Maio_2008 - page 11

Roberto
DaMatta
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MAIO
/
JUNHO
DE
2008 – R E V I S T A D A E S P M
mais até sobre os índios americanos
do que sobre os índios brasileiros.
Você perguntaria “comomelhorar?”.
Sópagandoopreço: criar um instru-
mento de comunicação, chamar as
pessoas para falar desses índios, da
sua organização política, de como
eles reagemà sociedadebrasileira.O
nicho emque eles estão colocados é
maisoumenosomesmoemqueeles
foramcolocadospor JosédeAlencar,
que inventouaqueles índiosdoSéculo
XIX...Quandoacontecealgumacoisa
diferente,comoestáacontecendoem
Rondônia, e eles aparecem atirando
flechas contraoavião–essa imagem
corresponde ao inconsciente dos
jornalistas; não estou dizendo que
sejamaldade –mas éuma revelação
cultural porqueacultura se revelano
inconsciente, no implícito. Há um
acordoentreos formadoresdeopinião
pública, entre todas as tendências,
de que os índios são latifundiários
– só quem pode ser latifundiário são
os paulistas, os mineiros e, even-
tualmente, algum carioca ou algum
riograndense.Masapropriedadedeles
é constitucional, a tribo temodireito
de ocupar. A discussão do “porque
esse território deve ser grande ou
pequeno” passa pela disciplina cha-
madaEtnologiaouAntropologiaSocial
porque esses índios vivem de uma
maneiraquenãoé igual ànossa, não
têm supermercado; se eles tivessem
agronegócio, seriadiferente,mas não
têm.Aoutradiscussãoparalelaésobre
o nacionalismo “porque as fronteiras
estariamem risco”; oGeneral alertou
para issoporque“oExércitoédonoda
área”, “dono da nossa fronteira”. A
resposta à sua pergunta passa pela
constatação de que é preciso um
esforçoenormeparaconheceruma
parte ínfima – em termos de popu-
lação – da nossa sociedade.
GRACIOSO
– Roberto, você ad-
mitiriaquea raçaea sociedadebra-
sileira ainda estão longe de chegar
à cristalização, estão em formação,
porque os povos que vieram da
Europa, nos últimos cem anos, só
agora começam, realmente,
a ter um papel dinâmico na
construção do país? Como
você reage a isso?
DAMATTA
–Eunãoconcordo.
Acho que nenhuma antro-
pologia concorda de se falar
em raça, por exemplo. Raça
é uma coisa, cultura é outra.
Em 1933, Gilberto Freire já
“JOSÉDEALENCAR INVENTOU
AQUELES ÍNDIOSDOSÉCULOXIX.”
Imagem: Gilmar Fraga
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