Setembro_2002 - page 70

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Revista daESPM – Setembro/Outubro de 2002
colhasparaapopulaçãoehá, cada
vez mais, preocupação – ou pres-
são – para que se façam as coisas
corretamente. Mas isso é uma ten-
dência e demora; não acontece de
um dia para o outro ou mesmo de
umadécadaparaoutra. Éum longo
processo.
FG – Sem falar de uma ruptura
dramática–coisaquenenhumde
nós considera provável – você
achaqueessa tendênciadeomer-
cado tornar-se cada vez mais
competitivo,maisparecidocomo
que ocorre emoutros países, vai
prevalecer, independentemente
dequemganhar a eleição?
RC –Acho que depende de coisas
quesãomuitomais fundamentaisdo
quequem vai ganhar aeleição. Pri-
meiroemais importante:a regulação
temque ser competentee indepen-
dente;osmecanismospara issosão
fundamentaiseparecequeninguém
presta muita atenção nisso. O go-
verno Fernando Henrique Cardoso
tem feitoum trabalhoextraordinário
eeununcavi ninguémdiscutir oas-
sunto – como deveria ser feito – no
conjuntodasagências reguladoras.
Como devem ser montadas, quem
as integra, como é feito o
revezamentoecomosãomontados
os conselhos, qual a influência do
governo na sua montagem, se os
mandatossão fixosounão, protegi-
dos ou não, se os caras podem ser
demitidos ou não. Enfim, como se
regula e qual é a filosofia da
regulação. Essa questão é absolu-
tamente fundamental e, claro, não
vai entrar na campanha porque, de
115 milhões de eleitores, deve ha-
ver uns 2 mil que acham isso inte-
ressante ou importante. Mas é. Os
eleitores na ESPM, por exemplo,
sabemcomoé importante.Vocêper-
gunta seeuachoquequemganhar
é que vai determinar isso. Mais im-
portantedoqueoqueachaqualquer
dos candidatos é a questão da es-
trutura. Há algumas coisas nessa
equação que considero fundamen-
tais. Primeiro, aquestãodo financi-
amento – de acesso a capital. No
Brasil, estamos, basicamente, num
sistema em que todas as economi-
assãoemprestadasparaogoverno
e não há crédito a longo prazo para
empresasouparaquemquer come-
çar uma. Então, você tem que se
endividar, e o custo do endivida-
mentoébrutal –20, 30, 40, 50%ao
ano, o que torna qualquer negócio
inviável. Oúniconegócioque funci-
ona–eolhe lá–sãodrogas, porque
não há como remunerar o capital
nessa proporção. Então, nosso pri-
meiroproblemaéomercadode ca-
pitais – como passar de dívida para
equity
, como estimular a formação
de capital para investimento?Se se
continuar a tirar todo o dinheiro da
economia, para rolar a dívida inter-
na do governo e remunerá-lo com
20%aoano, queméquevai investir
em ações oumercado de capitais e
naBolsa?Sealguémquerabriruma
lavanderia, uma cadeia de lojas,
como é que se vai financiar?Onde,
como, de que jeito? Isso exigemui-
ta reflexãoeeunãovejo issoem lu-
gar algum, em nenhum programa –
nem se discute. Segundo, nossas
infraestruturas, nossas estruturas
básicas,nossosistema tributário.Ele
atrapalha, complica muito. Leva o
paísparaa informalidade.Temos65
tributos–oualgoassim–navidade
uma empresa hoje. Tente abrir uma
empresa – qualquer que seja – e
vejaoqueoespera.Asimplificação
de tudo isso – e do sistema tributá-
rio – é fundamental. Sempre nami-
nha opinião, continua existindo um
excessodeburocraciaem todoesse
processo. A legislação trabalhista,
queengessaecomplicae,maisuma
vez, leva à informalidade porque o
custo para o empregador é brutal e
a falta de flexibilidade vai contra as
necessidades das oscilações do
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