a palavra
marqueteiro
e passarmos a dizer
comunicação social-governo. Não
é do governo A ou do governo B;
não é do candidato A ou do can-
didato B. Isso é contingência, é
necessário, é episódico. Estou fa-
landoda comunicaçãopolítica-so-
cial no seu mais amplo sentido.
Então, se divulgarmos o fato de
que uma família pobre, honesta
tem chance na vida – como o
Frank Capra fez. Ah! OsWaltons.
OsWaltons erauma coisaprogra-
mada – hábitos e costumes sus-
tentavam o filme. Tenho guarda-
do um anúncio de página inteira,
quediz: “Mande seudonativopara
a sérieWaltons voltar àTV”. Aso-
ciedade está pagando para ver a
série voltar à TV porque era gos-
toso ver uma família unida, de
gente simples – não eram ricos –
eeram felizes. Essas coisas, para
mim, valem ouro em pó.
FG–Alex, você tambémacabade
dar uma idéia para nós que vale
ouro em pó. Uma escola ou um
curso de comunicação pública.
Pode ficar certo de que vamos
pensar para valer nisso. Obriga-
dopela entrevista!
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