Maio_2005 - page 21

Como nasceu o
Conar
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REV I STA DA ESPM–
S E T EMB RO
/
OU T U B RO
D E
2005
1. Nessa maravilha de concisão que é a língua
latina, a frase original nos ensina que “Nunquam
se plus agere quam nihil cum ageret, nunquam
minus solus esse quam cum solus esset”.
2. A designação da entidade e a sigla CONAR
fizeram parte de meu trabalho. Nos primeiros
tempos, o nome era “Comissão Nacional de Auto-
Regulamentação Publicitária” e eu sempre
lembrava aos companheiros que não deviam
referir-se ao CONAR e sim à CONAR, cuidado esse
que mais tarde se tornou desnecessário, mas
muita gente se refere ao próprio Código como
sendo “o CONAR”, quando esta sigla cabe ao
Conselho, e não ao Código.
3. Designação dada por Freud.
ouviam o carão.
Deixa o comercial transparecer que
osdoiscasaiseramvelhosconhecidos
que não se viam há muito tempo e
que, ante a convocação da diretora,
tiveramaoportunidadedesereencon-
trar. No fecho do comercial, pais e
filhosreúnem-senuma lanchonetedo
anunciante – afinal, oMcDonald´s é
que estava pagando o comercial –
para festejar o reencontro.
Contrariamente ao que acontecera
comapeçadaArtex, ocomercial do
McDonald´s foi “condenado” com a
penalidademáxima, istoé,serretirado
doar, porumavotaçãode8a6.
Oleitorjáterápercebidoqueeuemais
cincocompanheirosnãoparticipamos
dessa “condenação”. Éramos, todos
nós,profissionaismilitantesnaáreade
Criaçãoouque,comoeraomeucaso,
haviam ingressadonaPublicidadepor
aquilo que eu sempre designo como
“a porta estreita da Redação”.
Para encerrar o ano, a diretoria do
CONAR e os membros das diversas
câmaras reuniram-se num agradável
almoçodeconfraternizaçãonaprópria
sededaentidadee, embora ferindoas
normas e regimentos, pedi licença ao
presidenteFurquimparareabriraquestão
emtornodocomercialdoMcDonald´s,
muitoembora, comoeu já suspeitava,
não fosse possível reverter a votação
queocorreramomentos antes.Alfredo
de Carvalho Filho, Arthur Amorim,
Christina Carvalho Pinto, Fernando
Camargo e Magy Imoberdorf me
acompanharam entusiasticamente na
defesadocomercialonde,entreoutras
coisas,éramosunânimesemconsiderar
que a confraternizaçãona lanchonete
e a degustação de sua comida de
matéria plástica, era antes um castigo
queumprêmio...
Em suma, o comercial nos pareceu
absolutamente inocente e nele não
víamos nenhumaofensagraveàau-
toridade dos professores e diretores
de escolas,mesmoporque a educa-
ção e as boas maneiras daqueles
perversos polimorfos dependem
muitomais dos pais e de seu amor
pelas criançasdoquedos currículos
escolares...
Apreocupaçãoqueexpressei, ao rea-
brir, durante o almoço, a questão do
McDonald´s não foi (e não é) a de
sermos tachados de “censores”, mas
sim – e talvez isso seja até pior – de
sermos acusadosde
caretas
.
O que ficou subjacente (e realmente
importante) nesse julgamento foi a
dualidadedeposiçõesdedois grupos
que, inevitavelmente, compõem o
CONAR,comoqualqueroutraentida-
de associativa: de um lado, pelo
menos segundo minha própria clas-
sificação, colocam-se os “con-
servadores”; do outro, os “criativos”.
Se, de uma parte, está o CONAR
constantemente sendoalvodecríticas
da Criação por estar exercendo
“censura”, temos de admitir que os
criativosmais esclarecidos (oumenos
rebeldes) procuramentender eacatar
as decisões do Conselho como uma
autêntica e salutar ação de auto-
disciplina. É a tessitura da sociedade,
e com ela temos de conviver. Mais
uma vez justificando o título deste
artigo, esta rápida anatomia. Dois
processosque tramitaramnoCONAR
dão bem amedida de como é difícil
julgarosaspectossubjetivosdoresultado
ES
PM
últimoemaiordenossaatividade,que
outranãoé senãoaCriação, pontado
iceberg
detodootrabalhodesenvolvido
pelas agências, contando com a a-
provaçãodosclientesmaisesclarecidos
e, emmuitos casos, audaciosos.
Para concluir, não possome furtar à
tentação de comentar que o nosso
Códigoseressentedeumaspectoque,
até agora, ainda não foi considerado:
trata-se da questão do
bom gosto
na
publicidade, embora reconheça que,
emmatéria de subjetividade, é um
pratocheio...Entendo,porém,quemais
cedo ou mais tarde teremos de
inscrever,emnossovaliosoinstrumento
de autodisciplina, esse aspecto fun-
damental.
Reconheço,ainda,queaspectoscomo
bom gosto
e também
qualidade
são
de extrema delicadeza e complexi-
dade. Não é sem boas razões que o
Oxford Companion toMusic
dedica
umas cincoou seispáginas àquestão
de
qualidade
namúsica.
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