Maio_2005 - page 7

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REV I STA DA ESPM–
S E T EMB RO
/
OU T U B RO
D E
2005
qualosenhormepagae,seeuchegar
alémdademissão,éburricedaminha
parte, porqueéburricedeixar de ter
uma coluna no
O Globo
. Então
vamos fazer o seguinte: eu fico na
linhadademissão,eosenhorresolve,
senãovou ficarmeautocensurando”.
Eledisse:“Não,nãoébem isso”,des-
conversou um pouco e mudou de
assunto. Falamos deoutras coisas e,
no final,disseparamim,batendono
meuombrocarinhosamente:“Vamos
fazerumacoisa?Mudade tom,muda
de tom...”
JR
–Dizasmesmascoisas,masmuda
de tom.
ARTUR
–Devo termudado,devo ter-
meaprimorado.Comeceiaevitarum
poucooproblema,experimentando
umaespéciedeanálisesemiológica,
com palavras simples. Falava sobre
personagens,apartepsicológica,tudo
numenvoltóriodenaturezatelevisual
e,aomesmo tempo,mesoltavaana-
lisando um personagem de novela,
coisas dessa ordem. As crônicas
começaram a dar certo. A minha
terceira grande experiência foi na
Bloch, onde havia uma pressão de
outranatureza.Foinoperíodoemque
dirigi Fatos e Fotos. Toda matéria
política tinha de passar peloMurilo
MeloFilho.Eumandavaoqueman-
dava.Eradanaturezadaorganização
não criticar o Governo, porque ti-
nhammuito interessenaquestãoda
Gráfica.OMuriloeraumapessoade
bom-senso, representavao interesse
da empresamas, aomesmo tempo,
eramuitocorretocomigo.Mashavia
umcertocerceamento.Maistarde,fui
chamado para escrever no
ODia
,
ondeestouatéhoje,hádezoitoanos.
Àsvezes falodepolítica,masnunca
pelo ângulo político-partidário, é
crônica livre,eusouamaisantigadas
pessoas contratadas na chamada
“nova fase de
ODia
”. Nunca, no
jornal, fizeram-me restrição.Apenas
umavez lá,umeditorcomentouque
eu não falava na Rádio das Orga-
nizações. Foi aúnicavez.No
ODia
tenho liberdade total.
JR
– Como político, você era de
esquerda. Seus amigos não o
acusavam de se ter “vendido ao
sistema”, por estar escrevendono
O
Globo
?
ARTUR
–Quemlesseomeutextonão
veria essa razão. Mas eu tive esses
problemas,enfrentei-osváriasvezes
ao longodos anos emqueeuestive
lá.Mastinha,comodisse,duasformas
de escapar do problema: uma era
fazer a crônica sobre a vida dentro
do texto da televisão; e outra era
escrevermuitosartigos teóricossobre
comunicação,sobre televisão,sobre
rádio, sobre propaganda. Foi um
período em que eu tivemuito inte-
resse pela comunicação, estudei, e
tambémdei aulanaEscolaSuperior
dePropagandaeMarketing–naPraia
deBotafogo.Comeceiaestudar Jung,
e a aplicar muitas das idéias dos
arquétiposdo inconscientecoletivo,
dos tipos psicológicos, não sobre a
psicanálise,jáqueeunãoeramédico,
mas sobreacomunicação. Cheguei
a fazer palestras sobre as idéias de
Jung,queseprestamàsmilmaravilhas
àcompreensãodacomunicação.O
livro
Tipos psicológicos do
Jung,
ajustava-seàperfeição,àquestãodos
arquétipos do inconsciente coletivo
igualmente, então tornei-me um
cronistameioeclético. Issonuncame
trouxe “prestígio intelectual” no
sentido da academia, das univer-
sidades.Academia,nunca,porquea
academiaolhao jornalismo também
como“segundaqualidade”.
JR
–AAcademia tendeaolhar todo
mundoquenão é acadêmicodessa
forma.
ARTUR
–Quemnãoéacadêmicoé
inferior. Mas alguns professores
usavam meus textos – cheguei a
escrever alguns livros sobre comu-
nicação,quevenderam,naépoca.Ao
mesmo tempo, essa tradução
semiológica–queeu faziacompala-
vras simples – o público apreciava.
Por uma diferença fundamental:
ARTUR
–Acheigraça,acheiumgesto
curioso dele. O Roberto Marinho,
mesmoescrevendono jornaldelee,
várias vezes, criticando a televisão
dele,nãocerceouaminha liberdade
de imprensa. Quando ele ficava
zangado,asvezesquenosencontrá-
vamos no elevador, ele não me
cumprimentava.Erasinaldequenão
estavagostando...
JR
– Estava perto da linha de
demissão.
ARTUR
–Maselenuncamedemitiu
porcausadisso.
JR
–Vocêmudoude tom?
“SOU PRÉ-
HSITÓRICO, FUI
CASSADO 1964.”
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