Maio_2005 - page 12

Artur
DaTavola
17
S E T EMB RO
/
OU T UBRO
DE
2005 –REV I STA DA ESPM
JR
– Entrevistei o JoãoUbaldo e ele
disse que as pessoas “cansam” das
coisas.CansamdaGuerrado Iraque,
cansam da CPI, cansam de New
Orleans,ede repente isso resultaem
que não resulta. O assunto vai
morrendoaospoucos.
ARTUR
–Exatamente.Acompetição
entre canais, jornais etc. leva o
jornalista a uma ânsia do furo, que
operanaquela linhadequeeu falei:
transforma o indício em sintoma, o
sintomaem fato, fatoem julgamento,
julgamento em condenação, muito
rapidamente. Então as pessoas já
ficam com a posição tomada,
enquantooprocessodaapuração da
verdade é mais lento, mesmo em
CPI´s.
JR
– Será que não é por isso que o
pessoal diz “tudoacabaempizza”?
Opessoalcansaevaiparaapizzaria,
“vamosmudardeassunto”.
ARTUR
–Oque até não é verdade.
Nãoéverdadeque “tudoacabaem
pizza”, mas tudo entra no ritmo da
apuraçãopela justiça,queéumritmo
próprio, com estudos profundos, há
milênios, em relação ao direito de
defesa.NocasodoBrasil, issoépior,
porque temos uma justiça sem
recursosmateriaisparaagircommais
rapidez. Aí entra a questão da crise
do Estado, que não tem os recursos
para, numpaís com185milhõesde
habitantes, ter um organismo
judiciário capaz de abarcar o sem-
númerodeconflitosqueapopulação
vive,umapopulaçãodesse tamanho.
Sem contar que oBrasil cresceu80
milhõesdepessoasnosúltimos trinta
anos. Lembra que eram “noventa
milhõesemação”?
JR
– Issomesmo,amúsicadoMiguel
Gustavo.
ARTUR
– Do Miguel Gustavo, de
quemtiveahonradeseramigo.Trinta
anos depois, estava com oitenta
milhõesamaise, senósvoltarmosa
1950 – cinqüenta e poucos anos -,
era metade disso. Essa explosão
populacional gerou uma forma de
caosnasociedade,osníveisculturais
ficaram extremamente diferentes, o
Estado entrou em falência, foi o
períododa inflação, e operíododa
urbanização, o período da
comunicação... Então, há um
acúmulode
inputs
, que não geram
uma quantidade necessária de
insights
, háumadefasagementreos
inputs
e os
insights,
então é uma
grandegeléiageral.
JR
– Falamos da “grande mídia”; a
gente sabe que está nas mãos das
grandes corporações. Aí surge um
negócio meio inesperado que hoje
junta 600 milhões de pessoas no
mundo todo, crescendo, e que é a
Internet...
ARTUR
–Comousuárioda Internet,
tenhopensadomuito sobre isso, até
tenhotidovontadedeescrever.Penso
que a Internet é a vitória do anar-
quismo. O anarquismo, que não
conseguiuuma vitória política, mas
que era uma teoria extremamente
interessante, numa prática absolu-
tamentepossível,acabou imperando
neste instrumentochamado Internet.
Ela não tem governo, não tem
nenhummecanismo coercitivo em
quase nada, a não ser quando os
países coagem os servidores, os
provedores; ela contém ao mesmo
tempoo luxoeo lixo,enumapropor-
ção esmagadora, que não permite
nem se fazer uma hierarquia de
valores. Por exemplo, nomundo cá
fora, do jornalismo tradicional, seja
pela cabeça dos jornalistas ou não,
criaram-se hierarquias: existe a
AcademiaBrasileiradeLetras,existem
os grandes escritores, os grandes
atores,osgrandesmúsicos.A Internet
tem modelos de comunicação
fechados, repletos de sintonia entre
pessoas, mas que não tem
repercussão “cá fora”. Não existe
nenhumorganismocapaz,ainda,de
avalizareanalisar,qualéo tamanho
da repercussão, qual o tamanhodas
coisas, qual a profundidade dessa
repercussão. Não existe como
aprisioná-la, por exemplo, pela
pesquisa.Têm-sealgunsindicadores,
comoaquelenúmerodepessoasque
entramno
site
,masnuncasepoderia
fazer, por exemplo, uma pesquisa
qualitativanaInternet.Noentanto,ela
temos seus príncipes. Por exemplo,
naáreade literatura–eucoleciono,
inclusive,
sites
deliteraturaeestouem
alguns–,é impressionanteovolume
dematerialproduzido.
JR
–Quando você falade literatura,
falade ficçãodisponívelpela rede?
ARTUR
–Não apenas de
links
para
livrosqueestãoemdomíniopúblico,
mas
sites
literários, inclusive
internacionais–euparticipodedois
sites
queestãonoBrasileemPortugal.
A Internet parece ser inaprisionável;
é imprevisível, absolutamente livre.
Eu falei literatura, mas poderia falar
demúsica, o que existe de
sites
de
música não é pouca coisa; poderia
falar emartesplásticas, pintoresque
já expuseram seus quadros na
Internet,hámuitagentepintandoem
1...,2,3,4,5,6,7,8,9,10,11 13,14,15,16,17,18,19,20,21,22,...111
Powered by FlippingBook