Julho_2006 - page 23

Lívia
Barbosa
e Letícia
Veloso
25
julho
/
agosto
d e
2 0 0 6 – Revista da ESPM
-
-
Leticia, Veloso
PH.D emAntropologia pela
Universidade deChicago, EUA
Pesquisadora do IUPERJ
LiviaBarbosa
Doutora emAntropologiaSocial
peloPPGA/UFRJ
Mestre emCiências Sociais pela
Universidade deChicago/EUA
Pesquisadora doCAEPM/ESPM
Professora doDepartamento de
Antropologia daUFF
dade homogêna e autocontida. To-
dasasgeneralizações feitasao longo
das entrevistas sobre um país ou
outro foram sempre acompanhadas
de uma relativização posterior que
sinaliza para o reconhecimento de
umapolissemiadadanavida social.
Mas issonãosignificaqueeles façam
uma distinção clara entre cultura e
sociedade, ao contrário, naprática,
uma é equacionada à outra.
A cultura e a diferença são predo­
minantemente apreendidas através
das práticas cotidianas no trabalho.
Noções de tempo e espaço, de in-
tensidade dos contatos sociais, de
hierarquias implícitas e explícitas
entre ou-tras são os elementos mais
comumente citados para descrever
comoooutro se comporta, e sãoos
parâmetrosatravésdosquais secons-
trói a idéiade “nós”edos “outros”.
Mesmo sendo uma amostra bem
pequena, os brasileiros apresenta-
ram ênfases interessantes em seus
discursos. A noção de cultura utili-
zadaapresenta fortes influênciasan-
tropológicas.Termoscomo
códigos
,
regrasde interpretaçãoda realidade
são utilizadosmais do que
hábitos
,
costumes
,
modos de fazer
. A dife-
rença cutural é percebida como
oportunidade de enriquecimento
pessoal edeaprendizagemeocon-
tatoentre“osdiferentes”nãoé feito
apartirdeumpontofixonoespaço,
ou seja, “de onde eu sou mas de
ondeestou”.Portanto, apropostada
relação intercultural édemediação,
éde“chegaraooutro”devagar,pelo
estabelecimento de pontes, pela
compatibilização de agendas, pela
complementaridade. Comoumdos
executivos com larga experiência
falou: “eu sempre me pergunto o
que eu posso acrescentar para que
tudodê certo. Euquero alcançar os
meus objetivos semmudá-los, ape-
nas fazendo com que eles utilizem
o que eles têm demelhor”.
Quando chegamos às comparações
concretasdesociedadesentresi,avisão
doBrasilsurgebastanteestereotipadano
caso dos estrangeiros. As percepções
sobre nós reproduzem receitas do gê-
nero“nãoobedecemprazos,”“nãosão
proativos“, “não falam claramente”,
entreoutras.Osbrasileirostambémdes-
crevemosoutros atravésdeoposições,
masmenos focadas nas faltas e carên-
cias.Termoscomo“elespreferem”, “se
você souber lidar com eles” indicam
uma percepção da diferença menos
etnocêntrica, menos traduzida emais
mediatizada.
3.
Observações
Finais
Inúmeras outras percepções pode-
riam ser apresentadas para ilustrar,
a partir dos diferentes materiais, as
diversaspercepçõesdediferença que
circulam no ambiente de negócios
transnacionais. Entretanto, o limite
deespaçonosobriga terminar.Antes,
contudo, gostaríamos de enfatizar
alguns aspectos. Primeiro, quando
comparamososmateriaisentresi,fica
claro o contraste entre o que os sites
nos dizem e as entrevistas. A prática
destes executivos parece fornecer
uma visão menos estereotipada da
diferençaedarelação interculturaldo
que a norte-americana e, aomesmo
tempo, menos politicamente correta
doqueaalemã.Algumaspercepções
indicam um claro processo refle-
xivo destes executivos sobre as suas
respectivas experiências, o que os
tornam informantes extremamente
importantesnoentendimentode todo
oprocesso. Poroutro lado, opapel e
adinâmicadoprocessodeconstrução
das identidades, bem como odacul-
turadenegóciosedaorganizacional,
nãosãoclarosparaelesnasoperações
cotidianas,nemos limitesqueambas
impõem à relação intercultural. A
maioria destes executivos percebe a
polissemia da vida social e sabe que
nem sempre ummesmo modelo se
adaptaa todas as situações.
Mas, talvez o dado mais importante
extraído desta etapa da análise foi a
necessidadedeentendimentodos pro-
cessosde relações interculturaisatravés
decasosconcretosquepossibilitarãoo
desenvolvimentodeprogramasdepre-
paraçãodeexecutivosmaisemsintonia
com uma ótica brasileira. Namedida
emqueoprocessode internacionaliza-
ção da economia aumenta, aumenta,
também,apreocupaçãodaescassezde
materiais que permitam uma reflexão
sobreo temaedecursoseescolasque
permitam oferecer parâmetros para o
entendimento dos mecanismos socio-
culturais.Nestecontexto, pareceexistir
umenormecampoaserexplorado.
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