Maio_2002 - page 99

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Revista daESPM –Maio/Junho de 2002
Entrevista
“Nãodeveriahaver
‘verbas’de
governo,massim
umpercentual,
porexemplo,
0,005%decada
projeto.”
projeto.”
JR–Vamos iniciar aentrevista já
falando sobre comunicação de
governo.Primeiro, vocêachaque
o governo tem obrigação de co-
municar-se com a sociedade?
Segundo, eledeve recorrer apro-
fissionais e agências de propa-
gandapara fazer isso?
Alex –A respostaestánapergunta.
Não sódeve, comonecessita fazer.
Com profissionais – e bem escolhi-
dos–porqueoassuntoécomplexo.
Eu já estava no governo há cinco
meses, e alguém me perguntou o
que tinha-me motivado a aceitar o
convitedeles.Eudissequegostaria
de ver de perto por que não funcio-
nava. Eapessoaperguntou: “Epor
quenão funciona?” Eudisse: vocês
falamdeverbadogovernoquasedo
mesmo jeitoecomvergonha– “ver-
ba federal”, “verba do governo”: as-
pas demais, isso não deveria exis-
tir. Como deveria ser? As estatais
como Banco do Brasil, Petrobras –
enfim, as que têm dinheiro – estão
competindo nomercado e ninguém
faz perguntas. Essa chamada “ver-
ba federal” não deveria existir –
como de fato não existe –, mas, fa-
zer o que faz o mundo privado. A
General Motors, a Volkswagen, a
Ford têm um delta da venda ou do
faturamento para a comunicação.
Você se lembra: a Danone usava
poucomais que3%do faturamento
para as campanhas. Automóveis
usam poucomenos de 1% de cada
carro. E ninguém discute. Não de-
veria haver “verbas” de governo,
mas sim um percentual, por exem-
plo, 0,005% de cada projeto. O go-
verno temumprojetoeexplicapara
nós, povo, que projeto é esse, para
que serve, quando vai ficar pronto.
Se o governo não tem projeto, não
tem o direito de gastar um centavo
sequer. Vou dar um exemplo. Um
dia, ogovernobrasileiro fezumcon-
trato com os norte-americanos, de-
pois de uma concorrência que os
norte-americanosganharam.AFran-
çacompetiu,masacabouperdendo.
Era um projeto chamado Sivan e o
contrato era de U$1,4 bilhão. Se ti-
vessehavidoumprofissional danos-
sa área na reunião – três segundos
antes donorte-americanoassinar –,
ele faria a seguinte pergunta: “Do
dinheiro do projeto aprovado vocês
reservariam0,005%paracomunicar
aos brasileiros oqueéesseprojeto
Sivan? O que isso significa? Para
que serve? Quando fica pronto?
Qualocustodisso?”Eosnorte-ame-
ricanos teriamdito: “Yes, Sir.” Enós
teríamos uma campanha lícita. E
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